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Com a decisão do Comitê de Política Monetária de manter a taxa de juros básica Selic em 15%, como esperado pelo mercado, as aplicações de renda fixa devem continuar se destacando. Mas nem por isso deixa de ser interessante olhar para as ações. Até porque algumas conseguiram dar ao investidor um retorno em dividendos superior aos juros em 12 meses.
| Nome | Classe | Código | Dividend yield (%) | Volume médio R$/mil |
| Syn Prop Tec | ON | SYNE3 | 60,24 | 4.147 |
| Sao Carlos | ON | SCAR3 | 45,81 | 1.517 |
| Allied | ON | ALLD3 | 35,86 | 1.256 |
| Vulcabras | ON | VULC3 | 30,47 | 16.604 |
| Marfrig | ON | MBRF3 | 27,71 | 185.785 |
| Lavvi | ON | LAVV3 | 25,55 | 6.719 |
| Unipar | PNB | UNIP6 | 25,46 | 11.056 |
| Alpargatas | PN | ALPA4 | 22,49 | 17.932 |
| Marcopolo | ON | POMO3 | 19,66 | 2.949 |
| Trisul | ON | TRIS3 | 17,32 | 3.245 |
| Mitre Realty | ON | MTRE3 | 16,26 | 2.289 |
| Axia Energia | ON | AXIA3 | 15,04 | 358.963 |
São empresas de diversos setores e portes, de tecnologia a bens de consumo e de energia a imobiliário, e que pagaram em 12 meses até o início deste mês dividendos e juros sobre o capital equivalentes a até 60% do valor das ações. O estudo, feito com base em dados da Economática, considerou companhias com mais de R$ 1 milhão por dia negociados em média em 12 meses.
Mais dividendo por aí
E, daqui até o fim do ano, deve haver um movimento grande de pagamento de dividendos extraordinários, dada a mudança da tributação sobre a distribuição de lucros que começa a valer no ano que vem, explica Rodrigo Santoro, Head de Ações da Bradesco Asset. “Estamos vendo empresas com reservas de lucros anunciando dividendos grandes e esse movimento deve se intensificar pois as empresas querem garantir a isenção este ano”, diz. Ele estima que, com isso, o dividendo médio das empresas do Índice Bovespa deve subir para 7% a 8%, ante 6,5% projetados para o ano que vem por conta dessas ofertas extraordinárias.
Não perca a oportunidade!
Ganho real
Santoro considera que dificilmente uma grande empresa conseguiria pagar um dividend yield equivalente aos juros de 15% ao ano em condições normais. “Isso só aconteceria com um dividendo extraordinário”, explica. Mas ele faz uma observação: a base de comparação do retorno em dividendos deveria ser o juro real, e não a taxa nominal da Selic. “Na média, as empresas pagam 6% de dividend yield por ano, o que está perto do juro real dos títulos públicos corrigidos pela inflação, mas há também a correção do valor da ação pela inflação, então o ganho do investidor com o dividendo acaba sendo real também”, explica. Ele nota também que há diversas companhias que pagam mais de 6% ao ano em dividendos e outras que não distribuem todo o lucro, mas essa parcela retida se reverte em valorização da empresa e das ações.
Para Santoro, a decisão do Copom de manter os juros não deve ser um gatilho importante agora para as ações pois a expectativa continua sendo de queda no ano que vem. “Achamos que o corte dos juros deve vir mais em março, mas não faria tanta diferença para a bolsa ser janeiro também”, diz. Por isso, ele acha que o primeiro trimestre do ano que vem deve ser muito importante para a bolsa, pela clareza sobre os juros locais e também nos Estados Unidos. “Pode ser um trimestre bastante positivo”, diz.
Retorno total
É possível obter retornos em dividendos acima de 15% ao ano, diz Bruna Sene, analista de Renda Variável da Rico Investimentos, mas com duas ressalvas importantes. A primeira é que dividend yields acima de 15% não são normais e não são garantidos. E a segunda é que muitas vezes esse ganho aparece porque o preço da ação caiu muito ou porque houve um evento pontual, como um dividendo extraordinário.
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Para ela, o investidor deveria olhar o retorno total: dividendos mais uma possível valorização ou desvalorização da ação. Uma ação pode pagar 16% de dividendos e ainda assim dar prejuízo no período se o preço cair mais do que isso. “Então, sim, dá para ver retornos acima de 15% em momentos específicos, mas o mais importante é checar a sustentabilidade desses dividendos, observando alguns pontos relevantes como: geração de caixa, nível de investimento necessário, endividamento, sensibilidade a juros, payout (parcela do lucro que é distribuída pela empresa) e recorrência desses dividendos”, completa.
Ganho com diversificação
“Em resumo”, afirma Bruna, “com a Selic em 15%, dividendos precisam ‘competir’ com a renda fixa, então a palavra-chave é seletividade”. Mas a estratégia de dividendos segue válida para quem busca renda recorrente, quer exposição a empresas sólidas e tem horizonte para atravessar oscilações, acrescenta. Além disso, esse ano mostrou a importância do equilíbrio do portfólio do investidor: mesmo com a Selic em 15%, o Ibovespa acumula alta de mais de 30% no ano e o Índice de Dividendos IDIV sobe mais de 25%. “Isso reforça que, apesar de o juro alto pressionar algumas teses, empresas bem-posicionadas continuam entregando valor”, afirma. O investidor que diversifica entre renda fixa e variável consegue assim aproveitar oportunidades sem abrir mão da segurança, conclui.
Ciclos de cortes
Se o mercado interpretar o comunicado do Copom como mais suave, ou “dovish”, sinalizando uma queda de juros iminente, há espaço para uma retração dos juros mais curtos e, nesse cenário, os ativos de risco, como bolsa e fundos imobiliários responderiam com um movimento mais positivo, diz Ricardo França, analista de Investimentos da Ágora Corretora. “Mas seria um movimento marginal, ninguém questiona que os juros cairão”, acrescenta. Para ele, os investimentos responderão à medida que os juros confirmarem a queda. “Historicamente, os ciclos de queda dos juros são bons para as ações”, afirma França. Segundo ele, nos últimos seis ciclos de cortes, a bolsa subiu, em magnitudes diferentes. “É difícil apostar em retração da bolsa com queda dos juros”, diz.