Analistas estão com medo do governo e quem perde é o investidor

A repercussão do caso Santander foi muito maior que a analista, autora do relatório, esperava, visto que ela foi demitida nesta semana. Segundo especialistas, os mais prejudicados são os investidores

Arthur Ordones

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SÃO PAULO – O Santander movimentou o mercado financeiro na última semana, após afirmar aos seus investidores, em relatório, que eles sairão perdendo caso a Dilma seja reeleita. A repercussão do caso foi muito maior que a analista, autora do relatório, esperava, visto que ela foi demitida nesta semana, por pressão do governo, de acordo com nota oficial pública do banco Santander.

Quem mais sai perdendo nesta história são os investidores, visto que, a partir de agora, as corretoras, bancos e assets irão ser muito mais cuidadosos na hora de produzir seus relatórios, podendo assim ocultar fatos que poderiam ser de grande utilidade na hora da tomada de decisão dos investidores. De acordo com especialistas, a “ira” do governo pode e vai afetar a recomendação de ações, setores, etc.

Segundo João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos, os profissionais que fazem research tem que ter autonomia para prestar um serviço isento de interferências externas, e isso poderá ser prejudicado a partir de agora. “Tudo isso é muito negativo, mas também não podemos generalizar, afinal, esse foi o caso de um banco. Logicamente é bem negativo, mas, sobre o reflexo a longo prazo, é muito cedo para tirar qualquer conclusão”, disse.

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Para ele, não se sabe como os bancos vão se comportar a partir deste caso. Se eles se sentirem pressionados e deixarem de falar o que tem que falar, os investidores serão prejudicados sim. “Aqui na Leme nós não tivemos nenhuma recomendação em relação a isso, ou seja, iremos manter a nossa linha que sempre seguimos, pois somos independentes”, completou.

Adriano Moreno, analista da Futura Investimentos, explicou que, quando do outro lado tem um banco, esse problema fica ainda mais claro, o que é ruim, pois o cliente está hoje alocando recursos nas grandes instituições. “O Santander foi um caso, mas a discussão é mais ampla, pois o investidor terá que conviver com isso, afinal, existe sim conflitos de interesse, o que cria uma dificuldade no sentido de ter orientações claras quando o assunto é investimento”.

Já as casa independentes, segundo Moreno, tem um alinhamento com o cliente muito mais próximo do que as instituições bancárias. “O debate é até que ponto nosso mercado está maduro para que essas casas independentes se tornem mais relevantes”, ponderou.

A Futura também não teve recomendação para mudar sua forma de fazer relatórios. “A linha editorial da empresa é o desempenho dos principais mercados e, infelizmente, o nosso está sendo guiado pelas pesquisas eleitorais, mas não estamos fazendo prognósticos políticos, mas sim falando sobre os fatos e como os mercados estão reagindo. Para isso, temos liberdade total para escrever, dentro de nossa linha ética”, finalizou.

Caso Empiricus
Quase que ao mesmo tempo do caso Santander, a casa de research Empiricus também sofreu censura por parte do governo, ao fazer um relatório chamado “O Fim do Brasil?” e que tinha como propaganda a chamada “Veja como se proteger da Dilma”, em seus banners publicitários. Após intervenção de Dilma, a justiça determinou que a instituição tirasse os anúncios do ar imediatamente.

Para Brugger, todo o mercado deve ficar atento ao que a Empiricus sofreu, pois isso pode acabar afetando todo o mercado no futuro. “O Felipe Miranda usou dados públicos para a elaboração do texto dele e não inventou nada que já não tenha saído na mídia diversas vezes. Ele, como economista e analista de mercado, tem todo o direito de fazer suas projeções. Se ele vai acertar ou não é problema apenas dos clientes da Empiricus. Essa censura traz um mal estar generalizado para o nosso setor”, disse o analista.

Por outro lado, Moreno disse que, apesar de ser uma empresa independente, a Empiricus deveria tomar mais cuidado, visto que estamos em um ano eleitoral. “Tem uma linha tênue entre o que é legal e o que é análise independente”, afirmou. “Quando envolve política, o cuidado tem que ser redobrado”, finalizou.

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