Bolsa x Ibovespa: qual é o espaço para as ações brasileiras subirem mais?

Em meio à avaliação de subalocação de investidores nos papéis de maior peso do Ibovespa, mercado questiona se índice terá força para entregar ganhos em 2019

Anderson Figo

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SÃO PAULO – 115 mil, 120 mil, 125 mil pontos, ou mais. Ou menos. Previsões para o desempenho do Ibovespa no fim de 2019 têm pipocado cada vez mais, em meio à forte valorização da Bolsa brasileira nos últimos três anos e meio e diante de um questionamento sobre o espaço adicional para a alta.

O cenário não mudou para a Bolsa e há certa unanimidade no tom otimista de gestores e analistas, especialmente com o encaminhamento da reforma da Previdência, vista como um dos principais riscos de curto prazo.

Mas, com a economia ainda patinando, e previsões cada vez menores para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste e no próximo ano, há certa preocupação com relação à trajetória das empresas. E há também discussões sobre o nível de alocação nas principais empresas da Bolsa, que respondem por mais da metade de participação no Ibovespa.

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Ação Código  Participação no Ibovespa (%) Variação em 2019 (%)
ITAÚ UNIBANCO ITUB4 10,00 10,82
VALE VALE3 9,67 3,12
BRADESCO BBDC4 8,55 20,39
PETROBRAS PETR4 7,12 21,66
PETROBRAS PETR3 4,89 18,79
B3 B3SA3 4,74 55
AMBEV ABEV3 4,62 18,66
BANCO DO BRASIL BBAS3 4,01 16,07
ITAÚSA ITSA4 3,39 16,26
IBOVESPA 19,15

Fonte: B3

Como é possível conferir, hoje apenas nove de 66 ações respondem por mais da metade (57%) do índice. Dessa forma, estar otimista com a Bolsa não significa necessariamente estar otimista com o Ibovespa.

E cada vez mais gestores têm reforçado que há uma subalocação em relação às chamadas “blue chips”, isto é, ainda que possam ter papéis de bancos, de Petrobras ou Vale na carteira, sua alocação é inferior aos pesos que essas ações têm no Ibovespa.

Blue chips na balança

No universo financeiro, os bancos estão no centro de um debate ainda incipiente sobre a resiliência de um setor que tem sido bombardeado pela entrada de novas empresas financeiras e em que a disrupção causada por fintechs começa a ser vista como fonte de pressão sobre os resultados das grandes instituições financeiras. Ainda que a participação de mercado dessas novatas seja bem pouco representativa hoje e que os efeitos de uma concorrência só sejam sentidos em alguns anos.

O próprio Luis Stuhlberger, gestor do renomado fundo Verde, disse, durante sua participação na Expert XP 2019, que começa a ver uma disrupção no setor bancário, com atuação de empresas como XP, em investimentos, Nubank, em meios de pagamento, e bancos com contas digitais, na estrutura de taxas. Ele ponderou, contudo, que o ponto mais importante segue nas mãos das grandes instituições financeiras.

“A questão relevante, que ainda está por vir, é no crédito. O Brasil tem R$ 1,8 trilhão de crédito para pessoa física. Desse valor, cerca de R$ 600 bilhões são de crédito imobiliário, que ainda continua nos bancos e vai continuar por muito tempo. Não será fácil”, afirmou.

Para o gestor, a grande disrupção do setor acontecerá quando as fintechs e os bancos digitais conseguirem ter acesso a fontes de financiamento para poderem entrar com força no crédito.

“Antes os bancos eram um setor inquestionável. Acho que eles poderão sofrer, mas não agora, só daqui a dois ou três anos, especialmente porque bancos públicos estão se retraindo em termos de crédito, e quem vai se beneficiar serão os privados”, diz André Ribeiro, sócio da gestora Brasil Capital.

“Vejo lucros crescentes em dois anos, mas depois o cenário fica muito nebuloso, para o bem ou para o mal”, destacou o gestor.

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As “blue chips” Vale e Petrobras também enfrentam questionamentos ainda envolvendo as consequências do rompimento da barragem de Brumadinho (MG) – no caso da mineradora –, desinvestimentos por parte de fundos de pensão, volatilidade dos preços das commodities em meio a uma desaceleração global e disputa de capital com as ofertas de ações em curso, que atraem especialmente a atenção de investidores estrangeiros. No ano, até ontem (18), as ações da Vale subiam apenas 3,12% em 2019, enquanto os papéis preferenciais de Petrobras acumulavam alta de quase 22%.

Dúvidas com o Ibovespa, otimismo com a Bolsa

Conhecido por seu pessimismo, Stuhlberger demonstrou uma visão construtiva com o Brasil durante participação na Expert, mas deixou claro que suas apostas não estão nos nomes mais conhecidos.

Ao falar da alocação do fundo multimercado, Stuhlberger disse que enxerga maior potencial de crescimento por parte de empresas que vão além do setor financeiro e de commodities. Ainda que esteja com uma relação preço/lucro mais alta, esse grupo poderá, em sua visão, apresentar resultados mais atrativos com o tempo.

“Bancos reagiram bem, commodities voltaram, mas essas outras empresas estão com uma lucratividade muito abaixo dos padrões históricos. A margem Ebitda delas está abaixo da média em 2% a 3%”, afirmou.

André Jakurski, fundador da JGP, por sua vez, afirmou na Expert que o “preço justo” do Ibovespa estaria ao redor de 115 mil pontos e destacou que a bolsa brasileira, de forma geral, não está cara. Ele citou que o índice preço/lucro (PL) do mercado, de 12,5 vezes, “não parece alto”.

Chegar aos 115 mil pontos até o fim do ano significaria ao Ibovespa subir 9,8%, depois da alta de 19% acumulada até agora.

Ainda que tenha concordado com a visão de Jakurski, Márcio Appel, fundador da Adam, não acredita que esse seja o momento de se investir pesadamente em ações, por avaliar que o potencial de valorização é pequeno e que os riscos não são desprezíveis.

“Tenho dúvida se vale a pena investir agora, com o Ibovespa perto de 105 mil pontos e potencial para chegar a 115-120 mil pontos, com todos os riscos embutidos”, afirmou, reforçando ser desconfortável ficar comprado quando a maioria dos investidores também está.

À procura de escolhas nada óbvias

Para quem investe em Bolsa via índice, isto é, pelos ETFs que replicam o Ibovespa, há o dilema sobre o potencial de alta adicional. E o discurso de gestores de fundos ações ou multimercados têm cada vez mais fugido das tais escolhas “óbvias” ou de ações que poderiam dar impulso substancial para o índice.

“A gente compra empresas, estoque, não fluxo. Portanto, sobre o Ibovespa, que representa 60 ações de um universo de 400, é fácil responder: não sei. A gente olha empresa por empresa, não o combinado”, resume Fernando Camargo Luiz, gestor do fundo de ações Trópico Value.

A busca da gestora recai sobre empresas que estejam passando por transformações, que ofereçam margem de segurança relevante em termos de informações relativas à sua atuação e por negócios com vantagens competitivas em seu setor. Entre as selecionadas na carteira estão hoje Alupar, Minerva, CCR, Embraer, Movida, Profarma, Via Varejo e Sonae Sierra.

Otávio Vieira, sócio da gestora de patrimônio Taler Investimentos, também acredita mais no desempenho de uma carteira bem gerida de ações do que no do Ibovespa em si. Otimista, ele enxerga um momento positivo para o mercado de renda variável.

“Empresas boas e bem geridas que caíram de preço por conta de uma atividade econômica fraca, por exemplo, têm espaço para voltar a apresentar bom desempenho”, diz. Ele cita como exemplo os papéis de Ultrapar (UGPA3), cujas ações despencaram 23% no primeiro semestre.

Segundo Vieira, o motor que impulsionará o desempenho dos papéis do Ibovespa e, consequentemente, a valorização dos investimentos em Bolsa será a volta do fluxo de estrangeiros. “Ainda tem muito dinheiro para vir.”

Na visão de Ribeiro, da Brasil Capital, o forte ritmo de ofertas de ações, da ordem de R$ 50 bilhões entre o que já foi anunciado e o que está por vir, tem concentrado parte relevante do fluxo de capital estrangeiro na Bolsa, o que pode, inclusive, estar atrapalhando o desempenho do Ibovespa.

“O índice está sofrendo com a exposição a bancos e a quantidade de ofertas. Ele poderia estar em um patamar mais alto não fossem esses dois fatores”, diz Ribeiro, ressaltando que a queda da taxa de juros é muito potente para o crescimento dos lucros. “Ainda temos de 12 a 18 meses de lucro crescente, o que me tranquiliza.”

Marco Bismarchi, sócio gestor da gestora de patrimônio TAG Investimentos, destaca que o carro-chefe da casa são os ativos de renda variável. Se tivesse que escolher, porém, preferiria alocar os recursos em um fundo de índice que replicasse as ações do tipo small caps (de baixa capitalização de mercado) do que o Ibovespa. No ano (até 16/7), o ETF SMAL11 tem alta de 26,4%, ante valorização de 19% do BOVA11.

“Ainda podemos ter um movimento bom das blue chips se tivermos um fluxo de estrangeiros, mas vejo mais valor e chance de ganhos de capital em empresas de menor capitalização”, afirma.

Empresas ligadas aos setores domésticos cíclicos estão no radar da BNP Paribas Asset Management. “As medidas do governo para estimular o consumo vão beneficiar varejistas de moda, por exemplo, e empresas que vendem bens duráveis, por isso temos exposição a elas em nossa carteira”, diz Gilberto Nagai, diretor de ações para a América Latina da gestora.

O otimismo de Nagai se estende às ações de construção. Apesar do abalo recente com a notícia de liberação do FGTS, os papéis vão se beneficiar de licitações que devem ser destravadas pelo governo até o fim do ano, segundo o diretor.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.