Proposta de gestão ativa em FII que aluga imóveis ao BB incomoda grupo de cotistas; o que está em jogo?

Investidores minoritários do BB Progressivo II reclamam de possíveis mudanças; majoritários querem mais agilidade nas negociações do fundo

Wellington Carvalho

Publicidade

O fundo de agências bancárias BB Progressivo II (BBPO11) discute na próxima semana medidas que podem mudar o perfil – e até o nome – do fundo. As mudanças, porém, estão colocando investidores minoritários e majoritários em lados opostos em um acalorado debate.

Em operação desde agosto de 2012, o fundo nasceu com a proposta de alugar imóveis para o Banco do Brasil (BBAS3). Hoje, a carteira é dona de 64 áreas locados para a instituição financeira em diversas regiões do País.

No entanto, investidores com mais de 5% das cotas do BBPO11 estão propondo a flexibilização do regulamento da carteira em relação ao aluguel e à compra e venda dos imóveis, tornando a gestão do fundo mais ativa – com maior liberdade para as negociações.

Continua depois da publicidade

A mudança é o principal item da assembleia geral extraordinária (AGE) convocada pelo fundo para o próximo dia 31. O tema divide opiniões entre os investidores, mas é visto como positivo pela gestão.

“Vai aumentar a capacidade da gestão de realizar negócios favoráveis ao fundo”, diz Silvia Benvenuti, gestora do BBPO11. “Entendemos que esta pauta é super relevante, importante e vai trazer muito mais agilidade para a carteira”.

A opinião da gestora, porém, não convenceu parte dos investidores do BB Progressivo II, que considera as mudanças prejudiciais para o futuro do fundo.

Continua depois da publicidade

Leia também: 

Para minoritários do BBPO11, flexibilização é “cavalo de troia”

Um grupo de cerca de 350 pequenos investidores do BBPO11 reclama da proposta que será discutida na AGE do fundo e sugere a rejeição do texto.

Segundo um deles, que preferiu não se identificar, o regulamento do fundo já permite o aluguel ou a venda de imóveis para outros inquilinos – desde que os espaços não estejam ocupados pelo Banco do Brasil, como cita o item 3.3 do documento, reproduzido abaixo:

Publicidade

Fonte: Regulamento FII BBPO11

Na AGE, os investidores decidirão pela substituição deste trecho do regulamento por outro que autoriza a administradora da carteira, “a seu exclusivo critério, alienar os ativos a qualquer tempo – inclusive se o Banco do Brasil estiver lá dentro”.

Além disso, acrescenta o representante do grupo de minoritários, a flexibilização vai retirar do documento o ponto que condiciona a venda de um ativo ao preço sugerido no laudo de avaliação do espaço.

“Isso é um cavalo de troia. Se for aprovado, os imóveis poderão ser vendidos a preço de banana e com o Banco do Brasil como inquilino”, alerta. “A mudança só interessa aos que podem ter a expectativa de comprar os imóveis do fundo pagando um preço muito abaixo do de mercado”, sugere.

Continua depois da publicidade

Leia também: 

Grandes investidores defendem a proposta

A proposta para a flexibilização do regulamento do BBPO11 partiu do Hedge Top FoF 3 (HFOF11), um FII que investe em cotas de outros fundos imobiliários e possui uma fatia de 11% no BB Progressivo II.

Procurada pelo InfoMoney, a gestão do fundo não se manifestou, alegando estar em período de silêncio por conta de nova emissão de cotas do fundo.

Publicidade

No último relatório gerencial, os gestores do HFOF11 reforçaram o direito de solicitar a convocação da AGE – concedido a qualquer investidor com mais de 5% das cotas de um FII – e defenderam a proposta de uma gestão mais ativa da carteira.

“Em nossa visão, o regulamento atual do BBPO11 contém fortes limitações de atuação ao administrador, reduzindo sua liberdade de gestão”, destaca o texto. “[A flexibilização] permitiria uma otimização de seu resultado e de sua distribuição de rendimentos periódicos”.

De acordo com o HFOF11, o regulamento atual do BB Progressivo II também contém artigos com redação dúbia e até mesmo contraditória. O modelo pode gerar disputas sobre a correta interpretação da capacidade de agir do administrador, alerta a gestão do Hedge Top FoF 3.

Leia também: 

FIIs de gestão passiva perdem espaço no mercado

Um dos maiores especialistas em fundos imobiliários do País, Arthur Vieira de Moraes, do Clube FII, considera vantajosas as mudanças propostas para o BBPO11.

“Respeito a opinião e o desejo de quem quer manter a gestão passiva dos fundos, mas eu prefiro que os FIIs tenham gestão ativa”, afirma. “[É preciso oferecer] à gestão a oportunidade de reposicionar o patrimônio do fundo, fazer vendas estratégicas, comprar novos ativos e diversificar inquilinos”.

Moraes sinaliza que há uma tendência cada vez mais forte de redução dos FIIs de gestão passiva no mercado. Hoje, o modelo – voltado mais para a gestão dos imóveis que já estão no portfólio – responde por apenas 2% do mercado.

Além disso, o especialista compara o atual debate do BBPO11 ao que ocorreu com o Rio Bravo Renda Varejo (RBVA11) – antigamente chamado de FII Agências Caixa (AGCX11]).

O fundo, que até 2018 só alugava imóveis para a Caixa Econômica Federal, também passou por uma alteração de regulamento e apostou na gestão ativa, realizando a reciclagem do portfólio – ou seja, mudança na composição da carteira de ativos. A transformação abriu espaço para locações de inquilinos de outros segmentos, como varejo, restaurante e vestuário.

“A estratégia vem sendo executada de forma constante há mais de dois anos e já gerou mais de R$ 36 milhões em lucro e um total de R$ 117 milhões de ativos vendidos”, aponta relatório gerencial do RBVA11.

Com quase 46 mil cotistas, o RBVA11 tem hoje 75 imóveis, que somam um patrimônio líquido de R$ 1,2 bilhão e uma área bruta locável (ABL) de 195 mil metros quadrados.

Na AGE do BBPO11, os cotistas também discutirão a mudança de nome do fundo – que passaria para Tivio Renda Imobiliária – e a possibilidade de negociar os imóveis via permuta financeira.

Leia também: 

Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.