As ações mais recomendadas pelos analistas em abril; dez em dez corretoras têm Vale na carteira – literalmente

Com duas substituições, Arezzo (ARZZ3) deixa a lista de destaques, assim como o Banco do Brasil (BBAS3), que perdeu uma indicação em relação a março

Márcio Anaya

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Descolado do mercado internacional, o Ibovespa caiu pelo segundo mês consecutivo, fechando março com desvalorização de 2,9%, para 101.882 pontos. Com o novo desempenho negativo, a perda acumulada no primeiro trimestre atingiu 7,2%, frente a uma alta de 7% do S&P 500 e de 16,7% do Nasdaq, por exemplo.

Em meio aos balanços do quarto trimestre de 2022 – com resultados considerados fracos, de maneira geral –, e refazendo contas sobre os rumos da economia, os analistas foram ainda mais seletivos na revisão das carteiras de ações recomendadas para abril.

Sem grandes alterações nos papéis preferidos, as principais novidades ficam por conta do domínio absoluto de Vale (VALE3), que ganhou uma indicação e agora está presente em todos os dez portfólios monitorados, e de Multiplan (MULT3), que subiu no ranking e passa a dividir a terceira colocação com o Assaí (ASAI3). As duas registram cinco apontamentos por parte dos especialistas.

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Chama atenção que, em um intervalo de 14 meses, esta é a segunda vez em que a Vale figura em todas as carteiras selecionadas por especialistas, conforme levantamento periódico feito pelo InfoMoney. A última vez que a mineradora atingiu essa marca foi em março do ano passado.

Para este mês, o segundo lugar entre as ações mais recomendadas permanece com o Itaú Unibanco (ITUB4), com sete escolhas.

No bloco seguinte, surgem Prio (PRIO3) e Totvs (TOTS3), empatadas com quatro recomendações, fechando a lista das seis empresas mais citadas nos relatórios de abril.

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Com duas substituições, Arezzo (ARZZ3) deixa a lista de destaques, assim como o Banco do Brasil (BBAS3), que perdeu uma indicação em relação a março.

Sob uma perspectiva mais geral, a BB Investimentos acredita que abril promoverá um ambiente de maior apetite ao risco, permitindo que o Ibovespa corrija as perdas mais recentes, na esteira de um maior fluxo de capital estrangeiro para a Bolsa.

“Nossa visão é a de que essa correção está amparada predominantemente nos níveis atuais de desconto dos ativos no Brasil, somada a uma questão mais conjuntural de melhora marginal de expectativas, especialmente sobre a trajetória dos juros a partir do segundo semestre.”

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Em termos de fundamentos das companhias abertas do país, a avaliação da corretora sobre os números do quarto trimestre de 2022 foi negativa. A instituição diz ainda não ver gatilhos positivos que impulsionem a safra de resultados do primeiro trimestre deste ano.

Por essas, e outras razões, a BB Investimentos reduziu de 133 mil pontos para 127 mil pontos a projeção para o Ibovespa ao fim de 2023.

Todos os meses, o InfoMoney analisa as carteiras recomendadas por dez corretoras, apontando as cinco companhias mais citadas pelos analistas. O número de ações em destaque pode ser maior, caso haja empate – como ocorreu neste mês.

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Confira a seguir as seis ações mais indicadas para abril, a quantidade de recomendações e os desempenhos de cada papel no acumulado de março, em 2023 e em 12 meses:

Empresa Ticker Nº de recomendações  Retorno em março (%) Retorno em 2023 (%) Retorno em 12 meses (%)
Vale VALE3 10 -3,83 -7,68 -9,42
Itaú Unibanco ITUB4 7 -1,53 0,30 -5,30
Assaí ASAI3 5 -14,33 -20,18 -3,65
Multiplan MULT3 5 -1,60 13,09 4,43
Prio PRIO3 4 -7,45 -16,18 31,00
Totvs TOTS3 4 3,19 2,74 -21,72
Ibovespa -1,16 -5,49 -13,76

Fontes: Ágora, Ativa, BB Investimentos, BTG Pactual, Genial, Guide, Órama, Santander Corretora, Terra Investimentos, XP Investimentos e Economatica.

Veja agora os destaques de cada uma das empresas selecionadas para o mês, segundo relatórios divulgados pelas corretoras.

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Vale (VALE3)

Com o ingresso em uma carteira, a mineradora torna-se unanimidade neste mês – presente nas listas das dez corretoras monitoradas pelo InfoMoney. Com isso, amplia ainda mais a liderança entre as ações mais recomendadas.

No relatório sobre a revisão do portfólio de abril, a Genial não traz comentários específicos sobre empresas. Em relação à Vale, a recomendação atual é “manter” os papéis e a última análise disponível diz respeito aos resultados do quarto trimestre, divulgados em meados de fevereiro.

“Acreditamos que a Vale está bem posicionada para colher alguns frutos da reabertura econômica da China, que já começaram a ter efeito no 4T22, a partir dos preços provisionados, afetando positivamente os resultados”, diz a instituição.

A corretora pondera, no entanto, que movimento está sendo puxado por algum nível de especulação, por haver pouca atividade econômica real que suporte a demanda do minério de ferro a preços entre US$ 110 e US$ 120 a tonelada.

Para a Genial, o cenário é de novas oportunidades conjunturais para a empresa no curto prazo, mas prefere manter cautela em relação a um horizonte mais longo. A ressalva, explicam os analistas, tem como base a dificuldade dos licenciamentos ambientais que permitiram aumento na produção e problemas estruturais com o mercado imobiliário chinês, que ainda precisam ser resolvidos.
Ainda assim, a corretora destaca que a Vale segue como ótimo opção em termos de dividendos.

Na Ágora Investimentos, a avaliação é de que o mercado de minério de ferro deve seguir “apertado” nos próximos meses, situação agravada pelos baixos estoques da commodity, principalmente entre as siderúrgicas chinesas. Tal conjuntura deve manter os preços em patamares elevados, o que faz a instituição reiterar a projeção de US$ 130 a tonelada para 2023.

Multiplan (MULT3)

Novidade no mês passado, a Multiplan se consolidou entre os destaques com duas estreias em abril, totalizando cinco apontamentos. Com isso, passou a dividir o terceiro lugar geral com o Assaí.

Para a corretora do Banco do Brasil (BB), a qualidade na execução operacional da companhia tem permitido a entrega de resultados fortes, mesmo diante de um cenário mais lento de consumo.

“A boa seleção de lojas no seu portfólio de shoppings, com mais de 1/3 da área bruta locável exposta aos setores de alimentação e serviços, tem contribuído para maior resiliência das vendas”, afirma a instituição.

“Combinado a isso, a companhia ainda mostra disciplina financeira, com ganho de rentabilidade, liquidez elevada e geração de caixa operacional expressiva, o que tem permitido a manutenção da distribuição de dividendos e um payout [fatia do lucro destinada aos proventos] em torno de 70%.”

Em relatório do início de fevereiro, a Genial afirma, com base nos números do último trimestre de 2022, que a Multiplan é a administradora de shoppings menos alavancada da Bolsa, reunindo forte geração de caixa e uma dívida líquida/Ebitda de apenas 1,6 vez.

O índice considera o endividamento total de uma companhia, menos caixa, dividido pela geração operacional de recursos. Quando menor, melhor.

A corretora detalha que, no ano passado, a dívida da empresa diminuiu em aproximadamente R$ 400 milhões, apesar do pagamento de R$ 364 milhões em bonificação aos acionistas (juros sobre capital e recompra de ações) e investimentos que totalizaram R$ 195 milhões.

“Aliado a isto, seu portfólio premium deve mostrar resiliência em um período de desaceleração forte da economia”, diz a Genial.

Itaú Unibanco (ITUB4)

A instituição segue na vice-liderança do ranking das ações mais recomendadas, com sete escolhas por parte dos especialistas.

Recentemente, a Santander Corretora elevou de “manutenção” para “compra” a recomendação para os papéis do banco, mantendo o preço-alvo de R$ 31 para 2023.

Os analistas da casa lembram que, junto com o balanço de 2022, o Itaú apresentou projeções para este ano – que sinalizam um lucro líquido de R$ 35,5 bilhões, considerando o ponto médio da estimativa. O valor, se confirmado, representará um crescimento aproximado de 15%.

“Diante dos resultados do 4T22 e do guidance para 2023, fica claro que o Itaú se encontra num melhor momento operacional que os pares privados sob nossa cobertura.”

Assaí (ASAI3)

Pelo segundo mês consecutivo, a companhia recebeu cinco indicações por parte das corretoras.

Uma das que reitera a aposta na empresa é a Ágora. “O Assaí apresenta uma combinação de perfil defensivo e oportunidades de crescimento.”

Segundo a instituição, trata-se de um papel atraente para o longo prazo, dada a natureza estável do negócio, com forte histórico de evolução e lucratividade consistente.

Pelas contas da Ágora, o lucro da varejista deve apresentar uma taxa média de crescimento anual (CAGR) de cerca de 34,4% no período de 2023 a 2025.

Por fim, os analistas observam que a próxima assembleia geral de acionistas da companhia, a ser realizada neste mês, deve apontar os rumos do grupo em termos de governança corporativa, com expectativa de melhoras.

Prio (PRIO3)

A companhia se manteve entre os destaques do mês, com quatro apontamentos.

Ao justificar a escolha, o BTG comenta que as ações da Prio tiveram um desempenho inferior ao mercado depois que o governo impôs um imposto de exportação sobre o petróleo bruto. “Mas não esperamos que esse imposto dure muito e os fundamentos do preço do petróleo estão melhorando novamente.”

Aliás, um dos destaques no noticiário atual é corte voluntário na produção de petróleo divulgado ontem pela Arábia Saudita, em conjunto com outros membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O anúncio favorece o desempenho de ações de petrolíferas no pregão de hoje.

Ainda em relação aos fundamentos da Prio, o banco argumenta que a companhia ocupa atualmente uma posição única no mercado nacional de petróleo e gás, reunindo forte curva de crescimento da produção e espaço para reduzir ainda mais os custos, além de estar bem capitalizada.

“E mesmo que nenhum M&A [operação de fusão ou aquisição] seja entregue no curto prazo, achamos que a empresa poderá distribuir bons dividendos em breve.”

Totvs (TOTS3)

A companhia fecha a lista de destaques de abril, também com quatro indicações.

Na opinião da Ágora, os resultados da Totvs não devem trazer revisões relevantes para as estimativas de mercado para 2023. “Portanto, ainda vemos como factíveis as expectativas consensuais de Ebitda de R$ 1,19 bilhão.”

No caso do Santander, o relatório do mês informa que seus analistas atualizaram recentemente o modelo de análise da empresa, chegando a um preço-alvo de R$ 36 para 2023, versus R$ 41 estimado para o fim de 2022.

De acordo com a corretora, o corte deriva o aumento no custo de capital próprio da companhia, premissas de margens mais conservadoras e revisões baixistas nas estimativas das divisões chamadas de “Business Performance” e “Techfin”.

A primeira representa o portfólio de soluções focadas em crescimento das vendas, competitividade e desempenho por marketing digital, enquanto a área de Techfin busca simplificar, ampliar e dar maior acessibilidade aos serviços financeiros B2B (entre empresas).

“Vemos os potenciais ventos contrários operacionais e o aumento das taxas de juros já precificados nos níveis atuais de preço da ação”, diz o Santander.

“Por fim, acreditamos que a Totvs apresenta sólidas perspectivas financeiras e continuará crescendo tanto organicamente, com o lançamento de novos produtos, quanto via a aquisição de outras empresas (M&A) com soluções complementares às suas, com enfoque principalmente no segmento de Business Performance.”

Márcio Anaya

Jornalista colaborador do InfoMoney