Ano da renda fixa? Analistas indicam os melhores títulos públicos e privados para 2023; confira

Levando em conta a volatilidade da economia, alternativas mencionadas envolvem papéis pós e prefixados, muitos deles isentos de Imposto de Renda

Neide Martingo

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Aquela vontade de atualizar a vida após a virada do ano costuma respingar também nos investimentos – um momento de inspiração para rever a carteira ou começar uma. Por conta dos juros altos, que devem se manter assim pelos próximos meses, a renda fixa tem ganhado destaque nesse processo.

Mas essa classe inclui várias opções, e nem sempre é simples escolher entre elas. Além dos títulos públicos, há a sopa de letrinhas da renda fixa privada: CDBs (Certificados de Depósito Bancário), CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (Certificado de Recebimento do Agronegócio), LCIs (Letra de Crédito Imobiliário), LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio), além das debêntures.

Como, então, montar uma carteira de renda fixa para 2023? A pedido do Infomoney, analistas detalharam as características de cada título, além das vantagens e desvantagens dos papéis públicos e privados, para que o investidor possa alocar seus recursos com segurança neste ano e respeitando o seu perfil.

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As opiniões variam entre os especialistas. “Acredito em uma alta do juro real na economia neste ano, que é um reflexo de uma redução da inflação global e doméstica. Por conta disso, os títulos atrelados à inflação devem ser negociados com taxas maiores e, por isso, acreditamos ser a melhor opção para 2023”, afirma Vitor Amor Wolfgram, analista CNPI de crédito privado da Levante Investimentos.

Num segundo momento, Wolfgram diz que poderá ser possível perceber a variação dos preços no decorrer da existência do título, devido à marcação a mercado – o que também é um fator importante para quem não deseja segurar o papel até o vencimento. “Faço a ressalva porque esse cenário pode variar sensivelmente com a política fiscal. Uma nova âncora fiscal fraca, por exemplo, pode mudar totalmente o cenário descrito”.

Por falar em marcação a mercado, trata-se de um assunto importante para quem quer investir em renda fixa neste ano. Desde o dia 2 de janeiro, a atualização periódica do valor dos título de acordo com as condições do mercado foi estendida a diversos papéis que, até então, eram marcados apenas “na curva”.

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“Todos que possuem debêntures, CRIs, CRAs e títulos públicos federais comprados fora do Tesouro Direto terão a marcação a mercado. O investidor que é conservador, tem aversão a risco e não gosta de ver muita oscilação nos investimentos pode ter o estômago embrulhado, já que pode ver o patrimônio com retorno negativo em alguns dias”, detalha Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para pessoa física do Itaú BBA.

Ele afirma que os títulos de emissão bancária – como CDB, LCI e LCA – passam a embutir uma “relativa atratividade”, já que não há alteração na forma como seu valor é atualizado nas carteiras de investimentos. Eles seguem sendo marcados “na curva”, ou seja, de acordo com as taxas contratadas no momento do investimento.

Importante lembrar que essa suposta vantagem dificilmente se refletiria na “vida real”: se quisesse vender um título bancário antes do vencimento, o investidor precisaria fazê-lo a preços de mercado (que podem ser diferentes daqueles apurados na marcação “na curva”).

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Wolfgram, da Levante, destaca a questão tributária dos investimentos de renda fixa. Na sua visão, ativos com isenção de Imposto de Renda devem se beneficiar em cenário de taxa de juros elevada. Sua preferência, portanto, com a manutenção da Selic em patamar alto, é por produtos CRI, CRA, LCI, LCA e debêntures incentivadas.

Mas é preciso atenção na hora de escolher o investimento. Diante das incertezas no mercado doméstico e também externo, investir em renda fixa por meio de fundos – no lugar de diretamente nos papéis – pode ser uma alternativa.

“Optar por papéis de empresas abaixo da primeira linha, ou seja, companhias que podem passar algum aperto, mas que vão superar esse ciclo ruim da economia, pode render remunerações elevadas com risco relativamente baixo”, diz Wolfgram. Mas deixar essa escolha para os gestores profissionais tende a ser mais seguro, em sua visão. É uma estratégia apenas para investidores experientes e com perfil de risco adequado, ressalta.

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Confira a visão dos especialistas sobre as diferentes alternativas de investimento da renda fixa para 2023:

LCI, LCA e debêntures incentivadas

“Como está tudo nebuloso”, como diz Thiago Calestini, economista e sócio da DOM Investimentos, e não se sabe ainda quais serão os próximos passos do novo governo na economia, o caminho é focar “nos papéis de renda fixa curtos, como  LCIs e LCAs, que têm isenção de Imposto de Renda”.

Calestine tem motivos para pensar desta forma. O dinheiro fica “preso” por menos tempo, e rendendo. Os recursos podem permanecer alocados por três ou seis meses, por exemplo. E, no vencimento, é possível reavaliar o cenário econômico e tomar uma nova decisão.

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“Todo o cuidado deve ser dispensado na avaliação da capacidade de pagamento por parte do emissor do título”, recomenda o diretor de renda fixa da gestora Empírica, Renato Lázaro Ramos.

Já se as incertezas na economia se dissiparem, é possível optar por uma debênture mais longa”, diz Thiago Calestine. “Mas é melhor esperar um pouco, antes de entrar nas debêntures”, destaca.

As debêntures incentivadas servem para captar recursos para projetos específicos e também são chamadas de debêntures de infraestrutura. Entre os setores prioritários para a emissão dos papéis estão logística, transporte, saneamento básico, energia e muitos outros.

O incentivo oferecido nessas debêntures, para despertar o interesse dos investidores, é igualmente a isenção de Imposto de Renda sobre o rendimento, considerada uma vantagem do produto.

CRA e CRI

Os CRAs e os CRIs devem ser analisados projeto a projeto. “Este será um ano desafiador para a economia no geral. Por isso, é melhor avaliar caso a caso”, explica Queiroz, do Itaú BBA.

O ano de 2022 foi bom para ambos os ativos. Mas é preciso lembrar que eles não contam com a proteção do FGC, o Fundo Garantidor de Crédito, que devolve até R$ 250 mil por investidor e instituição financeira em caso de insolvência.

Os dois papéis, que chamam atenção também por serem isentos de Imposto de Renda, se destacaram nas emissões realizadas no mercado em 2022. Ambos somara um volume de R$ 79,9 bilhões no acumulado do ano passado, um aumento de 69% em comparação com o mesmo intervalo de 2021.

Os ativos, que já vinham crescendo ao longo do ano, atingiram captações de R$ 1,2 bilhão, no caso dos CRAs, e de R$ 4,5 bilhões, no caso dos CRIs só em novembro de 2022. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

“Nos momentos ruins, eles tendem a ser menos ruins. E nos momentos bons, são muito bons”, diz Queiroz. “O Brasil se destaca por conta do clima e do solo, então o agronegócio é um grande setor do País. Os investidores de CRAs acabam se beneficiando, porque isso tira um pouco do risco deles”.

Um das sugestões de investimento de David Camacho, sócio-fundador e gestor da Devant Asset, é o CRI da Petrobras, lançado no mercado em setembro do ano passado.

CDBs

Quem opta pelo CDB, um dos ativos mais conhecidos de renda fixa, sabe que precisará pagar Imposto de Renda. Mas ele oferece uma vantagem que os CRIs, CRAs e debêntures não têm: é protegido pelo FGC.

David Camacho, sócio-fundador e gestor da Devant Asset, explica que o CDB permite que se faça uma “trava” no investimento. “Com as taxas nas alturas, o investidor pode ganhar com um prazo de dois ou três anos. Se tudo ocorrer bem e não tivermos um problema fiscal maior e os juros começarem a cair, a pessoa garantirá uma taxa muito boa”.

Arley Junior, estrategista de investimentos do Santander, ressalta que a renda fixa tende a ter mais um ano de destaque nas recomendações. Os produtos atrelado à taxa do CDI (principal indicador de rentabilidade da renda fixa) acompanham a evolução da taxa Selic – e, portanto, estão em patamares bastante atrativos. “Um bom caminho é separar o dinheiro do dia a dia e colocar num CDB, fundo DI ou Tesouro Selic. A taxa é alta e são valores que podem ser resgatados a qualquer momento”, detalha.

Dentro do bloco de renda fixa, Arley recomenda que o investidor opte por um CDB ou fundo e uma letra de crédito. “A letra, porque tem isenção de Imposto de Renda. Mas não tem liquidez diária e tem carência obrigatória de noventa dias”, detalha.

Outra sugestão do especialista: os papéis prefixados também podem ser considerados para compor uma carteira. “Neste momento, temos recomendado inclusive um LCA prefixado, por exemplo, porque a taxa de juros está alta”, diz. “De novo, temos uma combinação de pré e pós-fixados, aproveitando o momento de mercado”.

Títulos públicos

A carteira sugerida do Itaú BBA destaca o Tesouro IPCA+ 2035 para 2023.  Ramos, da Empírica, faz eco: para ele, os títulos mais longos atrelados à inflação são uma boa oportunidade hoje. “Pode existir volatilidade no preço, mas não risco”.

Segundo ele, em razão de uma inflação não prevista, como aconteceu recentemente, com a taxa de juros no patamar atual, comprar títulos mais longos indexados atrelados ao IPCA é excelente oportunidade.

Dadas as perspectivas para a Selic, o cenário é de juros reais (descontada a inflação) também elevados em 2023 – o que torna os títulos indexados à inflação uma opção atraente para os investidores mais arrojados.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney