Arcabouço fiscal é fator positivo para FIIs, mas mercado fecha em queda, após 19 dias de alta; por quê?

Para gestores, queda do Ifix hoje sinaliza movimento de realização de lucros; regra fiscal estimula queda de juros, que beneficia fundos imobiliários

Wellington Carvalho

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Um dia após o plenário da Câmara dos Deputados aprovar o texto-base do projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal (PLP 93/2023), os fundos imobiliários fecharam em queda – após 19 sessões seguidas de ganhos.

Embora a matéria seja considerada positiva para o segmento de FIIs, o Ifix – índice dos fundos imobiliários mais negociados na Bolsa – registrou nesta quarta-feira (24) baixa de 0,31%. O indicador acumula 2.996 pontos.

O texto aprovado pelos parlamentares nesta terça-feira (23) estabeleceu como compromisso do governo federal um déficit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, equilíbrio no ano seguinte e superávit de 0,5% e 1% em 2025 e 2026, respectivamente. Durante o período, o intervalo de tolerância estabelecido foi de 0,25 ponto percentual para cima ou para baixo.

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O marco fiscal limita o crescimento anual dos gastos públicos a uma faixa de 0,6% a 2,5% acima da inflação. Pela proposta, as despesas crescerão a uma razão de 70% da evolução real das receitas no exercício anterior, desde que respeitando os limites mínimo e máximo da banda estabelecida.

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“Se eventualmente o arcabouço fiscal evitar o aumento expressivo da dívida pública, teremos uma chance de redução da taxa básica de juros da economia, a Selic”, explica. “Reduzindo a taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, os fundos imobiliários tendem a valorizar”.

Quanto mais elevada a Selic, maior o retorno das aplicações de renda fixa, que acabam atraindo os investidores da renda variável – entre eles, os de fundos imobiliários. O cenário pressiona as cotas dos FIIs, que perdem valor na Bolsa.

Em caso de redução dos juros, a expectativa é de um cenário contrário, ou seja, de queda da Selic e valorização dos fundos imobiliários. E o arcabouço fiscal teria potencial para estimular o movimento, avalia Gabriel Barbosa, gestor da TRX Investimentos.

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“[A aprovação do projeto] tende a fazer com que os juros futuros e a própria Selic em algum momento voltem a ter um patamar mais racional”, afirma. “Mesmo que não seja perfeita, é melhor ter uma regra fiscal do que não ter nenhuma e conviver com o risco de explosão da dívida pública”.

Por que os FIIs estão em queda hoje?

Em abril, o IFIX registrou alta de 3,5%, interrompendo cinco meses seguidos sem ganhos. Desde o dia 25 do mês passado, o indicador engatou uma sequência de 19 sessões consecutivas no azul, ultrapassando a marca dos 3.000 pontos.

O comportamento do índice é atribuído justamente à expectativa de que um corte de juros esteja mais próximo. A aprovação do arcabouço fiscal deveria reforçar o sentimento e impulsionar ainda mais o IFIX. Mas não foi isso que aconteceu na sessão desta quarta-feira (24).

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O índice dos fundos imobiliários opera no negativo, mas o desempenho não tem relação com a regra fiscal aprovada na Câmara dos Deputados, avalia Politi.

“Não acredito que exista nenhum evento que justifique a queda de hoje”, afirma o gestor, que vê na queda do indicador um movimento de realização de lucros. “Depois de 19 dias de alta, o pessoal costuma [vender para] realizar um pouco”.

Barbosa concorda e relaciona o desempenho negativo do IFIX ao mau humor geral do mercado nesta sessão. Ele lembra que as bolsas globais amargam perdas nesta quarta-feira  (24), especialmente após a divulgação de dados de inflação no Reino Unido – que vieram bem acima do esperado.

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Apesar do fim da série de altas do Ifix, Lana Santos, sócia e especialista em fundos imobiliários na Acqua Vero Investimentos, sinaliza que o cenário segue favorável para o segmento de FIIs.

“A aprovação do arcabouço reduz a percepção de risco fiscal no país, o que reforça as expectativas de juros futuros mais baixos”, detalha. “Além disso, a redução no avanço do IPCA em abril (0,61%) também corrobora para o fechamento das curvas de juros futuros, principal aspecto que tem influenciado positivamente o mercado de fundos imobiliários”, finaliza a analista.

Ela lembra que os fundos de “tijolo” – que investem diretamente em imóveis – estão entre as maiores altas do mês exatamente porque possuem maior sensibilidade à taxa de juros futura, que favorece esta classe de ativo.

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Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.