Bancos e gestoras globais como Citi, Goldman Sachs, Fidelity e Nordea suspendem negócios e se desfazem de investimentos na Rússia

Movimento ocorre na esteira da invasão da Ucrânia e das sanções impostas à economia russa, principalmente pelos Estados Unidos e por nações europeias

Alexandre Rocha

Fonte: Getty Images

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Assim como empresas petrolíferas, indústrias e varejistas, instituições financeiras internacionais estão interrompendo seus negócios na Rússia e, na medida do possível, se desfazendo de investimentos no país. O movimento ocorre na esteira da invasão da Ucrânia e das sanções impostas à economia russa, principalmente pelos Estados Unidos e nações europeias, e inclui grandes bancos, seguradoras e gestoras globais de fundos de investimentos.

Na segunda-feira (14), por exemplo, o Citigroup anunciou que não vai buscar novos clientes na Rússia e que pretende cortar sua exposição ao país. A medida veio depois que outros dois gigantes dos Estados Unidos – Goldman Sachs e JP Morgan Chase – tomaram decisões semelhantes na quinta-feira (10). O Deutsche Bank, maior banco alemão, seguiu o mesmo caminho na sexta-feira (11).

O Citi é o banco americano com maior exposição à Rússia, cerca de US$ 10 bilhões, e portanto é o mais sujeito a ter um prejuízo considerável com a saída. O Goldman tinha por volta de US$ 650 milhões em títulos de dívida russos no final de 2021.

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Grandes bancos dos EUA já haviam reduzido seus negócios no mercado russo depois da invasão da Crimeia, em 2014, com exceção do Citi. Na mesma linha, o Deutsche Bank informou ter reduzido significativamente sua presença no país a partir de 2014.

Antes da invasão da Ucrânia, o Citi já havia decidido vender seus negócios de varejo na Rússia. “Agora nós decidimos expandir o escopo do processo de saída para incluir outros negócios”, disse o vice-presidente executivo do banco para assuntos globais, Edward Skyler, segundo a agência Reuters.

Tanto o Goldman Sachs quando o JP Morgan informaram que vão encerrar gradualmente suas operações na Rússia, “de acordo com os requisitos regulatórios e de licenciamento”, segundo o Goldman. “Nós não podemos deixar de ver a situação pelo que ela é: a invasão de um estado soberano”, declarou o CEO do Goldman, David Solomon, de acordo com o jornal americano The New York Times.

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“Como alguns de nossos pares internacionais e em concordância com obrigações legais e regulatórias, nós estamos em processo de encerramento de nossos negócios restantes na Rússia, ao mesmo tempo em que ajudamos nossos clientes multinacionais não russos a reduzir suas operações no país”, informou o Deutsche Bank em comunicado.

No norte da Europa, a Nordea Asset Management, sediada em Copenhague, também anunciou no início de março que excluiria investimentos russos – incluindo títulos do governo e de empresas, além de ações – da carteira. “A Nordea está em processo de redução de sua exposição à Rússia há algum tempo e, em linha com a decisão de exclusão, continuará a fazê-lo na medida do possível”, informou em comunicado. Todos os fundos da gestora são abrangidos na decisão, informou.

Papéis “invendáveis”

A BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, com quase US$ 10 trilhões sob gestão, anunciou a suspensão da compra de qualquer papel russo a partir de 28 de fevereiro. A empresa informou também que tem solicitado aos formuladores de índices de mercado que retirem ações e títulos da Rússia de seus indicadores, sendo que alguns começaram a retirá-los na semana passada.

A britânica Abrdn comunicou a suspensão da compra de títulos russos e a redução da exposição ao país. A francesa Carmignac e as americanas Fidelity International e Brandes Investment Partners também colocaram papéis da Rússia sob moratória. Várias gestoras globais seguem na mesma direção.

“Nós vamos continuar consultando ativamente os órgão reguladores, formuladores de índices e outros participantes do mercado para auxiliar nossos clientes a sair de suas posições em títulos russos, quando e onde as condições regulatórias e de mercado permitirem”, disse a BlackRock em nota.

De acordo com o jornal britânico Financial Times, a invasão causou perdas de US$ 17 bilhões à BlackRock, cujos clientes detinham US$ 18,2 bilhões em ativos russos até o final de janeiro.

Segundo o FT, o fechamento dos mercados na Rússia e as sanções tornaram muitos dos papéis “invendáveis”, o que fez com que a gestora marcasse os títulos com baixo valor. Com isso, a exposição ao país caiu para cerca de US$ 1 bilhão, ou 0,01% dos ativos geridos pela empresa. A Bolsa de Valores de Moscou segue fechada por determinação do banco central do país.

Em alguns fundos, exposição à Rússia é pequena

O head de Alocação e Fundos da XP Investimentos, Rodrigo Sgavioli, acompanha os passos de gestoras estrangeiras que têm fundos disponíveis na plataforma da corretora. A lógica delas é parecida: assumir desde logo um provável desfalque dos papéis russos e marcá-los com valores próximos a zero, computando desde logo o prejuízo.

Sgavioli não crê, porém, em grandes baques nos desempenhos dos fundos disponíveis na plataforma, pois a exposição deles à Rússia é pequena – varia de 2% a 5%. Apenas um deles, o  Western Asset Macro Opp Dólar, tem exposição próxima a 10%. “São fundos pulverizados, de maneira que nenhum ativo machuque tanto o portfólio”, observou.

Segundo Sgavioli, os fundos analisados têm como referência majoritariamente o índice MSCI Emerging Markets, com participação próxima a 3% de papéis russos e sem presença significativa de títulos ucranianos. “Os mercados emergentes já não vinham muito propícios e vários fundos estavam sofrendo um pouco”, declarou.

Nesse sentido, a guerra nos países eslavos veio a agravar uma tendência de desaquecimento iniciada no final do ano passado. “Alguns fundos conseguiram reduzir posições na Rússia, mas não zerá-las”, afirmou o analista. “Com as sanções, as gestoras não podem nem negociar com suas contrapartes russas”.

Outros fundos disponíveis na plataforma com alguma exposição à Rússia são Ashmore EM Equity Advisory, Pimco Income, Wellington Schroders Gaia e JP Morgan ESG Emerging Markets Advisory.

De acordo com Sgavioli, de modo geral, estas gestoras preferem ser conservadoras e considerar que já houve uma perda total com os ativos russos. “A situação é muito fluida, muda a cada momento”, comentou. Se quando os papéis puderem ser negociados, não tiverem desvalorizado tanto quanto se imagina, melhor.

O analista destaca que nenhum dos fundos de gestoras internacionais distribuídos pela XP estão com restrições a aplicações ou resgates.

Em outros, dinheiro fica “preso”

Não é o que acontece com outros fundos globais. Gestoras e bancos europeus e americanos suspenderam os resgates de carteiras com ampla exposição ao país eslavo.

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Segundo a Reuters, alguns exemplos são os franceses Amundi e BNP Paribas, o britânico HSBC e o suíço Pictet, entre outros. De acordo com o FT, pelo menos 22 gestoras “congelaram” fundos centrados na Rússia, incluindo JP Morgan, BlackRock, Franklin Templeton, UBS, Schroders, Liontrust, Danse Bank e East Capital. A diferença aí é o grau de exposição ao país.

A Reuters informou que investidores, bancos e empresas internacionais estão com pelos menos US$ 131 bilhões em ativos “presos” na Rússia, sendo R$ 60 bilhões em ações e títulos pertencentes a fundos mútuos e ETFs (Exchange Traded Funds, fundos de índices listados nas bolsas). Entre as gestoras com grande exposição estão as norte-americanas Capital Group, Vanguard e Pimco.

Ainda de acordo com a Reuters, a Barings zerou o valor das ações russas em seu fundo de mercados emergentes EMEA Opportunities Trust. As suecas Carnegie e Handelsbanken também “congelaram” seu fundos expostos à Rússia. A Agência de Pensões da Suécia suspendeu ordens de compra de quatro fundos russos disponíveis em sua plataforma de negociação

Como ficam os investimentos internacionais?

No caso dos fundos distribuídos pela XP, lembrando que a exposição à Rússia é baixa, Sgavioli recomenda que os investidores evitem “demonizar” investimentos no exterior e não façam mudanças radicais nas carteiras. “Cuidado com os extremos. Se a pessoa acredita que ter uma exposição global é importante, não pode deixar de pensar assim da noite para o dia”, afirmou.

É possível que as economias dos Estados Unidos e de países europeus não tenham o desempenho esperado anteriormente, e os retornos sejam “mais magros”. Fazer alguma ajuste na carteira é até recomendável, mas não uma modificação profunda, pois excesso de movimentação gera custos.

Sgavioli lembra que antes da guerra a Rússia era considerado um mercado perfeitamente “investível”, às vezes disputando com a o Brasil a atração de capitais internacionais, então exposição ao país eslavo não significa erro dos gestores, se eles agiram de acordo com o mandato do fundo.

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney