As ações que os gestores estão comprando com as quedas da Bolsa

Papéis de empresas como CVC, Energisa, Lojas Renner e Petrobras estão na lista dos mencionados

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – Preocupação para alguns, oportunidade para outros. Assim é a vida de um investidor de Bolsa, especialmente em momentos mais turbulentos como os vividos em um 2019 de altos e baixos. Maio vem confirmando a fama de mês amaldiçoado e, por ora, acumula perda de 2,1% (até o dia 22), em meio a tensões econômicas e políticas que não saem de cena, no Brasil e no exterior.

Enquanto alguns lamentam as dificuldades de tramitação da reforma da Previdência e o ritmo fraco de crescimento da economia brasileira, outros têm ido às compras, aproveitando espaços de queda principalmente para aumentar a exposição em papéis nos quais já estão convictos. E quais são as ações que gestores e analistas têm procurado, de olho nos preços mais atrativos?

Sara Delfim, sócia-fundadora da gestora Dahlia Capital, destacou durante evento em São Paulo, o setor elétrico como fonte de oportunidade, em meio à visão de que a demanda por energia é menos elástica. Nesse sentido, ações da Eneva e da Equatorial estão entre as preferências da asset.

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Ambas as empresas também estão no radar da Brasil Capital, que vê boas perspectivas para o setor de infraestrutura de forma geral. Demais papéis citados como “baratos” e que estão no portfólio da casa correspondem a Energisa, Alupar e Rumo, além da Cosan.

“Todas essas empresas têm uma dívida líquida relativamente alta, mas o cenário de crescimento fraco leva a taxas de juros mais baixas e, quanto menores os juros, menores as despesas financeiras”, afirma André Ribeiro, gestor da Brasil Capital, ao InfoMoney.

Rodrigo Galindo, sócio-gestor da Novus Capital, reforça a atratividade de empresas do segmento e destaca ainda nomes como Light, Sabesp e Braskem. “Passado o turbilhão da reforma da Previdência, o fluxo de investimento deve voltar primeiro para esse setor”, diz.

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Papéis da Petrobras estão também na lista da Dahlia, que está atenta às mudanças em curso na governança corporativa da empresa, assim como aos aumentos de preços do petróleo. O portfólio da gestora conta ainda com “small caps”, que correspondem a empresas de menor capitalização de mercado, representadas na carteira pelo ETF “SMALL11”.

Dentro do Ibovespa, 24 das 66 ações apresentam queda em 2019, sendo a maior delas de Lojas Americanas, que recua 21,7% no ano. Na sequência, aparecem Ultrapar (-21,3%), B2W (-20,8%), CVC (-18,9%) e Cielo (-15,5%). Do lado dos ganhos, as cinco maiores contribuições positivas do índice partem de CSN (+103,4%), JBS (+95,5%), Qualicorp (+53,1%), Cosan (+40,1%) e BRF (+39,5%).

Confira a seguir as recomendações de casas de análise para algumas das ações mencionadas pelos gestores como oportunidades.

Empresa Código Recomendação Preço-alvo em 12 meses
Compra / Manutenção / Venda
CVC CVCB3 4 / 2 / 2 R$ 59,43
Energisa ENGI11 11 / 0 / 0 R$ 47,90
Lojas Renner LREN3 15 / 5 / 1 R$ 43,46
Petrobras PETR4 10 / 2 / 0 R$ 31,96

Fonte: Bloomberg

Volatilidade como oportunidade

Em meio à propagação da peste suína africana e seu reflexo sobre os preços de carnes, ações de frigoríficos, como JBS, também têm oferecido oportunidades. Apesar da forte alta dos papéis da companhia no ano, Betina Roxo, analista da XP Investimentos, observou que o evento ainda não teve um impacto real nos resultados da empresa.

Demais ações descontadas citadas pela analista da XP incluem Suzano e Vale. A mineradora também está na lista de Galindo, da Novus Capital, que vê volatilidade no curto prazo por conta dos acordos de leniência relacionados a Brumadinho, mas estima grande potencial de alta a partir do próximo ano, além de destacar a boa distribuição de dividendos pela empresa.

Assim como gestoras nacionais, a americana BlackRock tem apostado suas fichas em ações brasileiras. “A fraqueza que estamos vendo agora gera oportunidades de longo prazo, já que as empresas vão tirar proveito do crescimento fraco para ajustar sua estrutura operacional”, afirmou Ed Kuczma, gestor de portfólio da BlackRock, à Bloomberg.

Entre as preferências, Kuczma mencionou papéis de bancos e também de construtoras,  que saíram de um período desafiador e conseguiram impulsionar os lançamentos no primeiro trimestre.

Consumo ainda vale a pena?

No início do ano, o setor de consumo foi marcado por uma “euforia” por conta das maiores projeções para o crescimento econômico em 2019 – estimava-se uma expansão de 2,5% do PIB, bem acima da alta de 1,24% prevista hoje pelo mercado.

Enquanto Kuczma destacou acreditar que as ações do setor varejista no Brasil estão com o valuation “um pouco esticado”, outros  gestores acreditam que ainda há oportunidades para compra. Mas é preciso ser mais seletivo.

Segundo Ribeiro, da Brasil Capital, CVC é uma das empresas que ainda valem a pena, embora esteja entre as principais quedas do Ibovespa no ano. “É uma companhia que, ao longo dos últimos cinco anos, mais que dobrou de tamanho, mesmo nesse cenário de PIB fraco”, diz, reforçando o crescimento orgânico da companhia de turismo.

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Roxo, analista da XP, tem preferência por empresas mais resilientes, caso de Lojas Renner, que segue entregando bons resultados, ainda que as ações não apresentem um potencial tão alto no longo prazo. Hoje, 15 casas de análise recomendam a compra dos papéis, conforme dados da Bloomberg.

A varejista também é citada por José Luiz Torres, sócio e co-gestor da Apex Capital, que destaca o bom desempenho da empresa na crise e suas vantagens competitivas no setor, com retornos maiores que os da concorrência. “É a Localiza do setor de consumo”, diz.

Galindo, da Novus, por sua vez, destaca Multiplan e Movida, com a expectativa de que o segundo semestre seja melhor em termos de atividade econômica.

Hora de ir às compras

Gustavo Constantino, gestor e sócio da Távola Capital, conta que está com 30% a 35% do portfólio em caixa e tem aproveitado as quedas recentes para aumentar posições, principalmente em empresas menores. Na semana passada, o Ibovespa recuou 4,5%.

Opções atrativas podem ser encontradas em muitos segmentos, segundo ele, como de utilities, saneamento básico, bancos, elétrico e até em consumo. “Como o mercado está se mexendo muito com dúvidas sobre a reforma da Previdência, papéis menos líquidos podem ter preços interessantes”, diz.

A Apex Capital, que tem um fundo de ações com gestão ativa, possui um caixa historicamente no patamar de 10% da carteira e também tem acompanhado os espaços de queda para aumentar algumas posições e para abraçar novas teses.

Sem revelar quais são, a gestora acaba de apostar em dois novos nomes em sua carteira e tem em papéis como Localiza, Lojas Renner e Energisa algumas opções de retorno menos dependentes do desempenho do cenário macroeconômico.

O foco da gestora recai sobre empresas com capacidade de entregar um crescimento consistente de seus resultados e cujas ações ofereçam valor, diz Diney Vargas, sócio-diretor da Apex. “Nos últimos dias, como teve um barulho mais forte no ambiente macroeconômico, a gente acabou olhando para a cena micro para encontrar valor”, diz.

Para Vargas, a queda mais recente da Bolsa pode ser justificada pelo “estômago” dos investidores, que têm ajustado premissas e exposições a risco. “Hoje o mercado está mais saudável que há algumas semanas, quando as pessoas estavam mais alocadas em meio a expectativas otimistas.”

Dentro da carteira da Apex, destaque para ações de transporte e logística, como Localiza e Locamerica, em meio à visão de que o setor de locação de veículos está subpenetrado e de que as empresas defendem um crescimento mesmo em um ambiente de PIB desaquecido.

No segmento aéreo, Azul marca presença no portfólio, com um cenário ainda mais competitivo com a saída da Avianca e um aumento da capacidade da companhia com baixo custo.

Energisa é outro papel tido como menos sensível a efeitos macro, dada a relevante exposição no Centro-Oeste, em estados como Mato Grosso do Sul e Tocantins, mais vinculados ao desempenho do PIB agrícola brasileiro.

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