A beleza de ser razoável e a arte de ganhar dinheiro sem saber de nada: como investir seu dinheiro?

Na prática, a razoabilidade costuma funcionar melhor do que a racionalidade no mundo dos investimentos; entenda

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

Durante o colégio, assumo que não era um ávido consumidor de livros. Porém, em algum momento da minha adolescência, percebi que as pessoas que eu tinha como referência possuíam esse hábito e tratei de me tornar um adepto também a partir dali.

Há centenas de livros maravilhosos sobre finanças e mercado financeiro que poderia citar, mas se você apontar uma arma para minha cabeça e pedir apenas um título, eu não hesitaria em falar: A Psicologia Financeira, de Morgan Housel. Essa obra é recente – meados de 2020 – e não é nem de longe a mais técnica. No entanto, é uma das mais úteis e necessárias que já tive o prazer de me debruçar.

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São muitos ensinamentos relevantes, mas hoje vou focar na ideia central do capítulo que explana sobre ser racional, irracional ou razoável com seus investimentos. A busca pela razoabilidade costuma funcionar melhor do que ser puramente racional.

Não sei se vocês já tiveram a oportunidade de conversar com um profissional do mercado financeiro e escutar sobre a teoria do portfólio eficiente de Markowitz. O “seu Harry Markowitz” ganhou o Nobel de economia por explorar a relação matemática entre risco e retorno.

A ideia é simples: ao diversificar a carteira com ativos financeiros que não sejam iguais ou opostos, mas simplesmente diferentes (sem correlação), é possível alocar parte do portfólio em mercados mais voláteis – sem adicionar risco a sua carteira e aumentando o seu retorno no longo prazo.

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A fronteira eficiente de Markowitz consegue propor um portfólio completamente equilibrado, com base nas suas premissas de volatilidade e retorno esperado na linha do tempo, que vai atravessar bem os ciclos de mercado gerando um retorno atrativo – e sem grandes sustos.

Quando estava desenvolvendo seus modelos matemáticos, o economista norte-americano foi questionado sobre como dividia seus investimentos. Ele respondeu que tinha remorso de perder altas da Bolsa e medo de ficar de fora do mercado. Diante dos sentimentos, Markowitz possuía 50% em ações e os demais recursos alocados em títulos públicos.

A simples divisão iria contra a própria tese de diversificação. Sendo assim, o Nobel de Economia estava sendo irracional ou razoável?

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Quantos gestores de fundos de investimento, extremamente preocupados com a alocação eficiente de recursos, já recorreram a uma “fezinha” em mercados de menor visibilidade, como o mundo das criptomoedas, por exemplo? Quantas vezes eu mesmo não investi em ações que não tinham fundamento nenhum, apenas para “surfar a onda” com um pedacinho do meu dinheiro?

Ninguém do parágrafo acima estava buscando ser racional, mas sim razoável. Aqui temos uma força importante da gestão financeira.

Previsões do rumo da economia, do mercado acionário, do dólar, normalmente são terríveis e erráticas, mas traçar projeções é bem razoável. O ato de acordar e ir dormir todos os dias sem tentar prever o que vai acontecer no futuro da sua vida pode até ser o melhor a ser feito (ou o mais correto), mas não é razoável.

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Investir com base na previsão de lucros futuros, na “perpetuidade” – como fazemos no fundamentalismo – é racional? Talvez não seja, mas é o mais razoável. Então como tantos investidores tiveram sucesso ao longo do tempo já que tamanha ignorância sobre os fatos futuros é compartilhada?

Simples, eles diversificaram. O nome do jogo é simplesmente não sair dele, a capacidade de permanecer vivo e investido ao longo de janelas longas de tempo.

Escutei muitas vezes que “perder menos que a bolsa ao selecionar ações já é uma estratégia fora da curva”. E é verdade. A ideia é investir de forma balanceada, evitando que você quebre e seja retirado do jogo. Entender que inúmeras variáveis futuras estão fora do seu controle e ter uma gerência do seu psicológico pode ser mais fundamental que previsões – isso sim é importante.

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Diversificar a carteira de investimentos de forma balanceada é a arte de ganhar dinheiro sem saber de nada. Minha vida teria sido mais fácil se a minha mãe soubesse que eu descobri uma forma de rentabilizar a minha ignorância.

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Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney