As apostas de Armínio Fraga para investir em cenário com prêmios baixos frente às incertezas para 2021

Risco de dominância fiscal no Brasil é “elevadíssimo”, afirmou fundador da Gávea Investimentos e ex-presidente do Banco Central, durante live

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – O otimismo dos investidores com a provável descoberta de uma vacina fez o Ibovespa saltar dos 94 mil pontos, no fim de outubro, para os 107 mil pontos em 17 de novembro, o maior nível desde março.

Apesar dessa empolgação, o cenário de curto prazo ainda guarda muitas incertezas.

Para ficar apenas no âmbito doméstico, as preocupações dizem respeito principalmente à saída que o governo precisa encontrar, e rápido, para controlar o crescimento da dívida pública.

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E com os juros próximos de zero e a recuperação recente da Bolsa, as oportunidades não são nada óbvias. “Não tem muito prêmio de risco, dado o grau de incerteza que a gente vive no mundo e no Brasil”, afirmou Armínio Fraga, fundador da Gávea Investimentos e ex-presidente do Banco Central (BC), durante live promovida na noite desta quarta-feira (18) pela casa de análise Spiti.

Segundo o co-CIO da gestora carioca, é “elevadíssimo” o risco de dominância fiscal no país, com o governo sendo obrigado a emitir cada vez mais dívida e com taxas cada vez mais altas, para arcar com o déficit crescente. “Somos hoje um caso muito claro de risco de dominância fiscal.”

O ex-presidente do BC considerou acertada a decisão da atual diretoria da autoridade monetária de levar a Selic para 2% ao ano.

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Mas lembrou do risco de os juros terem de subir, e de uma dívida pública em forte tendência de alta desencadear em um perigoso ciclo vicioso, com os investidores cobrando mais prêmio por uma situação fiscal em deterioração.

Frente ao cenário nada trivial projetado, o gestor tem preferido carregar posições compradas em títulos indexados à inflação no portfólio dos multimercados, que ganham com a alta dos preços, em detrimento aos prefixados.

Embora considere que exista algum prêmio para ser aproveitado na curva prefixada, o especialista disse que não em patamar suficientemente elevado para valer a pena o risco. “É muito assimétrico. Se acertar, vou ganhar um pouquinho. Se errar, tem uma chance de levar um golpe duríssimo.”

Não existe gol feio

Apesar do horizonte turvo, Armínio mostrou-se otimista com as oportunidades para os fundos multimercados, que podem vir a tirar proveito dos ruídos políticos e da volatilidade que surge a reboque.

“Em geral, os governos, tendo objetivos não econômicos, criam oportunidades”, afirmou o co-CIO da Gávea, que carrega algumas posições de maior convicção na Bolsa brasileira, por meio de um trabalho de stock picking que vem ganhando espaço no portfólio, disse o especialista, sem entrar em detalhes.

E embora avalie que o real esteja em nível depreciado, o ex-presidente do BC destacou também que o país nunca teve um diferencial de juros tão baixo.

Sem posições relevantes no câmbio, o co-CIO da Gávea disse que, diante dos fundamentos econômicos e de assimetrias no mercado, se fosse para escolher, certamente optaria por uma aposta vendida na moeda brasileira.

Quanto às opções de proteção para resguardar o portfólio, o gestor destacou o poder da diversificação, mas disse também que, caso o investidor esteja na dúvida, o melhor a se fazer é reduzir o risco da carteira. “Não acho que é nenhuma vergonha ficar parado.”

As apostas da Gávea em um ano atípico se mostraram bastante acertadas – o Gávea Macro I FIC FIM sobe 10,61% em 2020, até outubro, contra 2,45% do CDI e queda de 18,76% do Ibovespa.

O fim de um mau exemplo

Armínio afirmou ainda que a enxurrada de liquidez promovida nos últimos meses pode esconder um ambiente bem mais desafiador à frente.

“Esses ciclos de liquidez geram certa euforia, mas, em geral, é um pileque e, depois, vem a ressaca. Tenho um pouco de medo.”

Na cena global, o ex-presidente do Banco Central, que também já atuou como gestor de mercados emergentes do Soros Fund Management, afirmou estar de olho em oportunidades táticas que possam surgir em economias em desenvolvimento pressionadas por contas públicas fragilizadas e uma complexa situação política. África do Sul e Turquia foram apontadas como exemplos.

São países “com muitos problemas”, que não têm um histórico como os EUA que permita certa “extravagância” em termos de políticas econômicas, afirmou.

Em relação à vitória de Joe Biden nas eleições americanas, o fundador da Gávea disse que enxerga com bons olhos a postura sinalizada pelo novo mandatário dos EUA, mais diplomática no trato com outras potências globais ou em temas relacionados à questão ambiental.

“Vejo a chegada do Biden como sendo o fim de um exemplo muito ruim vindo dos EUA. Então, acho que isso só pode ser bom para nós, em última instância.”

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