Bancos regionais dos EUA voltam ao radar e elevam a volatilidade na renda fixa global

Pesquisa da XP com sete grandes gestoras internacionais indica que, apesar de o diagnóstico majoritário descartar risco sistêmico, o ambiente de juros elevados mantém o setor vulnerável.

Osni Alves

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Os episódios recentes envolvendo bancos regionais nos Estados Unidos recolocaram o sistema financeiro no centro das atenções e se tornaram o principal fator de tensão para os mercados globais de renda fixa.

Pesquisa da XP com sete grandes gestoras internacionais indica que, apesar de o diagnóstico majoritário descartar risco sistêmico, o ambiente de juros elevados mantém o setor vulnerável a choques localizados de liquidez, capazes de provocar reprecificações rápidas de ativos e sustentar a volatilidade.

O levantamento, realizado entre 17 e 28 de novembro com casas como JP Morgan Asset Management, Oaktree, Morgan Stanley IM e Wellington, mostra que 57% das gestoras avaliam os episódios como casos isolados, sem contágio estrutural.

Ainda assim, 43% enxergam potencial de disseminação pontual, sobretudo entre instituições menores, mais sensíveis à marcação a mercado e ao custo de financiamento em um ciclo prolongado de juros altos.

Mesmo entre os gestores que tratam os eventos como “ruído”, prevalece a avaliação de que o tema pode voltar a pressionar os mercados caso a ponta longa da curva americana siga estressada. Uma parcela menor demonstra desconforto adicional, ao alertar que parte dos riscos pode ainda não estar totalmente refletida nos spreads de crédito.

Apesar das tensões, o consenso é de que não há deterioração estrutural do sistema bancário americano. Os problemas observados decorrem principalmente de falhas de gestão e balanços fragilizados, mas reforçam a percepção de que, em um ambiente de juros elevados, choques pontuais continuam suficientes para gerar volatilidade relevante.

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Crescimento dividido e inflação ainda resistente

No cenário macroeconômico global, a pesquisa revela uma divisão clara entre os gestores. Enquanto 43% projetam crescimento moderado, próximo ao consenso, outros 43% apostam em uma surpresa positiva da atividade nos próximos 12 meses.

Apenas uma minoria espera crescimento fraco, ainda que sem recessão, evidenciando a incerteza típica de um momento de transição do ciclo monetário.

Em relação à inflação, a visão predominante é de manutenção em patamar moderado, porém acima das metas dos bancos centrais, pressionada por fatores estruturais e pelo aumento de tarifas no comércio global.

A hipótese de reaceleração no segundo semestre é minoritária, mas mantém o alerta de que cortes prematuros de juros podem reacender pressões inflacionárias.

A política monetária segue marcada pela divergência entre regiões. Para 72% das gestoras, os Estados Unidos avançam no ciclo de cortes, ainda que de forma mais cautelosa, enquanto a Europa tende a manter juros elevados por mais tempo e a Ásia enfrenta dinâmicas distintas.

Essa fragmentação reduz a previsibilidade e aumenta a volatilidade da curva longa, reforçando a importância da diversificação entre mercados.

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Nesse contexto, a gestão ativa ganha peso para os investidores, especialmente em fundos internacionais, diante de movimentos abruptos de juros e leituras macro cada vez mais assimétricas.

Crédito global entra em fase mais madura

A leitura para o crédito global aponta um ciclo mais avançado, no qual a seletividade volta a ser decisiva. Cerca de 43% das gestoras projetam abertura gradual dos spreads nos próximos meses, refletindo a desaceleração econômica e condições financeiras mais restritivas.

Ainda assim, 29% veem espaço para compressão seletiva, sobretudo em emissores de maior qualidade.

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Uma minoria alerta para o risco de abertura mais abrupta dos spreads em caso de novos episódios de estresse bancário ou choques fiscais, risco que permanece no radar diante da volatilidade da curva americana e das incertezas fiscais nos EUA.

O posicionamento recente reflete esse equilíbrio: redução de duration e reforço de liquidez convivem com rotação para crédito defensivo e aumento tático de risco em ativos com prêmios atrativos.

No curto prazo, a principal preocupação segue sendo a reprecificação negativa da duration longa, mais do que um aumento generalizado de defaults, que ainda é visto como risco localizado.

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EUA concentram oportunidades, mas exigem cautela

Quando o assunto são oportunidades, os Estados Unidos concentram a preferência das gestoras globais. O mercado americano combina carrego elevado, assimetrias na curva de juros e profundidade no crédito corporativo.

Mercados emergentes seguem no radar de forma seletiva, restritos a países com fundamentos sólidos e spreads acima da média histórica.

Para um novo ciclo global de maior apetite a risco, o principal gatilho apontado é uma queda consistente da inflação americana, capaz de ancorar expectativas e aliviar a pressão sobre os juros longos.

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Cortes coordenados de juros e melhora do crescimento global também aparecem como catalisadores relevantes.

Em síntese, a pesquisa indica que a renda fixa global volta a oferecer oportunidades atrativas, mas em um ambiente que exige disciplina, leitura cuidadosa de liquidez e análise criteriosa de crédito.

Em meio à divergência monetária e à volatilidade prolongada, a gestão ativa se consolida como peça-chave para capturar assimetrias sem comprometer o perfil de risco dos portfólios.