7 ações para comprar em 2023: commodities, indústria e até consumo são escolhas dos gestores

Expectativa de recuperação da China impulsiona aposta em matérias-primas; mesmo otimistas, gestores dizem que varejo pode patinar e dar retorno só em 2024

Bruna Furlani

(Getty Images)

Publicidade

Depois de um ano em que certos papéis ligados ao segmento de commodities conseguiram subir mais de 80% – caso da PetroReconcavo (RECV3) – ventos mais favoráveis vindos da China tendem a animar empresas que dependem de matérias-primas e renovar o brilho de algumas ações. Essa é a opinião de gestores ouvidos pelo InfoMoney.

A retomada da China, com a volta dos investimentos em infraestrutura, e o avanço no processo de transição energética e na desglobalização também podem favorecer empresas do setor industrial, na avaliação dos especialistas.

A lista de apostas para 2023 também apresenta papéis ligados ao varejo. Mas apesar do otimismo com nomes pontuais, os especialistas não escondem que as ações do setor ainda podem patinar neste ano e que os retornos devem aparecer mesmo a partir do próximo ano.

Aula Gratuita

Os Princípios da Riqueza

Thiago Godoy, o Papai Financeiro, desvenda os segredos dos maiores investidores do mundo nesta aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Uma das selecionadas é a CVC (CVCB3), ativo que teve um 2022 especialmente duro, caindo 67%. Para este ano, Bruno Di Giacomo, CIO da Nero Capital, argumenta que a ação pode ser uma alternativa.

Segundo ele, o crescimento econômico mais baixo do País aliado à cotação elevada do dólar – ainda que estável – tende a favorecer viagens internas e diminuir o fluxo de pacotes para fora.

“Isso favorece o cenário local. A CVC tem mais barganha com as companhias locais e há uma migração da concentração de receita para linhas em que ela tem margem mais alta”, explica Giacomo.

Continua depois da publicidade

Confira as demais ações citadas pelos especialistas para investir em 2023 e os desempenhos de cada uma em dezembro e em 2022:

Empresa Ticker Retorno em dezembro Retorno em 2022
Companhia Brasileira de Alumínio ([ativo=
CBAV3])
-3,81 -13,40
CVC (CVCB3) -10,74 -66,64
Ferbasa (FESA4) -2,10 21,85
Mahle Metal Leve (LEVE3) 6,99 17,83
PetroReconcavo (RECV3) 9,98 81,97
Sabesp (SBSP3) -5,19 45,22
Tupy (TUPY3) -3,43 38,14

Fonte: Ricardo Vieira (Logos Capital), Werner Roger (Trígono Capital), Bruno Di Giacomo (Nero Capital) e Economatica. 

As apostas dos gestores diferem das ações mais citadas nas carteiras recomendadas por nove corretoras e casas de análise para investir no mês de janeiro, compiladas pelo InfoMoney. Na lista, entraram duas ações dependentes de consumo interno.

A primeira é a Multiplan (MULT3). Em relatório, Ricardo Peretti, responsável pela estratégia para pessoa física do Santander, destacou que a ação pode encerrar 2023 valendo R$ 32. No pregão de segunda-feira (2), os papéis fecharam cotados a R$ 20,71. Ele destaca o processo de transformação digital da empresa e o investimento feito em outras frentes de negócio, como startups, como pontos positivos da empresa.

O especialista também elogiou os bons resultados apresentados pela empresa em seu balanço no terceiro trimestre, com destaque para a diminuição da dívida líquida/Ebitda.

Já a segunda ação é da rede de atacarejo Assaí (ASAI3). Em relatório, a XP informou que o formato deve seguir ganhando participação de mercado no varejo alimentar e os resultados no curto prazo devem continuar fortes.

O documento reforça ainda que há uma expectativa de aceleração nos resultados do quarto trimestre deste ano, diante das conversões de lojas do Extra e dos efeitos da Copa do Mundo e do fim de ano. Na visão da casa, o preço-alvo do papel é de R$ 22 para o término de 2023.

Também apareceram nas compilações empresas de commodities, do setor financeiro, seguradoras e companhias de saúde. Confira as nove ações mais indicadas para janeiro, a quantidade de recomendações e os desempenhos de cada papel em dezembro e em 2022:

Empresa Ticker Nº de recomendações Retorno em dezembro Retorno em 2022
Vale

(VALE3)

8 4,05 24,95
Itaú Unibanco (ITUB4) 7 -1,88 24,18
Weg (WEGE3) 4 -1,11 18,85
PetroRio (PRIO3) 4 3,22 80,02
Multiplan (MULT3) 3 -3,19 20,76
Hypera (HYPE3) 3 2,42 64,74
Assaí (ASAI3) 3 -2,71 51,74
B3 (B3SA3) 3 3,97 23,00
BB Seguridade (BBSE3) 3 7,63 74,88

Fontes: Ágora, Ativa, BB Investimentos, BTG Pactual, Genial, Guide, Órama, Santander Corretora, XP Investimentos e Economatica

InfoMoney divulga a compilação dos papéis mais citados todo início de mês. Normalmente, são cinco indicações, mas o número pode ser maior, se houver empate – como ocorreu agora.

Commodities para 2023: faz sentido?

Para além de alguns papéis do varejo, boa parte das indicações de gestores e de analistas ficou concentrada em ações ligadas a commodities.

Na lista dos gestores, os destaques ficaram por conta dos papéis da CBA (CBAV3) e PetroReconcavo (RECV3). Na avaliação de Ricardo Vieira, CEO da Logos Capital, a companhia pode se beneficiar da volta de estímulos com foco em consumo na China.

Além disso, o executivo destaca que a empresa melhorou sua eficiência e pode tirar vantagem do processo de transição energética mundial, porque possui um custo baixo de matriz energética.

Já a PetroReconcavo é uma das indicações de Werner Roger, CIO da Trígono Capital, assim como os papéis da Ferbasa (FESA4). Ele diz que um dos destaques da PetroReconcavo é ela estar se encaminhando para o setor de gás. “O gás deve ganhar participação na matriz energética brasileira. É um produto nobre e há uma pretensão de fazer mais termelétricas a gás no País”, afirma.

Em comunicado ao mercado em dezembro, a PetroReconcavo informou que a produção de gás saltou de 1.125 mm³ por dia no primeiro trimestre de 2022 para 1.533 mm³ por dia em novembro de 2022.

A petroleira também vem se destacando com uma onda de aquisições. Na última quarta-feira (28), anunciou a compra da Maha Brasil, que opera no segmento de óleo e gás, por US$ 138 milhões. O fechamento do negócio, porém, ainda precisa da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Assembleia Geral Extraordinária.

Já nas carteiras de janeiro compiladas pelo InfoMoney, os papéis preferidos foram os da Vale e da Prio, antiga PetroRio (PRIO3). Na visão dos analistas do BTG Pactual, a mineradora é a melhor escolha para se aproveitar da esperada reabertura da China, à medida em que o governo diminuir as restrições e moderar a correção do mercado imobiliário chinês.

Para os especialistas do BTG, a empresa permanece focada em alocar capital e há uma expectativa de que seu dividend yield (taxa de retorno com dividendos) fique entre 10% e 11% em 2023.

Outra “queridinha” do setor de commodities é a Prio. Em relatório, especialistas da XP pontuaram que a empresa obteve performance resiliente na Bolsa, acima do Ibovespa, mesmo em um cenário de recuo nos preços do petróleo e ruídos de governança.

As perspectivas também estão positivas para o futuro. “A produção deve mais que dobrar nos próximos anos impulsionada pela aquisição da Albacora Leste e pelo desenvolvimento de Wahoo. Vemos a Prio como a melhor junior oil brasileira”, afirmaram. A companhia pode se beneficiar de fusões e aquisições de ativos próximos aos atuais campos, proporcionando retornos elevados no curto, médio e longo prazos. Nos cálculos da XP, o preço-alvo do papel é de R$ 41,60.

Setor industrial em destaque

Outro setor que está entre as apostas para 2023 de Roger, da Trígono Capital, é o industrial. As preferências estão em companhias de menor valor de mercado (smalls caps) como a Tupy (TUPY3), fabricante líder de blocos e cabeçotes de motores.

O executivo explica que a companhia pagou menos dividendos nos últimos tempos porque fez duas grandes aquisições: da MWM Brasil e da Teksid. Agora, a expectativa é de que as aquisições maturem e a empresa consiga voltar às distribuições robustas de proventos, avalia Roger.

Outra aposta está na Mahle Metal Leve (LEVE3). O executivo explica que a empresa não possui dívida e apresenta uma reserva de cerca de R$ 180 milhões que ainda poderia pagar em dividendos. Nos cálculos do gestor, a companhia poderia oferecer cerca de 20% em dividend yield.

A empresa também aparece em terceiro lugar em levantamento feito pela plataforma TradeMap sobre as ações com melhor potencial de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) em 2023.

A lista apresenta dez ações com projeção de dividend yield superior a 5% para 2023. Segundo Einar Rivero, head comercial do TradeMap e responsável pelo estudo, somente três papéis devem proporcionar ganhos acima de 13,75% – nível atual da Selic, taxa básica de juros – em 2023: Petrobras PN (PETR4), Petrobras ON (PETR3) e Mahle Metal Leve.

Ações com potencial de pagar bons dividendos em 2023

Empresa Classe Código Segmento Bovespa dividend yield (%) Mediana do dividend yield oferecido entre 2018 e 2022 (%)
Real em 2022  Projetado 2023 
Petrobras PN PETR4 Exploração refino e distribuição 58,65 68,32 5,59
Petrobras ON PETR3 Exploração refino e distribuição 54,08 59,70 1,97
Metal Leve ON LEVE3 Automóveis e motocicletas 13,47 13,66 7,52
Brasil ON BBAS3 Bancos 14,38 11,99 5,49
Ferbasa PN FESA4 Siderurgia 10,67 10,18 6,29
CPFL Energia ON CPFE3 Energia elétrica 12,27 9,77 5,09
Santos Brp ON STBP3 Serv. de apoio e armazenagem 10,64 8,44 0,21
Engie Brasil ON EGIE3 Energia elétrica 7,94 8,09 4,91
Klabin S/A UNT N2 KLBN11 Papel e celulose 5,88 7,56 5,42
Klabin S/A PN KLBN4 Papel e celulose 6,11 7,51 6,08

Fonte: TradeMap.

O levantamento leva em conta que as empresas mantenham a mesma política de distribuição proventos de 2022. A amostra engloba empresas com volume médio diário superior a R$ 1 milhão em 2022, companhias que distribuíram dividendos nos últimos cinco anos, além de negócios com lucro líquido em nove meses de 2022 igual ou superior a 75% do lucro em 12 meses da empresa.

Espaço para papéis de saneamento

O setor de saneamento não fica de fora das indicações. As ações da Sabesp (SBSP3) estão entre as recomendações de Vieira, da Logos Capital.

O executivo afirma que a companhia está com preço (valuation) atrativo e apresentou forte melhoria de eficiência. Mesmo otimista, o gestor alerta que vem monitorando as últimas notícias em torno das privatizações e da estrutura que deve ter a Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) no novo governo.

Vieira não esconde que declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre “acabar com as privatizações” evidenciam o risco de interferência do governo federal, mas diz que vai manter a aposta nos papéis por enquanto, porque a assimetria de risco e retorno segue favorável.

Bancos: discordâncias entre casas

Quando o assunto são bancos, as avaliações estão divididas. Instituições financeiras como Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4) chegaram a entrar na lista de apostas para 2023 de Giacomo, da Nero Capital, mas as perspectivas para ambos pioraram ao longo das últimas semanas.

O executivo detalha que vê no radar uma chance de elevação na tributação potencial dos bancos, além da possibilidade de tributação de dividendos, o que pode afetar instituições que costumam pagar grandes montantes de proventos. Ele também acredita que a atividade econômica deve se recuperar apenas em 2024, o que também pode pesar sobre os bancos.

Peretti, do Santander, por outro lado, segue com as recomendações em Itaú e BTG Pactual (BPAC11) na carteira de janeiro, mas acompanha de perto os riscos do setor.

Ao comentar sobre o Itaú, o especialista diz que está com uma recomendação de manutenção para os papéis, diante do cenário macroeconômico mais desafiador à frente.

Apesar disso, ele acredita que o Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) do banco deve se manter sustentável em 20% em 2022 e 2023, dado o mix de produtos atual e o patamar elevado de taxas de juros.

Já sobre o BTG, Peretti afirma que a casa reduziu recentemente o preço-alvo da ação de R$ 37 para R$ 32, mas manteve a recomendação de compra. A previsão é de crescimento de receita próximo a 20% para o banco em 2023. A alta deve ser impulsionada pela retomada dos negócios de banco de investimento, expansão da carteira de crédito com características adequadas de risco e retorno, além do aumento do volume em gestão de ativos e patrimônio e da forte remuneração do patrimônio líquido em decorrência do aumento das taxas médias de juros.