As ações preferidas dos “value investors” brasileiros

Energisa, Eneva, Itaúsa, JSL, Suzano, Springs e Unipar estão entre as preferências de adeptos da filosofia de investimentos do megainvestidor Warren Buffett

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO  – Se você decidiu ingressar no mercado de ações brasileiro nos últimos três anos, principalmente no início de 2016, é importante ter em mente: você é um privilegiado. Mesmo com a volatilidade mais acentuada dos últimos tempos, vinculada em grande parte ao noticiário político, o investidor tem conseguido participar de um momento para lá de favorável da Bolsa brasileira, que acumula ganhos da ordem de 120% em três anos e meio.

Na prática, se você tivesse decidido investir apenas em um ETF atrelado ao Ibovespa, teria conseguido embolsar um ganho exorbitante sem nenhum esforço, nem seu ou do gestor.

A história, contudo, parece estar diferente agora. Não é que as perspectivas passaram a ser negativas para a renda variável brasileira, longe disso. Mas, com uma valorização expressiva de tantos papéis, o famoso “stock picking”, isto é, a seleção criteriosa de ações, tem ganhado mais força dentre as gestoras.

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Dentre os “value investors”, adeptos da filosofia de investimentos de ninguém menos que Warren Buffett, a tarefa de buscar empresas de qualidade que estejam mal avaliadas em função de fatores inerentes ao mercado de ações anda mais trabalhosa.

Durante a 12ª edição do congresso Value Investing Brasil, realizado em São Paulo nesta terça-feira (7), gestores se dividiram ao comentar as estratégias de curto prazo. Uma parte está em busca de oportunidades e tem preferido contar com maior alocação em caixa em seus fundos, enquanto outra fatia segue ativa e com alta exposição às ações brasileiras.

Sergio Fontana dos Reis, da Set Investimentos, disse que sempre encontrou ótimas oportunidades na Bolsa, mas que atualmente tem enfrentado dificuldade. “O mercado brasileiro está caro. Pela primeira vez temos dinheiro em caixa e não estamos encontrando tanta abundância de empresas como no passado”, afirmou.

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Enquanto Fontana segue em compasso de espera, montando sua carteira de ações com mais cautela, Heloísa Cruz, do clube de investimentos Stoxos, contou que ainda encontra papéis muito baratos, entre os quais JSL, Unipar e Springs.

Além de Fontana e Cruz, participaram de um painel sobre os melhores investimentos do momento Francisco Lara Resende, sócio-diretor da Velt Partners, e Thomas de Mello e Souza, da Investment One Partners. Confira a seguir os principais cases discutidos:

Energisa (ENGI11)

Francisco Lara Resende, da Velt Partners, destacou o crescimento a taxas atrativas da distribuidora de energia Energisa, atuando com grande força nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do país.

Segundo ele, a companhia tem uma mentalidade mais moderna, o que permite que utilize tecnologia para melhorar sua eficiência no mercado. “A Energisa possui uma mentalidade boa, focada na inovação, tem um grupo de controladores excepcional, opcionalidade de alocação de capital e uma taxa de retorno muito atrativa. Isso nos mostra que a empresa vai continuar na frente de seus competidores por muito tempo”, afirmou.

Eneva (ENEV3)

As ações da Eneva representam uma das principais posições da Velt Partners. Segundo Lara Resende, a companhia pode se beneficiar da indústria térmica, explorando gás natural interno e gerando energia a um custo mais competitivo no mercado.

Entre o “top 5” das alocações da Velt, Eneva conta com opcionalidades ainda não precificadas, segundo Resende, como o leilão de Roraima, no qual a companhia pode alocar uma grande quantidade de capital com taxa de retorno interessante, conseguindo ainda, absorver o montante excedente.

“Oportunidades de crescimento não vão faltar e a empresa está bem preparada para alocar capital neste tipo de leilão”, disse Resende, ao reforçar que o papel pode oferecer ganhos interessantes no longo prazo.

Itaúsa (ITSA4)

O “saco de ações do banco Itaú”, como descreve Sergio Fontana dos Reis, é uma das grandes apostas da Set para o momento atual. “É um dos melhores investimentos que já fizemos e tem uma volatilidade baixa”, disse.

O gestor afirmou que os grandes bancos conseguem fazer as mesmas coisas que as fintechs, mas, como possuem grande volume, conseguem aprender mais rapidamente com os erros. “Estamos voltando para uma situação em que só banco ganha dinheiro no Brasil. E o banco Itaú tem uma história e gestão para continuar fazendo isso”, disse.

Fontana dos Reis destacou a preferência pelos papéis da holding, afirmando que, enquanto Itaú tem pago um dividend yield de 7,3% em 12 meses, Itaúsa oferece retorno de 9%.

JSL (JSLG3)

A empresa de logística é uma das grandes apostas de Heloísa Cruz, chegando a ocupar um quarto da carteira de ações.

Cruz destacou que a JSL possui apenas 2% de participação em seu mercado e que poderá crescer até 50 vezes. “A JSL nunca vai ser a queridinha do mercado e sempre vai ser barata”, afirmou.

A gestora ressaltou que a companhia possui diversos braços que contribuem para sua maior abrangência no setor de transportes e logística, principalmente por conta das empresas do grupo: Movida, focada no aluguel de carros, e Vamos, líder em locação de caminhões, máquinas e equipamentos.

No ano, as ações JSLG3 sobem 49,52%, cotados a R$ 10,05, ante alta de 6,98% do Ibovespa. Apesar do forte desempenho, Cruz vê potencial de alta de de quase 200% para os papéis da companhia nos próximos anos.

Springs (SGPS3)

Ao ressaltar estar “150% comprada” em Springs, Heloísa Cruz afirmou que a companhia do setor de cama e banho não se contenta apenas em vender lençóis e está correndo atrás para não ser apenas uma indústria. “É uma empresa que está viva e tentando se reinventar”, disse.

A gestora contou que a companhia está trabalhando em um serviço de franquia digital e que quer se tornar a “Uber do varejo”. Neste modelo, pessoas poderiam estocar os produtos da marca em casa, fazendo a entrega a consumidores mais próximos da solicitação. “É uma ação muito barata e que consigo ter uma alta margem de segurança”, afirmou.

Suzano (SUZB3)

Thomas de Mello e Souza, gestor da Investment One Partners, observou que a Suzano se prejudicou no curto prazo ao enfrentar os chineses, seus maiores consumidores, segurando os estoques de papel para não reduzir o preço dos produtos.

Ainda que o preço da celulose tenha caído pouco, a empresa saiu prejudicada do episódio e o mercado começou a penalizar as ações da companhia. Os papéis, que chegaram a negociar a R$ 54 em setembro do ano passado, hoje valem perto dos R$ 40. No ano, SUZB3 sobe 8,90%, ante alta de 6,98% do Ibovespa.

“A Suzano é a nona maior companhia brasileira por market cap, possui uma governança excepcional, uma gestão de respeito e muito profissionalizada, oferece retorno sustentável ao longo do tempo e, apesar de ser volátil, tem uma sustentabilidade forte”, afirmou o gestor.

Segundo ele, Suzano tem múltiplos atrativos do ponto de vista do Ebitda e, apesar de os fundamentos estarem ruins no curto prazo, “os próximos três anos serão excepcionais.

Unipar (UNIP3)

Entre as poucas oportunidades que Reis, da Set Investimentos, enxerga na Bolsa estão os papéis de Unipar, especializada na produção de cloro, derivados de cloro, soda cáustica e PVC.

De acordo com ele, a companhia, que opera hoje com 80% da capacidade produtiva, não precisará fazer investimentos adicionais com a retomada da economia. “Acreditamos que é um negócio sustentável.”

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