EXCLUSIVO: B3 terá contratos futuros de ações de várias empresas e minicontratos de S&P500

O investidor pessoa física poderá operar alavancado com ações individuais, como já acontece no futuro do Ibovespa

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – Disponibilizar mais produtos para os investidores pessoa física operarem é um dos principais focos da B3 em 2018 e a criação de futuros de ações individuais pode sair ainda este ano , segundo Gilson Finkelsztain, presidente da B3. “[o instrumento] Vai ser similar a um futuro de índice”, disse Finkelsztain durante o Master Trader Brasil 2018, evento organizado pelo InfoMoney Educação que aconteceu em São Paulo neste fim de semana.

De acordo com o executivo, o novo contrato futuro vai permitir que o investidor pessoa física opere alavancado com ações individuais, como já acontece no futuro do Ibovespa, por exemplo. “A pessoa tem hoje uma variedade [de ações] no mercado à vista, mas não tem alavancagem. Ele até pode alavancar via opções, mas os futuros [de ações individuais] vão proporcionar uma variedade muito mais ampla de oportunidades de trading”, afirmou.

Raony Rossetti, head de renda variável do Grupo XP , afirma que a XP está há alguns meses em conversa com a B3 para a construção em conjunto desse contrato. “Fizemos algumas propostas sobre as características do instrumento”, disse.

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Ele concorda que a primeira grande vantagem do novo produto é a possibilidade de operar alavancado. “Para comprar ações, em geral, o cliente precisa ter dinheiro. Quando compra um contrato futuro ele precisa apenas de margem de garantia, que é cada vez menor”, destaca.

Traders experientes que utilizam minicontratos usam a alavancagem a seu favor e costumam montar estratégias para otimizar os ganhos e reduzir os riscos de perdas nas operações. Agora isso será possível também com ações individuais. “É importante lembrar que a alavancagem deve ser utilizada com prudência, sempre levando em consideração todos os riscos e fazendo as operações de maneira consciente”, pondera Rossetti.

Outra vantagem do futuro de ações é que o cliente que opera vendido no mercado à vista precisa sempre ter ações disponíveis para aluguel (para conseguir montar a operação short). Já no mercado futuro ele consegue fazer isso sem precisar alugar o papel. “A parte operacional é menos trabalhosa”, destaca o head da XP.

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Além disso, esse produto deverá aumentar a liquidez do mercado à vista. Isso porque o Market Maker (formador de mercado) vai dar preço do contrato futuro, e como este contrato é alavancado, ele vai precisar comprar no mercado à vista. “Além de criar um novo mercado nós vamos injetar muita liquidez para um mercado já existente e consolidado”, diz Rossetti.

Segundo Finkelsztain, a direção da B3 colocou o produto ‘top 3’ de produtos a serem desenvolvidos.  “No momento que estamos na empresa conseguimos nos dedicar ao desenvolvimento de novos produtos. É difícil precisar se vamos conseguir homologar tudo até o final do ano, mas esperamos que sim”, afirma.

A B3 ainda não disse como será o formato dos contratos, a regra de emolumentos e nem quais ativos seriam negociados via contrato futuro. Além dos contratos futuros de ações, o presidente da B3 afirmou que a Bolsa está se dedicando a criar um contrato micro de S&P futuro. ”[o produto] Vai ser dedicado principalmente para pessoas físicas”, disse.

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Veja outros assuntos da palestra de Finkelsztain no Master Trader Brasil:

Eleições para presidente

A resposta sobre quem será o novo presidente é muito difícil. Estamos vivendo um momento delicado, mas que para volatilidade tem sido relativamente bom. Nesta última semana a volatilidade passou um pouco do limite, foi exagerada, por conta do cenário muito incerto. Nos próximos dois meses vamos ter muita articulação e o mercado está refletindo isso.

Há muita dúvida do mercado sobre as eleições e não dá pra fazer uma aposta no cenário eleitoral. A certeza é que teremos muita volatilidade. Torcemos para que o futuro presidente aproveite o momento do país. Sempre perdemos muitas oportunidades.

O Brasil está vivendo um cenário de recuperação de crescimento. Temos juro baixo, inflação baixa. Temos uma oportunidade para tornar o mercado de capitais mais pujante. Para vocês terem ideia, na China eles fazem 1 IPO por dia. Aqui tivemos 3 ano passado e 27 follow.ons. A medida em que o país cresce, temos financiamento a juro baixo, as empresas podem crescer mais.

Se a gente tiver um presidente comprometido com o mínimo de reformas – principalmente fiscal e da Previdência – temos uma avenida pro mercado de capitais crescer. EUA está crescendo. Europa, Japão e China também, todo mundo com céu azul. Não podemos deixar essa oportunidade passar pro Brasil.

Por que o mercado de capitais não deslancha no Brasil

O número de investidores pessoa física na B3 ainda é muito baixo. Tem 700 mil investidores com posição em Bolsa. Desses, 300 mil são investidores ativos. Ativos em opções, só 60 mil. [investidores] ativos em mini são 60 mil. Isso é fruto dessa baixa alocação em instrumentos mais complexos de mercados de capitais.

Eu acho que a maior explicação é a taxa de juros. [durante muito tempo] Tivemos inflação rodando a 6% ao ano, com juro real de 6% a.a. Quando o governo compete com o desenvolvimento do mercado de capitais fica mais difícil. As empresas são verdadeiras sobreviventes nesse cenário de juro real.

Também tivemos durante um bom tempo uma política de intervenção no Brasil. O BNDES quis suprir as necessidades das empresas nos últimos anos. Quando a empresa não conseguia via BNDES, pedia financiamento no Banco do Brasil. Esses eram inibidores do desenvolvimento do mercado de capitais

Agora, com juro real mais baixo, se as coisas entram nos eixos, acho que tem uma avenida enorme pra percorrermos. Com juros muito altos, o investidor não quer investir em empresas, ele compra uma NTN-B (título de dívida do Governo Federal). No brasil a renda fixa acaba competindo com o mercado de ações.

Crescimento do Bitcoin

Nos perguntamos muito sobre o sucesso do Bitcoin entre o investidor pessoa física. Tem mais gente cadastrado para operar com Bitcoin do que em Bolsa. É algo que queremos entender melhor. [também sabemos] que há muito sonho de enriquecimento rápido.  

De toda forma, é um fenômeno de pessoas físicas negociando ativos. Trabalhamos muito próximos do mercado e das corretoras pra trazer pessoas físicas pra bolsa.

Sabemos que trading não é jogar moeda pra cima. O Trader de Bolsa necessita de disciplina grande pra ganhar dinheiro. Olhamos com carinho a pessoa física pra que o Trading se torne uma opção maior do que um cara ou coroa.

Mulheres no mercado

Este é um assunto quente. Fizemos um road show da B3 e fomos bastante questionados de investidores estrangeiros por só termos uma mulher no conselho de administração. E nós nos preocupamos muito com isso. Nos comprometemos a no ano que vem ter no mínimo 2 mulheres no conselho.

Temos que desmistificar esse “clube do bolinha” do mercado financeiro. Nas mesas de operações e no mercado em geral o ambiente já não é mais tão hostil como era no passado. Não vejo nenhum motivo para não termos mais mulheres operando. 25% dos investidores de bolsa hoje são mulheres.

Acho que as mulheres são mais disciplinadas. Esse é um bom argumento que temos para trazer mais mulheres: Conservadorismo e disciplina também combinam com a Bolsa.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip