SÃO PAULO – A vida está repleta de riscos. Praticamente todos os dias você passa por situações de risco sem sequer se dar conta. Ainda que esteja preparado para este tipo de situação na sua vida pessoal, o mesmo não vale para a hora de investir o seu dinheiro. Nestas horas, o conservadorismo tende a prevalecer.
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Em parte, isso reflete o fato de que gerenciar riscos parece uma tarefa mais fácil no dia a dia do que no mercado financeiro. Por exemplo: se você acredita que praticar esportes radicais seja algo muito arriscado, basta evitar este tipo de aventura e, naturalmente, já estará gerenciando seus riscos. Mas, e na hora de investir, o que é preciso fazer?
Investir implica em riscos
Uma coisa é certa: ao investir o seu dinheiro você automaticamente está se arriscando. Surpreso? Mas é a pura realidade. Isso porque risco deve ser visto como a parcela do retorno de um investimento que não pode ser prevista, ou seja, que é inesperada.
Mesmo quando o retorno da aplicação é pré-fixado, ou seja, determinado na hora do investimento, como é o caso da poupança ou do CDB (Certificado de Depósito Bancário), você corre risco. Se a quantia investida for superior a R$ 70 mil, montante garantido pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), caso o banco onde o dinheiro está aplicado seja liquidado, você correrá o risco de não receber nada além desta quantia.
Assim sendo, o primeiro passo no aprendizado de como gerenciar riscos é entender esta realidade, na tentativa de minimizá-los. A seguir iremos discutir com mais detalhes as várias fontes de risco de uma aplicação financeira.
De mãos dadas: risco e volatilidade
Agora que você já sabe que risco é basicamente aquilo que não se consegue prever do retorno de uma aplicação, fica mais fácil entender o conceito de volatilidade e a sua relação com o risco de um investimento.
Por volatilidade entende-se a situação em que o retorno de uma determinada aplicação oscila significativamente em um determinado período de tempo. Neste contexto, quanto mais volátil for um investimento, maior a chance do retorno efetivo (aquele que o investidor recebe) ser distinto do esperado. Exatamente por isso que, quanto mais arriscado for um investimento, mais volátil ele será, pois mais difícil será prever o seu retorno.
Entendendo as fontes de risco
Resta agora discutir quais os fatores que levam uma aplicação a ser mais ou menos arriscada ou, em outras palavras, quais são os fatores que influenciam o seu grau de risco. Abaixo discutimos os quatro principais tipos de risco:
Risco do ativo
Parte da sua incapacidade de prever o retorno de um determinado ativo origina-se do próprio perfil deste ativo. Por exemplo: o fato de optar pelo investimento em ações da Petrobras significa que você estava exposto às flutuações do preço do petróleo ou aos riscos operacionais das plataformas de prospecção da empresa.
Assim, este risco é particular ao ativo escolhido (no caso, as ações da Petrobras), e distinto do risco que correria se, ao invés, tivesse adquirido ações da Vale do Rio Doce, comprado CDB ou investido em imóveis. A melhor forma de reduzir sua exposição ao risco de um determinado ativo é efetivamente diversificar suas aplicações.
Estabeleça o percentual de recursos que irá direcionar para renda fixa e renda variável e, dentro de cada categoria, diversifique suas aplicações. Se você pretende investir 30% diretamente em ações, pode reduzir o risco do ativo investindo em, ao menos, cinco ações distintas. O mesmo raciocínio vale para as aplicações em renda fixa.
Risco de mercado
Ao contrário do risco de ativo que, como mencionamos acima, pode ser minimizado através da diversificação, o mesmo não acontece com o risco de mercado. Isso não significa que a diversificação deva ser abandonada, mas apenas que, a partir de um certo momento, de nada adianta aumentar o número de ativos em que se investe, pois o risco de mercado permanece inalterado.
Isso significa que os investidores devem estar preparados para o fato de que existe uma parcela do risco de mercado sob a qual não se tem como influir, e a qual estão sujeitos sempre que aplicam o dinheiro no mercado financeiro. Em parte, isso pode ser explicado pelo fato de que, em um mundo cada vez mais globalizado, flutuações nos preços de commodities internacionais, ou dificuldades enfrentadas por algumas economias, acabam refletindo na situação de outras economias.
Risco de crédito
Quando você investe seu dinheiro pode-se dizer que você está “emprestando” esta quantia a alguém, em troca de algum tipo de retorno. Quando compra ações, o empréstimo está sendo feito para a empresa alvo da ação, mas quando compra um CDB, o empréstimo está sendo feito ao banco que emitiu este certificado.
Raciocínio semelhante pode ser feito para os investimentos em fundos. A diferença é que, neste caso, seu dinheiro é investido em vários tipos de ativos. Ao comprar quotas de um fundo de ações, por exemplo, você está emprestando dinheiro para todas as empresas cujas ações compõem a carteira do referido fundo.
Tendo isto em vista, fica fácil entender o conceito de risco de crédito, que é o risco que você corre da empresa (no caso das ações) vir a quebrar e você, como acionista, não ver seu dinheiro de volta. Na renda fixa este risco também existe, ainda que seja menor, graças ao Fundo Garantidor de Crédito.
Neste contexto, a melhor forma de reduzir o risco de crédito é efetivamente diversificar a forma como investe seu dinheiro, seja através da aplicação em ações de várias empresas, compra de títulos de renda fixa de mais de uma instituição, ou aplicação em fundos, cuja carteira seja bastante diversificada.
Risco de liquidez
O termo liquidez reflete o custo, tanto em termos de prazo quanto de dinheiro, que um determinado ativo transforma em dinheiro. Quanto maior este custo, menor a liquidez do ativo, e vice-versa.
Este é, por exemplo, um dos maiores riscos de se investir em imóveis. Isso porque, se precisar do dinheiro, terá que esperar algum tempo para consegui-lo, já que é preciso antes encontrar um comprador. Em contrapartida, nos fundos de renda fixa este risco é bem menor pois, em geral, é garantida liquidez diária. Já nos fundos de ações, a conversão das quotas em dinheiro demora um pouco mais, cerca de três dias.
Em termos de liquidez, pode-se dizer que você corre mais risco quando investe em imóveis. Aqui é preciso fazer distinção, pois a liquidez varia de acordo com o tipo de imóvel comprado. Por exemplo, é mais fácil vender um imóvel urbano que um rural, o que se traduz em um risco distinto de liquidez para estes dois tipos de imóveis.
Na sequência vem o investimento direto em ações que, dependendo da empresa, pode ser difícil de ser liquidado, seguido do investimento em fundos de ações. Depois vem os fundos de renda fixa, os vários títulos de renda fixa, e finalmente a poupança.
Agora que já está mais familiarizado com os conceitos de risco, vale mencionar algumas regras básicas. Sempre mantenha o que chamamos de reserva de liquidez, equivalente a, pelo menos, seis meses de despesas correntes. Se ainda não acumulou esta quantia em dinheiro, o melhor é optar pelo máximo de liquidez na hora de investir. Quanto ao risco de ativos, não destine mais que 35% dos seus recursos para ativos de risco elevado, percentual que deve diminuir com o passar do tempo.
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