Bolsas no Brasil e nos EUA estão caras e “não haverá boia dos BCs para suportar desaceleração”, diz Guerra, da Legacy

O que deve sustentar o Ibovespa pelos próximos meses com Selic elevada é a vinda dos investidores estrangeiros, para CIO da Legacy

Bruna Furlani

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O ambiente de manutenção das dinâmicas inflacionárias e de juros mais elevado por mais tempo devem levar a uma desaceleração global e tornar a vida dos investidores de renda variável mais difícil. Nesse caso, a solução será vender Bolsa (apostar no recuo nas ações), na visão de Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital.

“Não vai ter boia dos BCs para suportar a desaceleração quando ela vier”, afirmou o executivo, ao destacar que vê as Bolsas da Europa, Estados Unidos e Brasil como “caras”.

A fala do especialista ocorreu durante painel do evento Macro Vision 2022, organizado pelo Itaú BBA nesta quinta-feira (8), que contou também com Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset Management, e Rodrigo Azevedo, CIO da Ibiuna Investimentos.

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Segundo ele, o que deve sustentar a Bolsa pelos próximos meses durante um período em que a Selic se mantiver em patamar elevado é a vinda dos investidores estrangeiros, que estão aparecendo.

Esse fluxo de capital estrangeiro para a Bolsa, no entanto, não deve seguir intenso ao longo de todo o ano. Guerra acredita que a vinda é parte de uma “janela”. “Quando a cozinha estiver bem suja, eles não vão olhar para o vizinho”, ao fazer referência à recessão que os Estados Unidos e outros países devem sofrer e que deve afastar os investimentos do Brasil.

Stuhlberger, da Verde, por sua vez, afirma que está com uma alocação em Bolsa brasileira, mas a posição é bem baixa, em torno de 15% – ou seja, inferior aos cerca de 30% que a casa manteve em anos anteriores.

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Ao justificar a posição, o CEO da Verde alega que “nenhum portfólio funciona quando entra um governo populista”, como vem se desenhando a linha de governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para ele, as sinalizações apontam que a política econômica que será adotada terá uma proximidade maior com o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) do que com a do primeiro mandato de Lula.

Quem também está mais receoso com a Bolsa brasileira e disse que está adotando posições mais de “trading“, ou seja, com foco mais tático, é Azevedo, da Ibiuna. Ao contrário de Guerra, o especialista defende que há prêmio na Bolsa, mas que “o dinheiro está mais nos juros e em câmbio”, sem detalhar muito as posições.

Ao falar sobre os juros, o especialista disse acreditar que o BC deu ênfase à palavra serenidade em sua última reunião, em que manteve a taxa de juros em 13,75% na quarta-feira (7), o que foi uma postura acertada. Para Azevedo, que já foi diretor do Banco Central, a autoridade monetária precisa esperar um pouco para tomar uma atitude porque o juro está alta e a inflação desacelera.

“A barra para subir o juro no Brasil é alta”, observa o profissional. Para ele, por enquanto, os números não são suficientes para fazer o BC elevar os juros.

Já ao ser questionado sobre os efeitos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição sobre a política monetária, Azevedo respondeu que está menos preocupado com o tamanho do impulso fiscal e mais de olho se vai voltar o formato de crédito subsidiado por parte do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

“Se tiver crédito subsidiado, o corte de juros vai ser empurrado para frente. Se não tiver, ele [BC] não sobe o juro”, avalia o ex-diretor do Banco Central.

Inflexão nos portfólios

Embora esteja um pouco menos preocupado com o tamanho do rombo, Azevedo não nega que o Brasil pode desperdiçar a oportunidade de se aproveitar do fluxo que poderia vir com a reversão dos portfólios, que deve ocorrer no ano que vem.

Na visão do profissional, a história desse ano é de aperto monetário e aceleração da inflação, o que tem ajudado a fortalecer bastante o dólar contra outras moedas.

Porém, a tendência é de que isso seja revertido. “O movimento que vimos nas últimas quatro semanas é que o pico dos juros e da inflação ficou para trás. Isso pode ser mais favorável para ativos de risco e emergentes”, destaca Azevedo.

De olho nessa inflexão, ou seja, no momento em que os BCs começarem a cortar os juros, ele diz que o Brasil poderia se beneficiar, mas que as atitudes tomadas pelo País remam na direção contrária. “Se o cenário virar e fizermos o mínimo na parte fiscal, a gente poderia se beneficiar. Mas isso não é o que parece que vai ocorrer”, observa.

Para ele, tudo indica que o governo de Lula será mais parecido com a forma de governar adotada entre 2012 e 2015, em que o cenário foi marcado por períodos de juros altos e de crescimento baixo.