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Na Argentina, a proximidade do primeiro turno das eleições presidenciais e a volatilidade que deve acompanhar um novo governo têm levado os investidores a repensarem o portfólio, em especial após fortes ganhos na bolsa local.
Mas como investir em um país visto como o foco das incertezas no continente? Apesar do paradoxo e dos altos riscos envolvidos, o consenso é de que as oportunidades estão no mercado de títulos.
A decisão de investir em bonds argentinos (papéis de renda fixa) passa por avaliar os riscos, dada a grave crise econômica em um país que já deu calote na dívida anteriormente – e não foi uma só vez. Mas especialistas estão empenhados em pescar os melhores papéis, apostando que os ganhos com ações já ficaram para trás.
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O Merval, principal índice da bolsa argentina, registra alta de quase 167% neste ano, segundo dados da plataforma Eikon – e isso já considerando o desempenho em dólar, ou seja, incorporando as variações do câmbio para o peso argentino.
É a maior alta entre os índices globais compilados pela plataforma. A segunda colocação está com o FTSE/Arthex Large Cap, da bolsa grega, seguido pelo índice americano Nasdaq, com variações de cerca de 30% e de 28% em 2023, respectivamente.
Na avaliação de Daniel Delabio, gestor da Exploritas, o Merval tem perdido força nos últimos pregões e a tendência é de que isso se acentue com a definição das eleições.
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O primeiro turno ocorre no próximo domingo (22), e há chance de a disputa seguir para o segundo turno, marcado para novembro. Atualmente, o candidato de extrema-direita Javier Milei e o peronista Sergio Massa aparecem à frente nas pesquisas.
O momento [após as eleições] é de ajuste fiscal na Argentina. Isso é positivo para o longo prazo, mas negativo no curto prazo. As pessoas vão ficar com menos renda e isso vai ser doloroso para as empresas. [Por isso] os bonds [títulos de renda fixa] devem ir um pouco melhor.
Daniel Delabio, gestor da Exploritas
Para engolir o risco, só com alto retorno
Comprar ou não bonds argentinos depende do apetite ao risco de cada investidor. A Argentina já deu calotes na sua dívida que renderam longas disputas judiciais.
Num caso famoso, fundos “abutres” – focados em ativos de baixa qualidade de crédito – foram à Justiça americana buscar compensações por perdas financeiras com bonds argentinos após um default em 2001. O caso, no entanto, só foi resolvido 15 anos mais tarde, depois de o país fazer um acordo com credores para sair da condição de moratória.
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Milei, o candidato que aparece na frente em várias pesquisas, tem defendido um corte radical das despesas públicas, o que tem adicionado volatilidade aos títulos negociados nas últimas semanas.
A taxa básica de juros do país foi elevada na última quinta-feira (12) de 118% para 133%. A cotação oficial da moeda argentina está em 350 pesos por dólar, mas no mercado paralelo o dólar “blue” chegou a alcançar mil pesos na semana passada. A inflação passa dos 130% em 12 meses.
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Mesmo para os “fortes”, comprar papéis de um emissor com histórico de calotes e em meio a um cenário macroeconômico turbulento é um risco que só é engolido se o retorno compensar.
E para alguns, já está compensando. A depender do papel escolhido e das condições de compra, o retorno dos títulos públicos pode alcançar 30% – em dólar.
Segundo Delabio, da Exploritas, além das altas taxas de juros altas pagas por esses papéis, a liquidez do mercado (cerca de 20 vezes maior que a da bolsa argentina), as garantias dos títulos mais recentes e os pré-pagamentos (amortizações) ajudam a deixar a renda fixa do país vizinho um pouco mais segura – ou menos arriscada.
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“No título, há uma obrigatoriedade a pagar, que pode ou não ser cumprida. Na ação, não tem isso. O mercado de bonds argentinos é gigantesco, de mais de US$ 100 bilhões. Alguns bonds de províncias são garantidos pela receita de royalties”, diz o gestor. Ao contrário do Brasil, onde apenas o governo federal pode emitir títulos, na Argentina os entes subnacionais – como as províncias – também podem.
“A amortização somada aos juros faz com que o investidor tenha um retorno esperado de um terço do valor investido hoje”, calcula Delabio.
No cardápio…
Após preparar o estômago para suportar o risco, o investidor se vê diante de algumas opções no cardápio de títulos na Argentina.
Da lista, Delabio destaca os títulos soberanos com vencimento em 2037, que pagam pouco mais de 7% ao ano em dólar. Para além dos juros prometidos, o que é de fato atrativo é o momento de “promoção”.
Os papéis, emitidos na última reestruturação econômica argentina, em 2020, estão sendo negociados a cerca de US$ 0,30 para cada dólar do valor de face, com um desconto de 70% em média. A amortização, no entanto, é paga em cima do valor cheio, ampliando as possibilidades de ganhos.
Somando os juros mais a amortização, o investidor desses títulos deve conseguir, já no próximo ano, pouco mais de 30% de rendimento sobre o valor desembolsado hoje.
A Exploritas está de olho em títulos com esse nível de desconto, seja em bonds soberanos da Argentina ou de províncias grandes, como a de Buenos Aires (o predileto) e Córdoba. Cerca de 9% do patrimônio do fundo está aplicado nesses papéis.
Por enquanto, investidores estão apostando na possiblidade de dolarização da economia argentina, como prometido por Milei. Ariel Sbdar, CEO da Cocos Capital, avalia que essa medida poderia ser um vetor positivo para os investimentos. Nesse cenário, os papéis descontados tendem a recuperar parte de seu valor.
“Isso [dolarização] só será um problema para aqueles que não estiverem preparados”, disse, em entrevista à Bloomberg.
É por essa razão que os gestores locais também estão recomendando a seus clientes os aportes em títulos similares, os chamados “bonos dólar linked“, que se ajustam automaticamente de acordo com a evolução do câmbio oficial da moeda americana. A preferência é por papéis muito curtos.
E para quem quer investir no mercado global de bonds, mas com exposição ao risco e ao prêmio da Argentina, a recomendação da corretora Invertir Online são os papéis soberanos com vencimento em 2035. Esses títulos têm juros menores, de pouco menos de 2%. Mas, como também estão descontados, devem entregar no próximo ano um rendimento de 25% em dólar.
“O objetivo é começar a construir uma cobertura contra o câmbio diante do cenário de incerteza que se apresenta para dezembro deste ano [após as eleições]”, de acordo com relatório da gestora argentina.