BlackRock vê Brasil em situação mais confortável na América Latina e aponta mercado de renda fixa como atrativo

Em ações, Axel Christensen, estrategista-chefe de investimento na América Latina da BlackRock, enxerga maiores oportunidades de retomada na Ásia

Beatriz Cutait

Axel Christensen, estrategista-chefe para a América Latina da BlackRock

SÃO PAULO – Atento às medidas monetárias e fiscais anunciadas no mundo até agora e à espera de seus desdobramentos sobre as economias, Axel Christensen, estrategista-chefe de investimento na América Latina da BlackRock, se prepara, assim como outras instituições, para uma recessão no primeiro semestre, mas avalia que uma forte recuperação poderá ser vista a partir de 2021. Tudo depende da evolução da própria epidemia de coronavírus, mas também das políticas que têm sido implementadas.

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Em entrevista ao InfoMoney, Christensen, que fica baseado em Miami, assinalou que o Brasil pode estar em uma situação mais confortável que os vizinhos, dada a dependência de outros países do petróleo ou por sua fragilidade econômica antes da crise.

Ainda que investidores estejam atualmente recorrendo a ativos mais seguros, como os Treasuries americanos, o estrategista espera uma virada em algum momento para papéis de maior risco, o que poderá beneficiar o mercado brasileiro.

“O Brasil está apresentando uma posição muito atrativa no mercado de juros. No curto prazo, as taxas estão muito baixas, mas, olhando para a parte média e longa da curva, o mercado está definitivamente com um rendimento atrativo”, afirmou.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Qual a avaliação da BlackRock sobre a dimensão dessa crise e o cenário-base para as economias?

Estamos em uma situação ambígua: é uma crise de saúde, uma pandemia muito séria, não só porque está causando um aumento do número de mortes no mundo, mas também porque é muito difícil de conter. Essa é a parte mais importante. E, em segundo lugar, há consequências econômicas.

Nossa avaliação é que, se não virmos um número negativo nos primeiros dois trimestres deste ano, será muito perto. Provavelmente estamos vendo uma recessão no primeiro semestre do ano. Será que veremos certa contenção da epidemia no fim deste semestre ou no início do próximo ano?

Dependendo das medidas econômicas que temos visto por bancos centrais e do lado fiscal, poderemos estar preparados para uma forte recuperação. Talvez não nos leve ao nível antes da crise, mas as coisas podem se alinhar para alguma recuperação no fim do ano. Dependemos de certas condições para isso acontecer. Em primeiro lugar, a epidemia precisa estar de certa forma contida.

Em resumo, será uma recessão muito muito forte, esperamos que curta, e veremos se as políticas econômicas em curso vão nos ajudar a recuperar. Mas a retomada será bem desorganizada, nem tudo vai se recuperar imediatamente, e alguns setores provavelmente terão muito mais desafios e danos permanentes.

O que pode ser feito para conter a crise em termos de medidas monetárias e fiscais? O que é mais eficiente?

Os bancos centrais têm sido muito proativos, acho que aprenderam muito com as crises de alguns anos, e vieram com medidas muito fortes. O foco agora está no balanço de riscos. Vimos intervenções significativas, o que o Fed anunciou esta semana é praticamente uma intervenção ilimitada.

O que os bancos centrais fizeram é muito importante, porque não podemos ter uma recuperação econômica muito forte sem os mercados financeiros funcionando de maneira apropriada. O que estamos vendo na combinação de políticas econômicas é essencial. Precisamos dos bancos centrais provendo continuidade de crédito. Ele está disponível e agora a parte mais difícil é se as ações de políticas fiscais serão efetivas.

E como fica a situação dos mercados emergentes neste contexto?

Infelizmente os mercados emergentes certamente terão uma situação difícil por vários aspectos, como em relação a quão dependentes são do crescimento global. Como a economia caminha para uma recessão, exportadores de insumos e commodities serão afetados.

O petróleo é um caso específico, porque, além da redução do preço, teve uma questão de Arábia Saudita e Rússia jogando os preços para níveis inimagináveis, machucando ainda mais economias emergentes dependentes da commodity, várias delas na América Latina, como Venezuela, Equador e Colômbia.

Há também o contágio financeiro, com um movimento muito grande de risk off machucando os ativos financeiros dos mercados emergentes. E algo que é bastante crítico para os emergentes são as moedas.

O real desvalorizou significativamente em relação ao dólar, com um impacto sobre a economia real e sobre a volatilidade dos mercados.

Dessa forma, infelizmente, se há um grande impacto em mercados desenvolvidos, há dois ou três tipos em emergentes. E, acima de tudo, não há necessariamente o mesmo espaço do lado fiscal para ajudar as economias a se recuperarem. Esses países já têm níveis elevados de endividamento, com déficits antes da crise.

A bolsa brasileira tem perdido mais que outras e há uma grande preocupação com a economia. Qual é a avaliação da BlackRock sobre o país neste momento?

Depende um pouco do perfil do investidor. Por exemplo, um investidor global está olhando para o Brasil neste momento com a visão de que o país não está em uma situação perfeita, mas está de certa forma estável, pelo menos alguns problemas que já deixaram o investidor nervoso tiveram progressos, com o programa fiscal em curso pelo governo. Não é perfeito, não é totalmente o recomendado, mas mudou um pouco a visão da coisas.

Alem disso, os juros já estavam baixos e as pessoas tiveram tempo para digerir, e uma taxa de câmbio mais enfraquecida ajudou.

O Brasil está apresentando uma posição muito atrativa no mercado de juros. No curto prazo, as taxas estão muito baixas, mas, olhando para a parte média e longa da curva, o mercado está definitivamente com um rendimento atrativo.

Pelo lado de ações, talvez para quem tiver um universo mais amplo para escolher, vemos que a América Latina em geral, Brasil inclusive, está parecendo menos atrativa em termos de recuperação do que a Ásia. Mas os valuations, que foram uma preocupação no Brasil no início do ano, certamente voltaram a níveis muito mais atraentes.

Se olharmos só para a região da América Latina, em base relativa, provavelmente o Brasil tem uma posição mais atrativa que países mais dependentes do petróleo ou países que já entraram nessa situação de pandemia com uma economia mais fraca.

Se você pudesse dar um conselho para o investidor neste momento, o que recomendaria?

Este é um bom momento para investidores entenderem de verdade seu perfil. Algumas vezes, quando o mercados está normal, ou, mais ainda, quando é um ótimo ano, como no ano passado, muita gente acredita que pode tolerar níveis de risco mais altos. E essas pessoas chegam a uma situação em que não estão dormindo bem, estão muito nervosas, não conseguem racionalizar e se segurar aos fundamentos da companhias.

Acho que esses investidores devem se sentar com seus assessores financeiros ou quem quiserem para reconsiderar seu verdadeiro perfil de risco. E entender que os mercados hoje não refletem necessariamente os fundamentos de longo prazo.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.