Após terremoto político de delações, Citi recomenda compra de ações da JBS

Segundo a corretora, as ações da JBS negociam com um desconto de 12% em relação ao histórico de 3 anos e de 34% para os pares globais de proteína.

Weruska Goeking

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 SÃO PAULO – A equipe de análise da Citi Corretora manteve a recomendação de compra das ações da JBS (JBSS3) e acredita que os fundamentos para o papel acabaram ficando para trás após a delação do dono da companhia, Joesley Batista, envolvendo o presidente Michel Temer, vir à tona.

 No entanto, a corretora nota, pela primeira vez desde 2015, que a percepção do risco dos investidores parece estar prestes a diminuir significativamente no curto prazo, uma vez que o mercado será capaz de quantificá-lo. “O risco operacional é muito baixo, na nossa opinião, já que esperamos que pouquíssimos clientes da JBS interrompam as compras”, avalia a corretora.

 O acordo de leniência pendente da JBS com o Ministério Público Federal deve reduzir significativamente o risco da investigação federal e melhorar o valuation da companhia, segundo a Citi, que espera que o presidente e CEO da JBS, Wesley Batista, continue em seu papel executivo.

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 O próximo passo é um acordo de leniência, que deve ocorrer nos próximos dias, onde será revelado o valor da multa para a JBS, que provavelmente será paga ao longo do tempo, como visto em outros exemplos.

 “Nosso preço alvo pode mudar se o total das multas somarem mais/menos do que nosso desconto de R$ 2,25 bilhões. Com um ebitda mais baixo e nossa decisão de adicionar um desconto incremental de 5% em governança corporativa após compras com informações privilegiadas e negociações de câmbio, reduzimos nosso preço-alvo para R$ 12,50”, afirma a Citi. O valor estimado é 110% superior ao fechamento de segunda-feira (22).

 Segundo a corretora, as ações da JBS (JBSS3) negociam com um desconto de 12% em relação ao histórico de 3 anos e de 34% para os pares globais de proteína. “Esperamos que a JBS retome as negociações sobre os fundamentos”, afirma a Citi.

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Tombo

Na segunda-feira (22), as ações da JBS (JBSS3) despencaram 31,69%, para R$ 5,95, no pior pregão da história da companhia e fecharam no menor patamar desde julho de 2013, pressionadas pelo corte de rating pela Moody’s, pelo possível processo nos Estados Unidos, leniência recusada e investigação de “insider trading”. 

A agência de classificação de risco Moody’s cortou em uma nota o rating da JBS e de sua subsidiária JBS USA, e colocou as classificações de risco de ambas as empresas em revisão para novos rebaixamentos. O rating da JBS foi reduzido para ‘Ba3’ ante ‘Ba2’, enquanto a dívida garantida da JBS USA teve a nota cortada para ‘Ba2’ ante ‘Ba1’ e a da dívida não garantida da JBS USA passou para ‘Ba3 ante Ba2’.

Em relação ao processo nos EUA, o escritório de advocacia americano Rosen Law Firm abriu um novo chamado para interessados em participar de uma possível ação de classe contra a JBS, motivada pelos impactos da delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da empresa. 

Além disso, o grupo J&F, controlador da JBS, ainda não fechou acordo de leniência com o Ministério Público Federal (MPF), que inicialmente previa a proposta de pagamento de multa de R$ 11,2 bilhões, mas as negociações continuarão durante a semana, informou uma fonte próxima da companhia à Reuters. Segundo essa fonte, o que está em discussão é justamente o montante a ser pago de multa. Ainda não houve um consenso nessa questão e as conversas seguirão na próxima semana.

Segundo o MPF, o acordo de leniência com o grupo empresarial não foi fechado devido a divergências sobre o valor da multa a ser paga pelo conglomerado. Enquanto os procuradores defendem a multa de 11,2 bilhões de reais em 10 anos, a holding que controla a JBS propôs pagar 1 bilhão de reais, de acordo com o comunicado.

A JBS também entrou na mira da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) desde que vieram à tona, na quarta-feira (18), as denúncias de Joesley Batista. O frigorífico é investigado pela autarquia por suposto “insider trading” (manipulação do mercado) em cinco processos administrativos. 

A CVM quer saber, sobretudo, se a JBS se beneficiou de informações privilegiadas para comprar dólar no mercado futuro – informação antecipada pela colunista Sonia Racy – e também na emissão de ações pelo acionista controlador do grupo – a FB Participações -, antes da denúncia virar notícia e abalar o mercado.

O indício de irregularidade foi comunicado ao MPF. A autarquia também está de olho em movimentações no mercado derivativo feitas pelo banco Original, controlado pelo grupo, e pediu “esclarecimentos adicionais relativos às notícias e especulações envolvendo delação de acionistas controladores da JBS”.