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Ano atípico fez investidor faturar alto em dólar com renda fixa e Bolsa – 2024 poderá repetir?

Para analistas, ganhos fortes nas rendas fixa e variável dos EUA ainda pode ter sobrevida por alguns meses

Ana Paula Ribeiro

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Uma combinação pouco usual de condições econômicas fez de 2023 um ano em que o investidor que levou dinheiro para os Estados Unidos lucrou alto com ativos de renda fixa. Em um país em que os juros costumam estar próximos de zero, remunerações passaram de 5% anuais. Apesar disso, a Bolsa sai como ganhadora.

No ano, o S&P 500 acumula ganhos de mais de 24%, o Nasdaq, concentrado em ações do setor de tecnologia, avança acima de 44%, e o Dow Jones salta quase 13% no período. Já os principais ETFs (fundos de índice) que acompanham o mercado de bonds, BND e AGG, subiram apenas1,58% e 1,30%, respectivamente – fazendo do mercado de ações mais uma vez o grande destaque do ano entre investimentos no exterior.

A alta nos índices S&P 500 e Nasdaq foi mais recentemente impulsionada pela expectativa de que os juros nos Estados Unidos vão começar a cair. No entanto, devem boa parte de seus desempenhos à valorização das ações de tecnologia, ajudada pelo crescimento da narrativa da inteligência artificial (IA).

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“Esse movimento foi muito sustentado pelas ‘Magnificent Seven’ (sete magníficas, grupo formado por Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla). Quando se retira essas empresas, o que vemos é um resultado bem diferente”, avalia Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos.

Confira o desempenho dos principais investimentos no exterior em 2023:

ÍndiceVariação acumulada no ano
S&P 50024,33%
Nasdaq44,34%
Dow Jones12.82%
Euro Stoxx 5017,26%
Dax (Alemanha)18,74%
Shangai Composite-6,98%
Vanguard Total Bond (BND)1,58%
iShares Core Aggregate Bond (AGG)1,30%
Fonte: CNBC

A decepção do ano ficou por conta da Bolsa chinesa, com o índice Shangai Composite registrando queda de quase 7%. Mas, os números fortes dos EUA não contam sozinhos a história de 2023.

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“Foi um ano bom para a Bolsa americana, mas foi um ano bom com muita volatilidade e muita dúvida”, resume Alex Lima, estrategista-chefe da Guide Investimentos.

A volatilidade na renda variável no ano que passou passou sobretudo por uma nova guerra, pelos EUA beirando uma paralisação de despesas (“shutdown“), e pela inflação pressionando as taxas dos títulos do Tesouro (Treasuries) de dez anos, que balizam os ativos de renda fixa mundiais.

“A taxa longa de juros nos Estados Unidos em 5% muda a alocação preferencial de investimentos do mundo. Ninguém vai tomar risco se pode ganhar 5% por dez anos em dólar”, avalia Lima.

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Os juros em patamar alto, na faixa entre 5,25% a 5,50% ao ano, tampouco significam que 2023 foi um mar de rosas para a renda fixa. O cenário de incerteza elevou a volatilidade desses títulos e os investidores podem ter amargado perdas devido à marcação a mercado, que envolve a atualização diária de ativos financeiros: se os juros sobem, o preço de um título cai, causando as perdas mesmo que momentâneas.

Em que investir no exterior em 2024?

Apesar de cortes na renda fixa americana já estarem no horizonte do mercado, a renda fixa ainda poderá oferecer ganhos no próximo ano. Para Lima, da Guide, a oportunidade está em papéis de prazos mais curtos, de dois a quatro anos. Ele destaca os Treasuries de dois anos, que pagam atualmente 4,35%. “É uma taxa interessante e, ainda que a estratégia estiver errada, o juro [desse papel] nesse prazo vai subir muito poco”, analisa, ressaltando a importância de travar a rentabilidade no patamar atual.

Títulos de prazos mais longos são vistos como mais arriscados. Apesar da perspectiva de queda dos juros pelo Fed, o estrategista acredita que as discussões sobre a situação fiscal nos Estados Unidos ainda irão causar muita volatilidade, abrindo espaço para perdas na marcação a mercado – se as taxas subirem nos próximos anos, o papel pode desvalorizar.

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Para Fábio Zaclis, gestor de fundos macro e renda fixa da Daycoval Asset, a melhor alocação também é na parte mais curta da curva, ou seja, nos ativos de prazos menores. “Quando falamos em taxas de longo prazo, o que se discute é o nível de equilibro dos juros e a situação fiscal americana. Os prazos mais longos não são dependentes apenas da política monetária, mas de outros fatores”, explica.

Na Bolsa dos EUA, as expectativas são mistas: de um lado, o otimismo com cortes nos juros; de outro, a dúvida sobre a saúde da economia americana.

Aos investidores com visão de longo prazo, Lima recomenda alocações em China. “Para quem olha o mercado internacional, a China nunca esteve tão barata, mas vai demorar para andar. É um governo que atualmente não está muito amigável ao mercado, mas é uma das maiores economias do mundo. É uma opção de ter 5% de renda variável”, diz.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney