Arbitragem de Bitcoin ainda é possível, mas não como antes; entenda

Menor volatilidade no mercado de criptomoedas torna a prática menos atrativa, segundo especialistas

Lucas Gabriel Marins

(Crédito: Gettyimages)

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Até pouco tempo atrás, a estratégia de capitalizar com as diferenças de preço de um ativo financeiro em mercados distintos – a famosa arbitragem – era comum no mercado de criptomoedas, marcado por sua extrema volatilidade. A prática, no entanto, se tornou menos atrativa e mais desafiadora, segundo estudos e especialistas de economia.

A razão é que o mercado de criptoativos, avaliado em US$ 1,4 trilhão, segundo o agregador CoinMarketCap, está mais “maduro”. Em outras palavras, significa que está mais líquido, tem mais players e os preços dos ativos digitais estão mais parecidos entre as corretoras, além de mais estáveis do que antes.

É preciso que haja volatilidade no mercado cripto para o investidor obter lucro. Se os preços ficarem muito estáveis, dificilmente ele conseguirá ganhar algo para compensar os custos de negociação.

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Em agosto deste ano, segundo relatório publicado pela K33 Research, o BTC chegou a ficar menos volátil que o Nasdaq, o S&P 500 e até mesmo o ouro, mesmo após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) aumentar os juros em 0,25 ponto percentual, mostrando a descorrelação do ativo digital com o mercado tradicional naquele momento.

“Com o amadurecimento do mercado [de criptomoedas], devemos ter menos volatilidade, e isso também deve ser um fator que reduz as possibilidades de arbitragem”, disse Fernando Antônio de Barros Júnior, professor doutor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-RP/USP).

Em março de 2021, Barros publicou um artigo no qual analisava a possibilidade de fazer arbitragem em seis diferentes exchanges da América Latina: três brasileiras (Mercado Bitcoin, BitcoinTrade e Braziliex, que encerrou as atividades há mais de dois anos); duas chilenas (Buda Exchange e CryptoMarket) e uma mexicana (Bitso).

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Com base em uma análise de preços feita entre 30 de maio de 2018 a 12 de outubro de 2019, o pesquisador chegou à conclusão que um investidor poderia acumular até US$ 23,2 mil em cerca de um ano e meio com arbitragem nas exchanges, isso se negociasse US$ 1 mil por dia.

Naquela época, a diferença média de preço das criptomoedas entre todas as corretoras analisadas durante o período foi de 4,1%. Em alguns momentos, segundo o material, as discrepâncias chegavam a ficar em 8% por vários dias seguidos.

Ainda é possível?

Nenhum estudo novo analisou a situação atual nas mesmas exchanges analisadas pelo professor da USP. Pesquisas divulgadas por outras instituições ao longo dos últimos anos, no entanto, relatam que a arbitragem ainda existe, mas não como era antes.

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No início de 2023, por exemplo, pesquisadores da área de economia publicaram na revista Finance Research Letters que encontraram possibilidades de ganhos com discrepâncias nas exchanges Binance, Bitfinex, Bitstamp, Coinbase e Kraken. O período de análise foi entre entre outubro de 2017 e janeiro de 2022.

“As oportunidades de arbitragem surgem quando a rede está congestionada e os preços do Bitcoin são voláteis. O aumento do volume de exchanges e da atividade em cadeia, no entanto, aumenta a correlação entre exchanges e, assim, reduzem as oportunidades de arbitragem”, escreveram.

Barros Júnior, da USP, falou que dada as fricções nos mercados, seria muito difícil dizer que essas oportunidades tivessem desaparecido. Ainda assim, completou, conseguir identificar e aproveitar elas ainda pode ser um desafio.

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“Explorar essas diferenças de preços arbitrando entre mercados não é uma tarefa simples, pois existem tarifas para participação nos diferentes mercados, o que reduz o ganho de arbitragem. Outro fator importante a ser considerado é que muitas vezes haveria atraso na transferência de fundos entre mercados. Deste modo, a arbitragem seria dificultada nessas condições”.

Como começar?

Há várias plataformas no mercado que automatizam o processo. No entanto, diversos golpistas se aproveitam do desconhecimento da população em relação à prática e lançam produtos fake para tirar dinheiro das pessoas. Por isso, especialistas recomendam que é aconselhável realizar a devida diligência e escolher apenas projetos conhecidos e respeitáveis.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney