Ano promete quatro altas do Fed e ‘cabo de guerra’ nos EUA entre lucros das empresas e taxas de juros crescentes, diz executivo da Blackstone

Na visão da casa, rendimentos dos títulos do Tesouro americano com prazo de 10 anos podem chegar a 2,75% em 2022

Bruna Furlani

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O aperto monetário nos Estados Unidos que pode levar a três ou quatro ajustes dos juros neste ano pode provocar um verdadeiro “cabo de guerra” entre os lucros das empresas, que devem se manter saudáveis, e as taxas de juros crescentes no País.

Essa pelo menos é a visão de Joe Zidle, diretor-administrativo e estrategista-chefe de investimento no Grupo Private Wealth Solutions, que faz parte da gestora Blackstone – com mais de US$ 731 bilhões sobre gestão. O executivo participou de painel do Onde Investir 2022, evento online promovido pelo InfoMoney, em parceria com a XP Investimentos, nesta quinta-feira (veja a agenda dos próximos dias).

Para Zidle, a tensão entre ambos deve ocorrer porque anteriormente a performance das ações americanas recebeu ajuda não só pela alta dos lucros corporativos, como pela redução nas taxas de juros.

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Agora, segundo ele, será preciso incluir a elevação dos juros nessa conta, o que pode pesar negativamente para os índices que devem avançar menos, até cerca de 10%, ou até mesmo recuar em 2022 com o aumento da volatilidade.

Na visão da gestora, o Federal Reserve (Fed), que é o banco central americano, deverá tomar uma atitude mais agressiva para combater a alta de preços e elevar os juros quatro vezes neste ano.

Entretanto, o ponto de maior atenção estará no ritmo dessa elevação. Segundo Zidle, esse fator costuma ser mais importante do que o aumento das taxas de juros em si.

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O executivo explica que ciclos de juros em que a alta é feita de forma lenta tendem a impactar menos as ações, que continuam a apresentar boa performance ao longo dos três primeiros anos de ajuste. Já quando os ciclos de alta são rápidos e mais agressivos, é preciso cuidado, acrescentou.

Maiores apostas: habitação, logística e disrupção digital

Embora os desafios sejam maiores em um cenário de aperto monetário, ele diz que está otimista com a economia americana e destaca entre as suas maiores apostas os setores de habitação, logística e disrupção digital.

O primeiro, conforme ele, é um tema de grande convicção na Blackstone. Zidle avalia que o País está diante dos primeiros anos de um ciclo imobiliário de longo prazo. Entre os motivos está o fato de que foram construídos menos imóveis durante o último ciclo de expansão econômica.

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A razão, diz, é que o setor imobiliário nos Estados Unidos demorou muito para se recuperar depois da crise financeira. Do lado da oferta, afirma, foram construídas cerca de 5,5 milhões de unidades a menos. Já do lado da demanda, chegaram milhares de millennials perto de completar 30 anos nos próximos anos, o que deve impulsionar as vendas para pessoas que buscam o primeiro imóvel.

Nem mesmo a alta das taxas de juros nos Estados Unidos deve frear esse movimento, na visão de Zidle. “Quando o mercado de trabalho está saudável, mesmo com juros altos, as pessoas encontram áreas mais baratas para morar”, pondera.

A gestora também conta que segue bastante positiva com o setor de logística. “Nesse caso, nos referimos a armazéns que atendem à crescente indústria de e-commerce. Ainda há uma falta de espaços de armazenagem não só nos Estados Unidos, mas no mundo todo”, afirma.

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Adicionalmente, ele destaca o segmento relacionado à disrupção digital, que deve continuar um tema secular, diante do fato de que plataformas tradicionais vão continuar passando por mudanças em seus conteúdos online.

Ações de valor versus ações de crescimento

Outro tema que volta a ganhar mais força neste ano, segundo Zidle, é a discussão sobre papéis de valor e de crescimento. Para ele, em um cenário de juros mais elevados nos Estados Unidos, ações de valor tenderão a ser mais atrativas.

A explicação, segundo o gestor, é que, quando a economia está acelerando, empresas mais orientadas para valor tendem a sentir primeiro os efeitos disso. Como exemplo, ele cita companhias de bens materiais, industriais, energia e commodities.

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Por outro lado, observa, muitos negócios de crescimento nos Estados Unidos estão em um estágio pré-receita, ou ainda pré-lucro. “Empresas nesses estágios podem ser especialmente afetadas em ambientes inflacionários porque aquele fluxo de caixa futuro tem que ser descontado a uma taxa de juros mais alta”, avalia.

Para exemplificar, ele cita o caso de quatro empresas de táxi aéreo que foram listadas na Bolsa americana recentemente e que não possuem receita nem lucro. Logo, observa, o fluxo de caixa está muito distante e esse tipo de ativo é o que terá “desempenho abaixo da média” em um cenário de inflação pressionada e juros mais altos nos Estados Unidos.

“Empresas que podem produzir um fluxo de caixa robusto, no entanto, serão muito mais valorizadas em um ambiente com alta das taxas de juros ou de inflação”, destaca.

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Surpresas de 2022

Famosa pela lista que é divulgada todo início de ano com as previsões da casa para a economia global, a gestora Blackstone afirma que o cenário atual pode fazer com que os rendimentos dos títulos do Tesouro americano (T-notes) com prazo de 10 anos cheguem a 2,75% em 2022. Na sessão desta última quarta-feira (12), o retorno oferecido por esse papel ficou próximo de 1,8%.

O avanço, explica, deve ser efeito da combinação de aumentos agressivos do Fed aliados a uma economia em expansão e que apresenta uma inflação crescente.

“O Federal Reserve possui larga experiência na gestão de pressões deflacionárias e crescimento mais lento. Ele tem feito isso nos últimos 30 anos”, afirma. “No entanto, faz tempo que não vemos uma economia em expansão com preços crescentes”, complementa.

Também entre as previsões que são feitas por Joe Zidle e outros executivos de sua equipe na casa está a ideia de que o preço do barril de petróleo deve superar os US$ 100 neste ano. Segundo ele, mais uma vez, a expansão econômica e o baixo investimento em infraestrutura petrolífera ou energética devem fazer com que a cotação da commodity se mantenha elevada neste ano.

Brasil: é preciso paciência e cautela

Ao ser questionado sobre o investimento no Brasil, Zidle observa que a maior dificuldade do País hoje está no aperto monetário que o Fed deve iniciar neste ano. Isso porque, explica, com taxas mais altas nos Estados Unidos, investidores devem retirar dinheiro de ativos brasileiros para aplicar nos EUA, já que os rendimentos da renda fixa americana devem ficar maiores.

A boa notícia nesse caso, afirma, é que o Banco Central brasileiro possui grandes reservas de moeda estrangeira e que isso pode ajudar a estabilizar o câmbio e fazer com que o real não fique tão depreciado em relação ao dólar.

Outro ponto de atenção, pondera, é a alta de preços. Segundo o executivo, a inflação corrente está elevada, mas as expectativas apontam que ela voltará ao nível que deve ser percorrido pelo Banco Central brasileiro entre 2023 e 2024.

Logo, diz, os investidores não esperam que a inflação seja persistente no Brasil, como deve ocorrer em outros países. Ainda assim, ele destaca que é preciso ter paciência e aguardar para ter uma visão mais clara sobre o mercado de ações brasileiro, que está relativamente barato em relação à média histórica.

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