Após interferências do governo e queda das ações, vale a pena investir em China? Especialistas veem possível ponto de entrada

Embora a visão de algumas casas seja mais positiva, não é possível saber se chegou mesmo ao fim o ciclo de intervenções do governo em vários setores

Bruna Furlani

(Shutterstock)

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A situação caótica vivida pelas Bolsas chinesas da segunda metade do ano para cá assustou investidores e “avermelhou” os retornos de grandes veteranos do mercado. Com o índice MSCI China caindo 8% desde o fim de julho – quando houve uma intensificação no movimento de regulação de setores por parte do governo – até agora, muitos passaram a se perguntar se o cenário de desaceleração e de desequilíbrios no mercado imobiliário poderiam se espalhar pelos demais setores da economia do país.

As preocupações foram tantas que analistas chegaram a ventilar que os calotes vindos de grandes incorporadoras, como a Evergrande, poderiam se assemelhar ao emblemático caso americano do Lehman Brothers – banco que faliu em meio a problemas com hipotecas subprime e marcou o início da crise financeira global de 2008.

Meses depois do forte abalo sobre os ativos do país, bancos de investimento voltaram a se mostrar mais otimistas com a China. Para os analistas Robin Xing, Jenny Zheng, Zhipeng Cai e Helen Lai, do Morgan Stanley, por exemplo, um dos motivos para a relativa euforia é que o mercado chinês teria atingido o “ponto de inflexão”.

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“Depois de um aperto sem precedentes em 2021, nós esperamos que a economia da China cresça acima do consenso econômico para 5,5% na comparação anual em 2022, em meio a uma política fiscal mais afrouxada, liderada pelo investimento público e retomada gradual do consumo”, destacaram os especialistas em relatório divulgado em novembro.

Entre os fatores que podem ajudar o país a alcançar tal crescimento, segundo os analistas do Morgan Stanley, estão o investimento em infraestrutura e manufatura juntamente com uma política de maior afrouxo em termos regulatórios. Além disso, disseram, a transição para uma economia mais verde deve ajudar a compensar a desaceleração que a China deve sofrer com o mercado imobiliário.

Especialistas ouvidos pelo InfoMoney também apresentam uma visão construtiva para os ativos chineses no longo prazo, e há quem acredite que mesmo o curto prazo possa ser positivo. O momento atual, portanto, seria um bom ponto de entrada.

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Após o período de forte arrocho monetário e queda nos preços de alguns papéis, ações de setores como saúde, veículos elétricos, semicondutores, energia eólica e consumo doméstico são algumas das preferências dos executivos ouvidos pela reportagem.

Para isso, a sugestão dos especialistas é optar por investimentos via fundos – ainda que vários sejam mais voltados para investidores qualificados, ou seja, com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras. Outras opções são os fundos de índices (ETFs), como o (XINA11), os BDRs (recibos de ações de empresas estrangeiras negociadas na B3) ou mesmo os BDRs de ETFs, como o BCHI39.

2022: ano do otimismo

Enquanto 2021 foi um ano de ajustes, 2022 vai ser um ano em que o governo deve soltar as “amarras”. Essa pelo menos é a visão de Fernando Fenolio, economista-chefe da gestora WHG.

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Para ele, a política fiscal deve ser afrouxada, ou seja, o governo deve emitir mais títulos públicos, prover um pouco mais de liquidez ao mercado e “suavizar” um pouco na parte de crédito.

“Apertou demais o crédito e agora precisa soltar um pouco, mas não muito. Isso porque o país quer crescer, mas sem gerar desequilíbrios como ocorreu no passado”, pondera Fenolio.

Stefano Chao, CIO da Azimut China e gestor de um fundo da AZ Quest que investe em China, vai na mesma linha. O executivo diz que um dos pontos positivos é que o governo começou relaxar um pouco a política de Covid-19 zero – em que fechava cidades após o aparecimento de poucos casos, como forma de se antecipar à chegada dos Jogos Olímpicos de Inverno 2022, em fevereiro.

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China
(Photo by Linh Pham/Getty Images)

O relaxamento desse tipo de política, diz Chao, é bem visto porque o fechamento de cidades costuma gerar problemas na cadeia produtiva e impactar o mercado consumidor.

Outro fator, segundo ele, é que cerca de 80% da população já está totalmente vacinada, o que pode ajudar a aumentar a confiança do consumidor. Isso sem contar o relaxamento das restrições contra o setor imobiliário.

“As severas repressões contra as incorporadoras imobiliárias começaram a ser relaxadas para evitar o contágio […]. Nós acreditamos que o objetivo do governo é não permitir que incorporadores imobiliários fiquem superalavancadas [superendividadas], ao mesmo tempo em que ele quer que mais operadores saudáveis continuem funcionando”, pondera Chao.

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Um exemplo disso, segundo o executivo da Azimut China, é que agora voltou a ser mais fácil obter uma hipoteca. Ele destaca que antes as regras estavam mais duras, o que levou inclusive a uma queda forte nas vendas de casas.

Além de uma reestruturação em temas consideradas importantes pelos analistas, a China pode ser um bom “cavalo” em meio a um cenário de subida de juros nos Estados Unidos, que vem ganhando cada vez mais força após declarações recentes de Jerome Powell, presidente do banco central americano.

Na última semana, Powell disse que o banco provavelmente discutirá a aceleração da redução das compras de títulos em sua próxima reunião de política monetária, diante da força da economia e da expectativa de que a inflação elevada persistirá até meados do próximo ano.

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Ao mesmo tempo em que os Estados Unidos podem realizar mais de dois ajustes nos juros no ano que vem, Fenolio observa que o gigante asiático deve ir em sentido contrário.

Eles [governo chinês] aproveitaram a bonança econômica para fazer ajustes. Logo, no ano que vem, devem soltar um pouco a parte fiscal. Já os Estados Unidos devem subir juros, estão apertando a parte fiscal. Agora, é a hora dos americanos adotarem uma política mais agressiva.

Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG

Setores preferidos

Na hora de escolher as melhores peças para se posicionar, o economista da WHG diz que a casa olha com maior atenção para setores afetados pela mudança de matrizes energéticas e o setor de semicondutores.

“Se o investidor tiver uma estratégia de buy and hold [comprar os papéis com horizonte de longo prazo], o segmento de baterias de carro elétrico e energia eólica subiram muito. Ambos podem ter uma correção, mas vieram para ficar”, avalia Fenolio.

O envelhecimento da população e o impacto disso nos serviços de saúde também chamam a atenção de Chao, da Azimut China. Saúde é o setor preferido do gestor para o curto e para o longo prazos. “A lógica é bem simples. A China não está apenas ficando mais rica, como também está ficando mais velha. A população da China está desenvolvendo problemas relacionados a obesidade, diabetes, coração, entre outros, e a demanda por serviços de saúde também está aumentando muito”, afirma.

“Hoje, os gastos com saúde correspondem a cerca de US$ 960 bilhões anuais. A expectativa é que isso chegue a US$ 2,5 trilhões em 2030”, observa o executivo da Azimut, para quem outro tema que pode despontar no próximo ano está ligado ao consumo.

Ele não está sozinho. Jennie Li, estrategista de ações da XP, afirma que um dos segmentos que podem crescer ainda mais nos próximos anos é o de empresas voltadas ao consumo doméstico, como as que oferecem um estilo de vida mais saudável ou aquelas atreladas ao mundo dos esportes. Entre os exemplos estão a varejista Li-Ning, que é um dos maiores produtores de calçado e material esportivo na China.

“Além de setores de tecnologia e transição energética, empresas de varejo e consumo podem ir muito bem impulsionadas pelo crescimento do consumo no país”, avalia Jennie.

Riscos no radar

Embora a visão de algumas casas seja mais positiva sobre as perspectivas para a economia chinesa, a falta de visibilidade sobre quais serão os próximos passos do governo ainda afastam parte dos investidores, na visão da equipe de análise da XP.

Para Jennie, não é possível saber se chegou mesmo ao fim o ciclo de intervenções do governo em vários setores. “As intervenções não são necessariamente negativas, porque havia um desequilíbrio e o governo quis corrigir isso. Há um plano de longo prazo por trás desses ajustes”, observa a analista.

Para alguns bancos de investimento, o fato de o governo chinês já ter intervindo nos três setores de maior custo para as famílias – residencial (imobiliário), educação e saúde – é a razão para considerar a chegada a um “ponto de inflexão”. Jennie, no entanto, tem uma visão mais cautelosa.

“Permanecemos com uma visão mais neutra para a China. No curto prazo, há um risco de maior regulação. Mas no longo prazo, o país tem empresas com muito potencial de crescimento”, afirma. Ali, o investidor está exposto a companhias diferentes das ocidentais”.

Outro ponto de atenção está na nova variante do coronavírus, a ômicron. Para a especialista da XP, o país pode continuar a adotar uma política de restrição de mobilidade, especialmente se a cepa se revelar mais preocupante.

Mas para Fenolio, da WHG, que sustenta uma visão mais construtiva para o país, se as medidas mais duras de restrição de circulação são negativas para o consumo, por outro lado podem ajudar os chineses a controlar a variante, causando impacto menor para a economia.

Como investir

Uma das dificuldades para investir na China é o leque de opções restrito de investimentos abertos para o varejo, se comparado a outros países como Estados Unidos. Muitos dos produtos disponíveis são focados em investidores qualificados.

Entre as alternativas mais acessíveis, Jennie, da XP, cita o ETF XINA11, um fundo de índice que tem suas cotas negociadas no pregão, tal e qual uma ação.

Outra opção são os BDRs de ETFs, recibos negociados na B3 e lastreados em fundos de índices listados em bolsas internacionais. Um deles é o iSharesMSCI China ETF (BCHI39).

Tanto o XINA11 quanto o BCHI39 replicam a carteira do índice MSCI China, formado pelos papéis de 739 companhias, o que corresponde a cerca de 85% das ações chinesas. Com um detalhe, destaca Jennie: o índice é focado em companhias de tecnologia e serviços de comunicação, como Alibaba e Xiaomi.

“Empresas de tech estão mais expostas a maior regulação pelo governo. Podem ser bons pontos de entrada, se o investidor tiver o foco no longo prazo. Isso porque no curto prazo, a regulação pode continuar”, pondera a estrategista, reforçando que é importante diversificar a exposição com ativos de outros setores.

Há ainda a possibilidade de investir diretamente em BDRs de ações chinesas, acrescenta Jennie. Atualmente, na Bolsa brasileira, existem recibos de ações que representam empresas chinesas de setores variados – da tecnologia até a educação ou a energia.

Outra opção é o acesso via fundos de investimento. Hoje, há 48 opções de fundos registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com estratégias passivas e ativas voltadas para a China. Dessa lista, a preferência, segundo Jennie, deve ser por fundos com gestão ativa. Entre as opções, há algumas estratégias ativas, como as da WHG e da AZ Quest, por exemplo.

Confira a lista de fundos que aplicam em ativos da China, de forma passiva e ativa: 

Nomes dos fundos
ABERDEEN CHINA EQUITY ADVISORY FIA IE
ABERDEEN CHINA EQUITY DOLAR ADVISORY FIC FIA IE
ABERDEEN CHINA EQUITY DOLAR ADVISORY MASTER FIA IE
ACADIAN CHINA A SHARES FI EM COTAS DE FI EM AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR
ACADIAN CHINA A SHARES FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR
ACCESS CHINA ADVANTAGE A21 FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR
ACCESS CHINA ADVANTAGE AG21 FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR
ACCESS CHINA ADVANTAGE FUNDO DE INVESTIMENTO MULTIMERCADO CRÉDITO PRIVADO INVESTIMENTO NO EXTERIOR
AZ QUEST AZIMUT EQUITY CHINA FIC DE FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR
AZ QUEST AZIMUT EQUITY CHINA FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES – INVESTIMENTO NO EXTERIOR
AZ QUEST AZIMUT EQUITY CHINA MASTER FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES – INVESTIMENTO NO EXTERIOR
BOCOM BBM CHINA BONDS FIC DE FUNDOS DE INVESTIMENTO MULTIMERCADO INVESTIMENTO NO EXTERIOR
BOCOM BBM CHINA BONDS FUNDO DE INVESTIMENTO MULTIMERCADO INVESTIMENTO NO EXTERIOR
BOCOM BBM CHINA FIA IE
BOCOM BBM CHINA FIC DE FIA IE
BRADESCO CHINA FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR
BRADESCO FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES CHINA BRL BDR NÍVEL I
BV China Fundo de Investimento em Ações
CSHG CHINA A-SHARES BRL FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES – INVESTIMENTO NO EXTERIOR
GENIAL SCHRODER CHINA FIA IE
GENIAL SCHRODER CHINA FIC FIA IE
INVESCO GREATER CHINA EQUITY DOLAR FI EM COTAS DE FUNDOS DE INVESTIMENTO DE AÇÕES IE
INVESCO GREATER CHINA EQUITY DOLAR INSTITUCIONAL FI EM COTAS DE FI AÇÕES IE
INVESCO GREATER CHINA EQUITY FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR
ITAÚ CHINA TECH AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR FUNDO DE INVESTIMENTO
ITAÚ CHINA TECH AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR FUNDO DE INVESTIMENTO EM COTAS DE FUNDOS DE INVESTIME
ITAÚ INDEX CHINA TECH AÇÕES CNY HKD INVESTIMENTO NO EXTERIOR FUNDO DE INVESTIMENTO EM COTAS DE FUNDO
ITAÚ SELEÇÃO J CHINA AÇÕES USD INVESTIMENTO NO EXTERIOR FICFI
J CHINA EQUITY 30 ADVISORY FIA IE
J CHINA EQUITY 30 DOLAR ADVISORY FIC FIA IE
J CHINA EQUITY ADVISORY FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR
J CHINA EQUITY DÓLAR ADVISORY FIC FIA INVESTIMENTO NO EXTERIOR
J CHINA EQUITY DÓLAR ADVISORY MASTER FIA INVESTIMENTO NO EXTERIOR
J CHINA EQUITY DOLAR DOMINUS FIC FIA IE
J CHINA OPPORTUNITIES ADVISORY FIA IE
J CHINA OPPORTUNITIES DOLAR ADVISORY FIC FIA IE
J CHINA OPPORTUNITIES DOLAR ADVISORY MASTER FIA IE
MACCHINA FUNDO DE INVESTIMENTO MULTIMERCADO CRÉDITO PRIVADO INVESTIMENTO NO EXTERIOR
MANAGER JSS EQUITY ALL CHINA FUNDO DE INVESTIMENTO MULTIMERCADO INVESTIMENTO NO EXTERIOR
PS CHINA ADVANTAGE J21 FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES INVESTIMENTO NO EXTERIOR
TREND CHINA TECH FUNDO DE INVESTIMENTO MULTIMERCADO
TREND ETF MSCI CHINA FUNDO DE INVESTIMENTO DE INDICE INVESTIMENTO NO EXTERIOR
VÉRTICE J CHINA AÇÕES USD INVESTIMENTO NO EXTERIOR FUNDO DE INVESTIMENTO
WELLINGTON ALL-CHINA FOCUS EQUITY ADVISORY FUNDO DE INVESTIMENTO EM AÇÕES IE
WELLINGTON ALL-CHINA FOCUS EQUITY DOLAR ADVISORY FIC FIA IE
WELLINGTON ALL-CHINA FOCUS EQUITY DOLAR ADVISORY MASTER FIA IE
WHG CHINA MACRO MASTER MULTIMERCADO FUNDO DE INVESTIMENTO CRÉDITO PRIVADO
WHG CHINA MACRO MULTIMERCADO FUNDO DE INVESTIMENTO EM COTAS DE FUNDOS DE INVESTIMENTO CP

Fonte: CVM

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