AES Brasil (AESB3): prazo de subscrição encerra nos próximos dias; o que esperar da empresa?

Companhia está diversificando as suas fontes de energia; dividendos podem continuar magros no curto prazo

Katherine Rivas

AES Tietê - Ibitinga (Foto: Divulgação)

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A AES Brasil (AESB3), que atua no segmento de geração de energia elétrica, realizará uma oferta de ações com o objetivo de captar até R$ 1,12 bilhão. O período de subscrição termina nos próximos dias. Investidores que tinham a ação em carteira no dia 11 de agosto têm o direito a participar da subscrição e assim evitar a diluição da sua participação no capital social da empresa.

O aumento de capital da companhia contempla a emissão de, no mínimo, 52 milhões e no máximo 116 milhões de papéis pelo preço de R$ 9,61. Se for subscrito o montante mínimo, a expectativa da companhia é de captar R$ 500 milhões.

O prazo de subscrição iniciou no dia 12 de agosto e segue até 12 de setembro. Contudo, muitas corretoras optaram por fechar o período de exercício no aumento de capital nesta sexta-feira (9).

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É comum que os investidores aguardem os últimos dias para subscrever porque comparam o preço oferecido na subscrição com o preço das ações negociadas no mercado, explicam Vicente Guimarães e Luan Alves, da VG Research. No caso da AES Brasil, com o valor da subscrição em R$ 9,61, para compensar o investimento, os papéis AESB3 deveriam estar negociados na B3 acima deste preço. “Se AESB3 cair para R$ 9 ou R$ 8, não compensaria participar da oferta”, destacam os analistas.

Contudo, eles alertam que é natural que a cotação de uma ação recue no mercado em direção ao preço da subscrição. Quando foi anunciada a subscrição, no dia 8 de agosto, AESB3 era negociada a R$ 10.57. Alves explica que é natural que o investidor opte por subscrever um preço mais baixo. “Esse movimento foi empurrando o preço da ação para baixo”, afirma.

Houve também a pressão dos “vendidos”, que alugam ações no mercado com o objetivo de vendê-las quando suas cotações estiverem mais baixas. Segundo dados da B3, havia 16,2 milhões de ações AESB3 alugadas em 8 de agosto. Já na última quinta-feira (1), os papéis alugados somavam 28,6 milhões, patamar mais alto de 2022 e equivalente a 10,92% do free float (ações em circulação) da empresa.

No mesmo período, as ações recuaram cerca de 8%, segundo dados da Comdinheiro. No ano, a queda é de 11,27%. As ações da AES Brasil eram cotadas a R$ 9,84 por volta das 13h06 desta segunda-feira (5).

Confira 15 perguntas e respostas sobre a subscrição da AES Brasil, respondidas por Fabio Baroni, sócio-fundador do Ações Garantem o Futuro, Vicente Guimarães, CEO da VG Research, e Luan Alves, head de equity da VG Research.

• O que é subscrição?
• Quem tem direito de participar da subscrição da AES Brasil?
• Quem não é investidor da AES Brasil pode subscrever?
• Como será utilizado o dinheiro da subscrição?
• O que é o direito de subscrição, negociado sob o ticker AESB1?
• Qual o período que o investidor de AES Brasil tem para subscrever as ações?
• Quantas ações o investidor pode subscrever?
• O que acontece se o investidor não quiser subscrever?
• Qual o período máximo para vender o direito?
• Posso subscrever mais ações do que as que tenho direito?
• Como funcionam as sobras e quem pode participar?
• Quanto tempo demora para AESB1 virar AESB3?
• Existe risco de subscrição?
• Como avaliar se vale a pena subscrever?
• O que esperar dos dividendos da AESB3?

O que é subscrição?

A subscrição é uma chamada de capital que ocorre quando uma empresa precisa captar recursos. Ela utiliza o mercado de capitais para emitir novas ações. Todos os acionistas da empresa possuem o direito de investir mais recursos nela, para manter a mesma participação acionária na companhia e evitar a diluição.

Guimarães e Alves, da VG Research, explicam que as subscrições podem ser públicas ou privadas. As subscrições públicas são abertas aos não acionistas da empresa, mas dão preferência aos atuais investidores no aumento de capital.

As privadas são restritas a um grupo de acionistas. Os investidores atuais têm preferência para subscrever, na proporção do número de ações que possuem. E quem não é acionista da empresa só pode participar se comprar os direitos de subscrição dos que receberam. A subscrição em curso da AES Brasil é privada.

Quem tem direito a participar da subscrição da AES Brasil?

Baroni explica que os investidores que tinham AESB3 até o final do pregão de 11 de agosto de 2022, data de corte da operação, receberam os direitos (sem custo) para participar da oferta. Quem não tinha os papéis naquela ocasião pode participar se comprar os direitos de subscrição AESB1 de outro investidor da empresa na Bolsa.

Por meio da subscrição, o investidor que optar por exercer o seu direito poderá adquirir ações da AES Brasil por R$ 9,61.

Quem não é investidor da AES Brasil pode subscrever?

Sim, basta comprar o direito AESB1 no mercado. Com ele, será possível participar da oferta e comprar as ações por R$ 9,61.

Como será utilizado o dinheiro da subscrição?

Por ser uma geradora de energia elétrica, AES Brasil ainda é muito exposta ao risco hidrológico – seu portfólio era composto por 70% fontes hídricas e apenas 30% de outras fontes renováveis, como solar ou eólica. Luan Alves, da VG Research, explica que a companhia teve seus resultados afetados por crises hídricas em pelo menos três dos últimos oito anos.

Para mitigar os riscos, a companhia estabeleceu um planejamento estratégico que prevê um portfólio 50% baseado em fontes hídricas e 50% outras fontes renováveis até 2024. Para alcançar essa diversificação, AES Brasil precisa fazer investimentos.

Os recursos captados na subscrição serão utilizados para financiar a aquisição dos Complexos Eólicos Ventos do Araripe, Caetés e Cassino, sendo os dois primeiros localizados no Nordeste e o terceiro, no Rio Grande do Sul. O valor total dos negócios é de R$ 2,03 bilhões. A previsão é de que a capacidade instalada renovável da AES atinja 5,2 GW (gigawatts), sendo 4,2 GW em operação e 1 GW em construção.

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O que é o direito de subscrição, negociado sob o ticker AESB1?

AESB1 é o ticker do direito que os investidores receberam da companhia para participar da subscrição no dia 11 de agosto. Só poderá comprar as ações pelo preço de R$ 9,61 quem possuir estes direitos. Guimarães e Alves, da VG Research, explicam que o preço de AESB1 é dado pela diferença entre o preço de negociação das ações AESB3 no mercado e o valor das ações na subscrição.

Um exemplo: considerando o preço de fechamento de AESB3 na sexta-feira (2), de R$ 9,82, o direito de subscrição AESB1 custava R$ 0,21 (R$ 9,82 – R$ 9,61).

O funcionamento do direito de subscrição lembra o de uma opção: quanto mais elevado o preço de AESB3 no mercado, maior será o seu preço. Se a ação cair, o preço do direito também recua.

Qual o período que o investidor de AES Brasil tem para subscrever as ações?

O prazo iniciou no dia 12 de agosto e vai até 12 de setembro, próxima segunda-feira. Contudo, Baroni explica que geralmente as corretoras estabelecem um período mais curto de subscrição, para evitar descasamento nas datas. Ele cita que em instituições como XP e BTG o prazo limite para subscrever é sexta-feira (9). Por isso, é preciso que cada acionista consulte sua própria corretora ou banco a respeito.

Já para aqueles acionistas que não quiserem subscrever ações e optarem por vender os direitos no mercado, o prazo máximo de negociação encerra na terça-feira (6).

Quantas ações o investidor pode subscrever?

O investidor terá direito a subscrever o equivalente a 23,6% do número total de AESB3 que possui. Assim, um investidor que tenha 100 papéis pode subscrever mais 23 ações por R$ 9,61 na oferta. O valor que será descontado da conta no dia 12 equivale ao número de ações solicitadas multiplicado por R$ 9,61. Algumas corretoras apresentam ao investidor o número de ações que tem o direito de subscrever e o valor na área “Ativos em subscrição”.

O que acontece se o investidor não quiser subscrever?

Os acionistas que optarem por não subscrever terão a sua participação acionária na companhia diluída. Para quem não participar, a diluição será, no mínimo, de 9,56%, caso a oferta alcançar o menor tamanho esperado. Se atingir o patamar máximo, a diluição chegará a 19,10%.

Os analistas da VG Research destacam que, na prática, o investidor não perde capital – afinal, o número de ações que possui é mantido. O que diminui é a participação percentual no capital da empresa. A mudança, de fato, pode acontecer no valor recebido em dividendos, que pode diminuir. Isso porque um mesmo volume de proventos precisará ser dividido por um número maior de ações que passarão a existir após a oferta.

Qual o período máximo para vender o direito?

Os investidores que não participarem da oferta podem vender os direitos de subscrição AESB1 no mercado. O prazo limite para negociá-los é terça-feira (6).

Atenção a dois detalhes. O primeiro, o preço do direito pode recuar conforme se aproxima o prazo final da subscrição. O segundo, a venda do direito não tem isenção de Imposto de Renda. Sobre os lucros será aplicada a alíquota de 15%, desde que o valor seja superior a R$ 10.

Posso subscrever mais ações do que as que tenho direito?

Os investidores que desejam subscrever ações além das que fazem jus têm a opção de comprar direitos AESB1 de outros acionistas no mercado. Existe ainda a possibilidade de participar das sobras da oferta, caso nem todas as ações sejam subscritas.

Como funcionam as sobras e quem pode participar?

Baroni explica que a liquidação financeira da oferta está prevista para a próxima segunda-feira (12), quando o investidor precisará ter o dinheiro na conta da corretora para efetivar a compra dos ativos. Nos dias subsequentes, a companhia deve anunciar quantas ações não foram subscritas. Estas são as sobras.

“Contando a partir da data do aviso da empresa, o acionista terá cinco dias para manifestar o seu interesse nas sobras. A quantidade não será necessariamente a mesma a que tinha direito e depende de quantas ações não foram subscritas”, comenta.

Um novo rateio proporcional entre os que manifestaram interesse é realizado. Baroni explica que aqueles que não eram investidores da AES Brasil, mas compraram o direito no mercado após dia 11 de agosto, não participam do rateio das sobras. Ainda não há mais detalhes sobre como ocorrerá esse processo.

Quanto tempo demora para AESB1 virar AESB3?

Embora a liquidação da oferta ocorra na segunda, Baroni explica que AESB1 será “transformada” em AESB3 apenas após encerrado o processo de venda das sobras da subscrição. “Mas o investidor tem a garantia de que isso vai acontecer”, destaca.

Existe risco na subscrição?

Os especialistas destacam que os riscos para o investidor são os mesmos que teria se comprasse as ações diretamente na Bolsa, como a possibilidade de desvalorização dos papéis.

Baroni lembra ainda que os acionistas controladores da empresa (AES Holdings Brasil S.A. e a AES Holdings Brasil II S.A) se comprometeram a subscrever no mínimo US$ 100 milhões em ações, o que amplia as chances de que a oferta se efetive.

Assim, a depender do câmbio no dia da integralização das ações, estima-se que os controlares aportarão cerca de R$ 500 milhões, equivalente ao valor mínimo necessário para a subscrição acontecer. “Com esse valor de US$ 100 milhões, é correto dizer que a empresa já fez todos os cálculos para que esta subscrição esteja garantida”, afirma Baroni.

Como avaliar se vale a pena subscrever?

Segundo os especialistas, duas análises devem ser feitas. Para valer a pena, é importante que o preço da subscrição esteja abaixo da cotação de AESB3 no mercado, segundo Luan Alves, da VG Research. Assim, se a ação passar a custar menos do que R$ 9,61, a subscrição deixa de ser interessante.

A segunda avaliação é do negócio em si. Subscrevendo ações, o investidor estará aportando recursos no caixa da companhia para que ela realize novos investimentos. Ele deve considerar se quer, de fato, se tornar sócio da empresa ou não. Os especialistas sugerem que o investidor se pergunte se compraria AESB3 pelo preço de R$ 9,61 se não houvesse a oferta. “Analise se os fundamentos da companhia ainda são coerentes com a sua estratégia de investimentos”, diz Baroni.

O que esperar dos dividendos da AESB3?

A AES Brasil tem um histórico de payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) superior a 100%. Nos últimos dez anos, foi assim em 2012, 2013, 2014, 2016 e 2017. Em 2015, o payout foi de 99%, conforme dados do site de Relações com Investidores da empresa.

A partir de 2020, os pagamentos começaram a ficar abaixo de 100%. Em 2021, a companhia distribuiu apenas 18% do lucro em dividendos, dados os impactos da maior crise hídrica em 91 anos.

Segundo Baroni, a AES Brasil já fala sobre seus planos de diversificar as fontes de energia há pelo menos dois anos. Por essa razão, retém os dividendos no curto prazo, de modo a reinvestir em novos ativos. Espera-se que volte a pagar mais dividendos quando o planejamento for cumprido, após 2024.

“Tudo indica que a empresa não deixou de ser uma pagadora de dividendos”, afirma Baroni. “No curto prazo, pode ser que ela fique abaixo de outras empresas nesse quesito. Mas para o investidor que acredita que no longo prazo AES Brasil vai recuperar lucratividade, estabilidade e dividendos perenes e sustentáveis, a subscrição é uma oportunidade”.

Baroni cita que quando a empresa distribuía mais de 100% do lucro, mas não tinha uma política de dividendos definida, investidores tinham dúvidas e questionavam os pagamentos. Para dirimir a incerteza e assumir uma posição mais conservadora, AES Brasil assumiu uma nova política de dividendos a partir de janeiro de 2022.

Segundo a política, a AES Brasil distribuirá 50% do seu lucro líquido ajustado em dividendos, podendo chegar a 100%, desde que isso não afete os planos de crescimento e o equilíbrio financeiro da empresa.

Para Guimarães e Alves, da VG Research, a AES Brasil não deve pagar dividendos elevados em 2022 e 2023, mas, sim, a partir de 2024, quando o endividamento reduzir. “Estimamos um lucro na ordem de R$ 650 milhões em 2024. Se a empresa pagar 60% de payout, o dividend yield será de 6% a 7% ao ano, aumentando nos anos seguintes”, destacam. O dividend yield poderia chegar a 12% ou mais caso a AES Brasil distribua 100% do lucro.

A projeção da plataforma AGF+ para AESB3 é de dividendos por ação de R$ 0,5750 e de dividend yield de 5,85% em 2022. O preço teto para adquirir a ação no mercado e assegurar pelo menos 6% de retorno em dividendos é de R$ 9,58, abaixo do preço de tela atual.

Neste ano, AES Brasil anunciou proventos apenas uma vez, de R$ 0,11 por ação, a serem pagos no dia 30 de setembro, para os investidores com posição na empresa até o dia 9 de agosto.

Confira a evolução dos dividendos da AESB3 na última década:

Ano Dividendos por ação Payout
2012 R$ 2,44 108%
2013 R$ 2,39 108%
2014 R$ 1,61 106%
2015 R$ 0,89  99%
2016 R$ 0,21 112%
2017 R$ 0,17 113%
2018 R$ 0,17 117%
2019 R$ 0,17 116%
2020 R$ 0,17 88%
2021 R$ 0,23 18%
2022 (acumulado do ano) R$ 0,11 66%

Fonte: AES Brasil

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.