2 dias, R$ 250 mil de lucro e uma certeza: os flippers estão de volta na bolsa

Ricardo Brasil teve lucro de R$ 250 mil em apenas dois dias com uma estratégia simples, e tudo leva a crer que os adeptos desta prática voltam com tudo em 2018  

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – No dia 19 de abril, o ex-publicitário Ricardo Brasil ganhou R$ 140 mil na bolsa de valores. Ele comprou R$ 1 milhão em ações da NotreDame Intermédica (GNDI3) no IPO (sigla em inglês para Initial Public Offering, ou Oferta Pública Inicial) e vendeu estes papeis logo na abertura do pregão de estreia deles na B3, com 14% de lucro.

Menos de uma semana depois, no dia 25, fez exatamente o mesmo com ações da Hapvida (HAPV3): comprou R$ 910 mil via IPO e vendeu no primeiro minuto de pregão da empresa na bolsa, embolsando R$ 116 mil. Fez a conta? O investidor teve lucro bruto de R$ 256 mil em dois dias de operação.

A estratégia de Ricardo, que há mais de uma década abandonou a carreira publicitária para tornar-se trader em tempo integral, é relativamente simples – e também não é novidade. Ele é um “flipper”, nome dado a quem participa da oferta pública inicial de ações de uma empresa e vende logo no pregão de estreia. Com esta nova leva de IPOs no Brasil, tudo indica que esta categoria de investidor voltará com força. 

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O Banco Inter captou R$ 722 milhões em sua abertura de capital, conforme listou a CVM. Já estão em análise ainda para este ano as aberturas de capital do Grupo SBF, Blau Farmacêuticas, DASS Nordeste Calçados e JHSF Malls. Histórias como a de Ricardo provavelmente irão inspirar outros aficionados por bolsa a tentar a mesma estratégia.

No caso descrito para NotreDame e Hapvida, o lucro poderia ter sido ainda maior – praticamente o dobro, já que as ações de ambas as empresas fecharam o dia da oferta com alta próxima a 20%. Caso ficasse até o final do pregão, sua aposta na NotreDame geraria lucro de R$ 227 mil. Já a da Hapvida teria rendido R$ 154 mil, fechando um total bruto de R$ 381 mil.

Mas Brasil é adepto da filosofia “em time que está ganhando não se mexe”: segundo ele, a média do mercado mostra que normalmente as empresas que abrem subindo caem no restante do pregão. Por isso, entra em todos os IPOs da bolsa com R$ 1 milhão e sai na abertura, sem checar análises fundamentalistas ou jamais mudar de estratégia.

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E, mesmo após “perder” duas grandes oportunidades seguidas, ele tem motivação para manter a lógica que aprendeu ao longo dos anos. Suas estratégias na bolsa, sempre baseadas em padrões lógicos, e nunca em emoção, já renderam lucro de R$ 5 milhões desde sua primeira incursão neste mundo, em 2006, partindo de R$ 35 mil.

A motivação dos flippers

Existem algumas explicações específicas para a alta destas duas empresas – como a tendência a expansão de ambas -, mas Ricardo não se importa com isto. Os flippers, de maneira geral, seguem a mesma linha de indiferença. A verdade histórica, segundo ele, é que buscar IPOs para o curtíssimo prazo costuma ser bom negócio na grande maioria dos casos. 

Isso ocorre tanto porque Ofertas Públicas normalmente ocorrem em momentos de otimismo com determinado setor como pelo formato em que são realizadas. Frequentemente, grandes investidores (como fundos de investimentos) compram antes da abertura menos ações que o necessário para sua estratégia. Logo, têm a necessidade de comprar muitas mais após a abertura – inflando o preço.

Explicando em miúdos: normalmente grandes empresas abrem capital por estarem em um momento em que é mais vantajoso vender ações do que tomar crédito para investir. Um IPO só é bem-sucedido se grandes investidores, que compram ações em “baciada”, participam da oferta.

O pulo do gato nesta história é que as empresas, propositalmente, evitam oferecer aos grandes investidores o volume total de ações que eles solicitam. Dessa forma, caso queiram realmente obter a posição planejada, esses fundos e grandes investidores precisam ir a mercado.

Somada a tudo isso tem a euforia – se a empresa emite ações, é porque existe algum otimismo do mercado em torno dela, e algum otimismo dela com relação à Bolsa. Nestes casos, é natural que os preços subam. Tudo isso gera o interesse dos flippers.

“Tenho robôs e algoritmos, vivo de day trade, e minha estratégia em IPO é realmente flipar”, diz Ricardo. “Essas duas ações continuaram subindo [ao longo do dia], mas em geral faz mais sentido vender logo na abertura”, explana ele, que passou boa parte da vida estudando as movimentações do mercado e cuja tese de pós-graduação teve como tema Coordenação e Estabilização de IPO.

Isso de maneira alguma significa que o mercado está livre de exceções. Ele lembra especificamente da JBS, IPO de que também participou como flipper. “A ação abriu a R$ 8 e saiu a R$ 7,98”, recorda, “no dia, a ação perdeu 12%”.

Procura mais alta

Em 2017, o país viu uma retomada nos IPOs, com nove aberturas de capital e uma soma de R$ 21,1 bilhões em captação. Foi o terceiro melhor ano em captações desde 2004 – suficiente para “acordar” flippers em potencial. “Tanta gente que eu nem conheço me ligou para perguntar como entrar em Banco Inter que com certeza o rateio vai ser menor”, analisa Ricardo. Há motivos para crer que isso será verdade para outras empresas.

Esta busca mais intensa tende, pela lógica, a diminuir o retorno individual do investidor. No nosso exemplo, o investidor tentou entrar com R$ 1 milhão em ambas as ofertas, mas só conseguiu R$ 910 mil no rateio da Hapvida, um rateio de 91%. Isto ocorre quando a procura por pessoas físicas é alta e não “sobram” ações suficientes para suprir a demanda inicial de todos – então, é aplicado um limite.

Como entrar em um IPO

Participar de um IPO é relativamente simples para o investidor: basta solicitar a participação à corretora registrada na CVM com antecedência. Normalmente, este tipo de oferta aparece em destaque nas páginas iniciais dos servidores das corretoras, facilitando o processo.

A entrada em um IPO segue uma agenda específica. Em primeiro lugar, há a Publicação de Aviso ao Mercado e do Procedimento de Bookbuilding (construção do livro de ofertas); cerca de uma semana depois, vem o Período de Reservas – quando os investidores têm uma semana para efetivamente comprar os papéis.

Posteriormente, fixa-se o preço por ação – dentro da faixa pré-determinada pela companhia. O banco Inter, por exemplo, fixou o preço próximo ao piso: R$ 18,50, sendo que a faixa ia de R$ 18 a R$ 23. Fixado o preço, se encerra o Bookbuilding e iniciando o Prazo para Exercício da Opção de Lote Suplementar, quando a empresa pode definir ofertar mais ações que o previsto inicialmente. Iniciam-se, depois disso, as negociações na B3 (momento de venda dos “flippers”), seguidas da Liquidação Financeira da operação e do encerramento do prazo para exercício da opção de lote suplementar.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney