Bolsa: o que fazer com seus investimentos nesta crise? Especialistas respondem

Confira as orientações de Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, e Vitor Miziara, responsável pela área de alocação da Criteria Investimentos

Ana Paula Ribeiro

SÃO PAULO – De olho nas dúvidas de investidores sobre os mercados acionários e as oportunidades de investimento em ações no atual cenário de crise, o InfoMoney conversou com Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos (confira mais aqui), e Vitor Miziara, responsável pela área de alocação do escritório Criteria Investimentos.

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A iniciativa faz parte da campanha InfoMoney Orienta, que tem como objetivo ajudar os leitores a se planejar e decidir o que fazer com suas aplicações finaceiras em um contexto turbulento para os mercados, diante da pandemia de coronavírus.

Você também pode enviar suas perguntas e comentários para o e-mail orienta@infomoney.com.br ou utilizando a hashtag #InfoMoneyOrienta no Twitter e no Instagram.

As dúvidas serão analisadas por especialistas financeiros e as respostas serão publicadas nos próximos dias no site, no Instagram, no Twitter e no canal no Youtube do InfoMoney.

Os mercados vêm passando por uma forte deterioração nas últimas semanas. O que justifica a rápida mudança nas expectativas e a maior volatilidade?

Fernando Ferreira: Para desacelerar novos casos, as soluções têm sido quarentenas, suspensão da produção em fábricas, cancelamento de eventos, viagens e fechamento de fronteiras. Isso desacelera a curva de crescimento do coronavírus, mas tem impacto na atividade econômica.

Os economistas não falam mais se teremos uma recessão global, mas por quanto tempo e quão dura ela será. Vamos ter uma restrição da demanda e da oferta, já que muitas cadeias de produção estão sendo impactadas. E há uma preocupação com o crédito. As empresas que estão parando a produção podem ter dificuldade de pagar suas dívidas ou funcionários.

Os governos já anunciaram algumas medidas para lidar com as consequências econômicas do coronavírus, mas ainda assim a resposta dos mercados não foi positiva. Por que isso acontece?

FF: Um dos motivos que leva a essa reação negativa é que, apesar dos estímulos de liquidez e corte de juros, os restaurantes não vão abrir e os voos não vão voltar. Tudo isso tem um impacto pequeno na destruição de demanda. A política monetária é pouco efetiva nesse cenário.

Outro ponto é que as medidas tomadas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano, que anunciou dois cortes de juros e mais de US$ 1 trilhão em medidas de liquidez) indicaram que o cenário pode ser pior que o imaginado inicialmente, elevando a aversão ao risco.

Muitos investidores estão assustados com a sequência de quedas. O que é melhor fazer nesse momento?

FF: Um estudo elaborado pela XP, que considerada crises ocorridas nos últimos 20 anos, mostra que pode ser uma estratégia ruim vender as ações após quedas significativas. Isso porque, no médio e longo prazo, o preço dos papéis se recupera e alcança um retorno superior ao de uma aplicação conservadora (CDI). Quem mantém essas aplicações ou aumenta a exposição em ações, comprando mais, consegue recuperar as perdas registradas durante o período de crise.

A Bolsa já chegou ao seu fundo? É o melhor momento para começar a comprar?

FF: A Bolsa ainda pode cair um pouco mais. Quando olhamos cenários de recessão global, vemos que a Bolsa cai entre 45% e 50%. Até o momento [a entrevista foi feita no dia 17/03], o Ibovespa caiu cerca de 40%. É um bom momento para o investidor começar a comprar ações, mas ele deve fazer de forma gradual.

A Bolsa das Filipinas suspendeu suas negociações após as perdas consecutivas. Isso pode acontecer em outros mercados?

FF: No mercado americano, as Bolsas foram fechadas após os atentados de 11 de setembro. Era um momento de mercado muito disfuncional e com as pessoas reclusas em casa. Fechar só porque o mercado está em queda, como agora, não faz sentido.

Um extremo desse cenário seria a decisão, por razões de saúde pública, de obrigar os profissionais desse mercado a ficarem reclusos em casa. Uma conexão residencial não seria suficiente para lidar com o volume de transações e, dessa forma, as Bolsas poderiam fechar.

E com a Bolsa chegando perto do seu fundo, quais ações ou setores sofreram menos?

FF: Consideramos algumas companhias como defensivas. Elas são mais ligadas ao cenário interno. Nessa lista, é possível citar Telefonica Brasil, Engie e RaiaDrogasil. O mercado já está fazendo essa distinção e esses papéis estão sofrendo menos que outros setores.

O mesmo vale para o setor elétrico, que são empresas boas pagadoras de dividendos, com um dividend yield [parcela do lucro que é distribuída aos acionistas] de mais de 6%, e que se mostram uma alternativa em um cenário em que a Selic está em 3,75% ao ano.

Com a redução das incertezas causadas pelo coronavírus, quais papéis podem ser atrativos?

FF: Depende do horizonte de investimento. Se for de longo prazo, as ações de commodities caíram muito em meio à expectativa de uma recessão global, que reduz a demanda por matérias-primas. Nesse cenário, Vale, Petrobras e JBS devem continuar sofrendo, mas devem se recuperar entre 12 e 18 meses.

No curto prazo, a XP sugere ações mais ligadas ao ciclo interno. Ambev, que possui caixa elevado, e Banco do Brasil, que teve uma queda forte recente. Outros papéis indicados são Engie, Cyrela, Iguatemi, Ecorodovias, Localiza e Via Varejo.

Muitos investidores pessoas físicas entraram na Bolsa nos últimos meses e se depararam pela primeira vez com uma forte queda. Isso pode afastá-los do mercado de renda variável? Os fundos de investimento mostram algum tipo de fuga?

FF: Esse movimento ainda não foi registrado. Pelo contrário, alguns fundos mostram aportes. A questão hoje é o custo de oportunidade. A Selic está em 3,75%. Nesse cenário, o investidor olha para ações que caíram mais de 40% e enxergam a chance de conseguir um retorno melhor quando olham para os próximos dois anos. O investidor pode usar essa oportunidade para buscar mais informações e ver as oportunidades em vez de se desesperar e vender o que tem.

A volatilidade no mercado de opções (direito de comprar ou vender um ativo a um preço pré-determinado) de ações está menor do que no mercado à vista. Por que isso acontece?

Vitor Miziara: Esse mercado está sem liquidez. O preço de uma opção leva em conta a volatilidade, a taxa de juros e o preço do próprio ativo. Como o mercado de juros está muito volátil, os “market makers“, que são os profissionais que compram e vendem os ativos para dar liquidez a esse mercado, estão menos atuantes. Sem essa contraparte, o volume das operações cai.

Alguns fundos de ações apresentam perdas expressivas. Há o risco de um fundo quebrar?

VM: É muito difícil isso acontecer. A exceção seria um fundo muito alavancado. No entanto, os principais gestores, quando a volatilidade do mercado começou a subir muito, optaram por reduzir o risco. A decisão de sacar ou não depende da confiança que se tem no gestor e, para isso, é bom observar qual foi o comportamento dele durante e após crises anteriores

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Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney