Brasil volta a ‘temas do passado’ ao discutir juros e CMN ‘erra’ ao não revisar metas, diz SPX, de Rogério Xavier

Gestora também afirmou que é preciso ter metas "factíveis" e que as atuais são "ambiciosas demais"

Bruna Furlani

Rogério Xavier, da SPX, durante evento da XP (Divulgação/XP)

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O embate travado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o nível elevado de juros e a defesa aguerrida de governistas por mudanças nas metas de inflação ganharam força nos últimos dias.

Em carta mensal, a gestora SPX, do renomado gestor Rogério Xavier, fez duras críticas ao sistema atual de metas de inflação.

“Precisamos ter metas factíveis e as atuais são ambiciosas demais”, disse. “Nesse sentido, acho um erro o CMN [Conselho Monetário Nacional] não revisitar o tema e reavaliar o custo para sociedade de perseguir uma meta de inflação tão difícil de ser alcançada”, emendou.

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Na avaliação da gestora, o momento é propício para a autarquia reavaliar os objetivos colocados ao Banco Central. “O ideal é que o CMN não espere até junho para alterar a meta de inflação. Essa alteração deveria ser feita logo”, diz a casa.

O Conselho se reúne nesta quinta-feira (16). Será o primeiro encontro feito após a eleição de Lula.

Para a casa, não é possível ter um Banco Central fazendo política monetária mirando uma meta que as pessoas “sabem que será alterada”. “Quanto mais tempo o governo demorar para definir as novas metas, mais difícil será para ancorar as expectativas em torno desse novo valor”, resume a gestora.

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A SPX justifica que as metas são estabelecidas com uma antecedência de cerca de três anos. “A verdade é que muito tempo decorre entre hoje e 2026”, alerta.

Para citar como exemplo, a gestora diz que quando as metas de inflação de 2023 e 2024 foram estabelecidas, os agentes não sabiam que iria ocorrer uma guerra, ou uma crise sanitária provocada pela Covid-19.

A casa lembra que todos esses choques de oferta e demanda foram muito intensos e de duração prolongada, e acrescenta que o próprio regime fiscal foi “completamente alterado” nos últimos três anos.

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“Portanto, seria razoável que o CMN fizesse uma reavaliação da meta fixada e do custo de o Banco Central persegui-la”, destaca. “De que adianta ter uma meta que já se sabe que não poderá ser cumprida? Não seria mais razoável uma reavaliação das metas inflacionárias estabelecidas? Colocando-as numa trajetória crível, assim como fizemos em 2003?”, questiona a gestora.

Após uma série de polêmicas envolvendo a discussão sobre mudanças nas metas, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, buscou aclarar alguns rumores em entrevista dada ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de ontem (13).

Leia mais:
• Campos Neto diz que mudança de meta da inflação pode gerar efeito ser oposto ao desejado

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Ao programa, Campos Neto disse que não estuda uma mudança na meta de inflação, hoje fixada em 3,25% para 2023, com uma banda de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

“Nós não estudamos mudança de meta. Nós não entendemos que a meta é um instrumento de política monetária”, afirmou.

O presidente também destacou que uma alteração na meta em um momento de desconfiança de agentes econômicos poderia gerar o efeito oposto ao desejado pelo governo, ao dificultar o afrouxamento da política monetária em prazo mais curto.

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“Se você aumenta a meta em um momento como esse, em que a meta está um pouco desancorada, o que vai acontecer é o seguinte: os economistas e os analistas vão projetar uma meta que é igual à nova meta, mas como a meta foi aumentada em um momento em que você não está atingindo a meta, ela vai pedir um prêmio de risco maior ainda. Então, você não só não vai ganhar flexibilidade, como vai perder, disse.

Emendou: “Se fizermos uma mudança agora, sem ter um ambiente de tranquilidade e um ambiente em que estejamos atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é que você vai ter o efeito contrário ao desejado. Em vez de ganhar flexibilidade, você pode terminar perdendo flexibilidade”.

Mesmo com a contrariedade manifesta por Campos Neto, teoricamente ainda é possível que o tema seja colocado em discussão na reunião do CMN desta quinta-feira (16). O órgão é composto pelo presidente do BC e pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB).

Posições

Além do Brasil, a casa chamou a atenção para a política monetária americana. Segundo a gestora, tudo apontava que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) seria capaz de reduzir e talvez até encerrar o ciclo de aperto monetário antes do esperado.

A SPX, porém, afirmou que, ao longo de fevereiro, divulgações do mercado de trabalho conjugadas com dados de serviços mostraram uma economia resiliente e com um mercado de trabalho ainda mais apertado do que se previa.

Nesse sentido, a casa diz que a expectativa de que o último aumento dos juros americanos ocorresse em maio pode “não se materializar”. “Podemos ter o Banco Central americano estendendo o ciclo por mais tempo do que anteriormente previsto. O nível, obviamente, também seria maior do que o pensado. As consequências para o mercado seriam bem negativas”, completa a gestora.

De olho nesse cenário, a SPX afirmou que está com uma posição que se beneficia da queda dos juros nos países em que a casa acredita que o próximo grande movimento será de queda dos juros. Ao mesmo tempo a gestora disse que manteve algumas posições tomadas (que se beneficiam da alta) em taxas nos países atrasados no ciclo de aperto monetário.

Já em câmbio, a gestora disse que está com posições em moedas de países emergentes e desenvolvidos. No portfólio de ações, a casa destacou que está com alocações concentradas em posições relativas em mercados emergentes.

Em termos de mudança, a SPX afirma que zerou posições que se beneficiam da queda (vendidas) em índices corporativos do mercado de crédito dos EUA e que permanece comprada (que se beneficia da alta) em papéis de duração curta e em papéis high yield (maior retorno e maior risco) de alta qualidade.

Já no mercado de crédito emergente, a casa detalha que aumentou o risco por meio da alocação em bonds (títulos de dívida) com preço atrativo. “Continuamos focando nos setores de energia e petróleo”, afirma a gestora.

Outra mudança envolve a redução de uma posição vendida em instrumentos líquidos como índices – movimentos que levaram a uma maior exposição direcional no mês.

Já em termos de commodities, a casa disse que está sem posições relevantes.

No mês de janeiro, o SPX Nimitz obteve um retorno de 1,81%, ante um CDI de 1,12% no mesmo período.

A contribuição positiva para a performance do fundo veio do mercado de juros, enquanto as contribuições negativas vieram dos mercados de ações, crédito, commodities e moedas.