As apostas de gestores de fundos de previdência na crise; confira os melhores

Bolsa local é acompanhada com um pouco mais de cautela pelos gestores de fundos de ações e multimercados, que têm dado preferência às ações americanas

Lucas Bombana

(Getty Images)

SÃO PAULO – Com posições em dólar e ações americanas e um olhar mais cauteloso em relação à Bolsa local, os fundos de previdência de gestoras independentes ainda sofrem com as marcas deixadas pela volatilidade de março, mas já começam a retomar a trajetória positiva anterior à pandemia.

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E embora o CDI tenha representado um obstáculo desafiador no período mais recente, foram poucos os produtos que não bateram o Ibovespa, diante da magnitude de sua queda.

Considerando o momento mais crítico da crise, a partir de 21 de fevereiro, até 18 de maio, de uma base de 145 fundos de previdência da categoria multimercados livre – que engloba carteiras que podem navegar dentre as mais diversas classes de ativos, como ações, moedas e renda fixa, segundo classificação da Anbima –, apenas 12, ou 8,27%, bateram a variação de 0,81% do CDI no período, segundo dados da Economatica. Em compensação, 137 deles, ou 94,4%, superaram o Ibovespa, que caiu 28,6% no período.

Já em maio, até o dia 18, de uma base de 152 fundos multimercados – alguns desses veículos nasceram recentemente, por isso a quantidade de fundos do período é um pouco maior do que a anterior –, 102, ou 67,1%, superaram o CDI (com variação de 0,13%). Por outro lado, apenas 21, ou 13,8%, conseguem bater a alta de 0,86% do Ibovespa no mês até aqui.

Em um período mais abrangente, de 12 meses, em que o rendimento do CDI foi da ordem de 5,0%, e partindo de uma base de 100 fundos de previdência multimercados, o percentual dos que bateram o índice de referência da renda fixa corresponde a 45%. E apenas um (Gauss Mapfre Juro Real FIFE FIM, com queda de 12,53%) perde do Ibovespa, que cai 9,8% no período.

Neste intervalo de um ano, destaque para os multimercados previdenciários da Dahlia Capital e da Ibiuna Investimentos, que sobem 19,7% e 16,4%, respectivamente, e para o fundo da JGP com alocação em crédito privado, que avança 13,4%.

Confira a seguir os dez multimercados de previdência de gestoras independentes com os maiores retornos nos últimos 12 meses encerrados em 18 de maio.

Na categoria de renda variável, desde o início da crise, de uma amostra com 32 fundos, 19 deles, ou 59,3%, tiveram desempenho superior ao do Ibovespa. Já em maio, até o dia 18, são apenas 13 fundos, ou 42% do total, que batem o benchmark. E, em 12 meses, dos 20 fundos de previdência de ações da amostra, apenas dois perdem do referencial.

Em um ano, o destaque fica por conta da Truxt, que ocupa as duas primeiras posições dentre os previdenciários mais rentáveis de ações, com ganhos acumulados de 13% e 8,6%.

A seguir, a lista com os dez fundos de previdência de renda variável de casas independentes que tiveram o melhor desempenho no período de um ano, até 18 de maio.

Na Ibiuna Investimentos, após capturar boa parte do fechamento das taxas de juros, tanto no Brasil como em outras regiões, as principais apostas da casa estão voltadas para o dólar e para tirar proveito das atuais distorções na oferta de prêmio de juros no vértice de prazo intermediário da curva local de renda fixa, conta Caio Santos, sócio responsável pela área de relações com investidores.

A gestora também tem uma posição “comprada” (aposta na alta) no índice americano S&P 500 e “vendida” (aposta na queda) na Bolsa brasileira. Enquanto nos mercados mais desenvolvidos a situação começa a apontar para uma gradual normalização, nos emergentes, observa o especialista, ainda não se sabe se o pior já passou ou não, tendo ainda o Brasil o agravante da crise política. “Não estamos com pressa de voltar a tomar risco”, afirma Santos.

O sócio da Ibiuna explica que o fundo de previdência segue a mesma estratégia dos demais fundos multimercados da casa. “A maior diferença entre eles está no nível de alavancagem que podemos assumir, que ainda é mais restrita nos fundos de previdência.”

Foco na liquidez

Na Canvas Capital, o sócio responsável pela área de relações com investidores, Felipe Niemeyer, diz que o fundo de previdência também tem adotado uma postura mais cautelosa desde o carnaval.

Assim como na Ibiuna, a Canvas tem optado por proteções em dólar, além de estar aproveitando os polpudos prêmios na parte intermediária da curva de juro real, isto é, em papéis com retornos atrelados à inflação.

Mesmo na Bolsa local, a gestora também tem mantido alguma exposição. Próxima dos 80 mil pontos, e analisada sob uma ótica de médio e longo prazo, há valor a ser capturado com as ações brasileiras, na visão dos gestores da casa.

“Temos investido na Bolsa via índice, até por uma questão de liquidez”, afirma o executivo da Canvas. Pelo foco em ativos mais líquidos, o fundo de previdência e o Enduro, que é a estratégia original, não operam o mercado de crédito privado, uma das especialidades da gestora.

De 21 de fevereiro a 18 de maio, o fundo Canvas Enduro Icatu Prev recua 6,52%, mas sobe 4,47% em 12 meses.

Niemeyer reconhece que há alguma limitação no fundo de previdência pela menor alavancagem, mas ressalta que as restrições são marginais.

Alinhamento global

Na Occam Brasil, a rentabilidade do fundo de previdência, levemente negativa em 0,06% na crise, mas com alta de 8,8% em 12 meses, não foi melhor porque o fundo não tem, por ora, as mesmas posições no exterior que o multimercado que o rege, explica Isabel Ramos, estrategista de ações da gestora.

Essa situação, no entanto, está com os dias contados. A Occam Brasil está estruturando um fundo local que seguirá exatamente a mesma estratégia global do multimercado e que terá suas cotas compradas pelo de previdência, diz Isabel.

Em linha com os pares do mercado, a Occam Brasil optou por uma postura mais defensiva nos últimos meses. Para isso, fez posições no dólar e reduziu a parcela de ações do portfólio, para manter os níveis de volatilidade dos fundos condizentes com seus mandatos. “A decisão evitou que perdêssemos dinheiro de forma significativa”, diz Flávio Machado, sócio fundador da gestora.

Já a curva de juros, que trouxe bons resultados recentemente, não atrai mais após o fechamento das taxas. Com a falta de oportunidades na renda fixa e as incertezas sobre o crescimento da atividade econômica, a Occam Brasil tem se voltado para operações de valor relativo com ações brasileiras, com maior otimismo com empresas de e-commerce e exportadoras.

Mas a exposição direcional na carteira de ações da gestora, explica Machado, está concentrada nas ações americanas, em que deposita maior confiança.

Taxa de carregamento

Na Occam Brasil, assim como na Ibiuna Investimentos e na Canvas Capital, o fundo de previdência não cobra taxa de performance.

Portanto, sob uma ótica de médio e longo prazo, ele oferece um beneficio em relação ao multimercado que o baliza, já que, no longo prazo, o rendimento entre os dois tende a ser parecido, diz Machado.

A taxa de administração do fundo de previdência da Occam Brasil é de 2% ao ano, enquanto o Equity Hedge segue a clássica receita de 2% de administração com 20% de performance sobre o que exceder o CDI.

Já a Alaska Asset, que conta em sua grade de produtos com fundos de previdência sem taxa de performance, prepara um novo veículo que passará a ter essa cobrança.

“Os investidores do fundo antigo poderão continuar nele”, explica Acácio Roboredo, diretor jurídico e de compliance da Alaska. Já para novos investidores, estará disponível apenas o produto com taxa de performance. Roboredo acrescenta que a criação do novo veículo busca uma uniformidade da grade de produtos da casa dentre os fundos de perfil semelhante.

Apesar do novo fundo com taxa de performance, Roboredo ressalta que ele segue com a vantagem intrínseca de ter uma incidência tributária menor. “Depois de dez anos, o percentual do imposto a ser pago sobre o lucro cai para 10%, enquanto nos demais fundos com ações o piso fica na faixa de 15%.”

Às compras

Os fundos de previdência da Alaska seguem a estratégia long only do Black Institucional. De 21 de fevereiro a 18 de maio, o previdenciário da gestora recua 28,5%, em linha com o Ibovespa. Em 12 meses, a queda é de 5,6%, bem abaixo das perdas de 9,8% do benchmark.

O fundo tem a possibilidade de ficar 100% comprado, ou totalmente vendido, embora hoje essa última não seja uma possibilidade no radar, diz Eduardo Mestieri, sócio fundador e analista de renda variável da Alaska.

“Estávamos comprados no Ibovespa aos 112 mil pontos, então, nesse nível de 80 mil, entendemos que tem muito ativo barato”, diz. Nas últimas semanas, a gestora aproveitou para aumentar a posição em nomes de alta convicção, como Magazine Luiza e Cogna.

Além disso, promoveu uma rotação da exposição em commodities, com a saída de Petrobras e Vale do portfólio, e um foco maior nas empresas de papel e celulose Klabin e Suzano.

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