Batalha contra investidor “vendido” leva bilionário indiano a sair da lista dos dez mais ricos do mundo

Hindenburg Research revelou suposto "esquema descarado de manipulação de ações e fraude contábil ao longo de décadas" no Adani Group, de Gautam Adani

Equipe InfoMoney

Gautam Adani, do Adani Group (Foto: Kalpit Bhachech/Dipam Bhachech/Getty Images)

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Uma semana foi o tempo necessário para que um relatório da firma de investimentos Hindenburg Research tirasse o bilionário indiano Gautam Adani do topo da lista de pessoas mais ricas do mundo.

A batalha começou na última terça-feira (24), quando a Hindenburg Research divulgou um relatório revelando o que chamou de “um esquema descarado de manipulação de ações e fraude contábil ao longo de décadas” no conglomerado Adani Group, liderado pelo bilionário.

Segundo o relatório, a investigação – que levou dois anos para ser concluída – envolveu entrevistas com ex-executivos da Adani, análise de milhares de documentos e outras pesquisas. Entre as alegações, o documento afirma que o grupo usou empresas de fachada offshore ligadas à família de Adani para inflar os preços das ações, segundo a agência Associated Press.

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O relatório listou 88 perguntas para Adani responder – e reforçou que, mesmo ignorando as denúncias da investigação, as ações das sete empresas de capital aberto do grupo embutem um  potencial de queda (downside) de 85%, considerando apenas os seus fundamentos.

No documento, a Hindenburg Research – que se define uma companhia especializada em pesquisa financeira forense – afirma que possui posições vendidas (beneficiadas pela queda dos ativos) em empresas do Adani Group, por meio de títulos de renda fixa negociados nos Estados Unidos e derivativos negociados fora da Índia, país-sede do conglomerado.

Em seu site, a firma destaca que toma decisões de investimentos em ações, crédito e derivativos com base na análise fundamentalista, mas diz que os resultados mais relevantes vêm “da descoberta de informações difíceis de encontrar em fontes atípicas”. Por isso, se foca em empresas que possam apresentar uma combinação de irregularidades contábeis, pessoas mal-intencionadas em funções de gestão, transações com partes relacionadas não divulgadas, práticas ilegais ou antiéticas de relatórios financeiros, além de problemas regulatórios não divulgados.

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O imbróglio levou a um intenso movimento de venda das ações do Adani Group, eliminando US$ 68 bilhões do seu valor de mercado. Com isso, Gautam Adani registrou uma perda de patrimônio pessoal de US$ 34 bilhões – sua fortuna agora é estimada em US$ 84 bilhões, o que o tirou do quarto lugar e o colocou no 11º no índice de bilionários da Bloomberg.

No último fim de semana, Adani respondeu à Hindenburg dizendo que o relatório foi um “ataque calculado” à Índia e suas instituições, enquanto seu CFO comparou a queda do mercado de suas ações a um massacre da era colonial, informou a CNBC.

Como réplica, a Hindenburg afirmou que “a fraude não pode ser ofuscada pelo nacionalismo ou por uma resposta exagerada que ignora todas as principais alegações que levantamos”. O documento com as respostas de Adani tinha 413 páginas.

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Apesar da desconfiança levantada pelas acusações, a Adani Enterprises – carro-chefe do grupo – conseguiu concluir uma oferta de ações de US$ 2,5 bilhões nesta terça-feira, segundo a CNBC e o Financial Times. O sucesso da operação era considerado crítico, não apenas por possibilitar a redução da dívida da empresa, como também por representar um voto de confiança do mercado indiano.

A oferta (um follow-on, ou oferta subsequente) foi integralmente subscrita principalmente por investidores institucionais estrangeiros, enquanto a participação de investidores de varejo e funcionários da Adani Enterprises foi pequena.

O conglomerado Adani envolve atividades como minas de carvão na Austrália a grandes portos na Índia, com uma capitalização de mercado superior a US$ 200 bilhões. As ações de algumas das empresas subiram 2.000% nos últimos três anos, segundo a agência AFP.

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Se as ações continuarem caindo, Adani pode perder o posto de pessoa mais rica da Ásia para Mukesh Ambani, seu rival e presidente da Reliance Industries, outro dos maiores conglomerados corporativos da Índia.