Quem será o comprador, PLC 79 e troca de CEO: as notícias que levam à forte volatilidade da ação da Oi

Muitas pendências ainda estão no radar da empresa de telecomunicações - e volatilidade deve seguir dando o tom para os ativos

Lara Rizério

(Foto: Reprodução)

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SÃO PAULO – Desde a metade do mês, a Oi (OIBR3, R$ 0,82, +7,89%; OIBR4, R$ 1,37, +12,30%) tem conquistado espaço importante nos holofotes do noticiário sobre ações no Brasil – e não por boas razões. 

A companhia divulgou seus números do segundo trimestre no último dia 15, aumentando a preocupação sobre a sustentabilidade dos negócios com a queima de caixa da companhia telefônica, que desde 2016 está em processo de recuperação judicial.

Desde então, os ativos têm registrado forte volatilidade e, entre  sessões de fortes ganhos ou perdas a depender do noticiário do dia, os papéis OIBR3 têm acumulado baixa de 42%, operando na casa dos centavos, enquanto os ativos OIBR4 têm queda de 16% no período – estes negociados um pouco acima do R$ 1. 

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Na sessão desta quarta-feira (28), os papéis registraram ânimo e os ativos preferenciais subiram mais de 10% (vale destacar que a alta tão expressiva também ocorre em meio à baixa cotação atual dos papéis), justamente em meio às novidades ainda não confirmadas sobre as saídas desenhadas para a companhia. 

Uma das opções mais citadas é sobre a venda da empresa, mas ainda há muitas especulações sobre o modelo e se ela seria factível no cenário atual. 

No curto prazo, há possíveis fontes de alívio: o colunista do jornal O Globo, Ancelmo Goés, destacou em nota hoje que a companhia pode vender 25% das ações que possui da angolana Unitel, podendo gerar R$ 3 bilhões em caixa. 

Em janeiro, a operadora recebeu a injeção de R$ 4 bilhões de seus acionistas, uma das condições do plano de reestruturação acordado com seus credores, que envolveu desconto na dívida e um prazo mais longo de pagamento.

Com isso, ficou com um saldo em caixa que era considerado confortável pela Anatel, de R$ 7,5 bilhões. Desde então, porém, vem gastando muito mais do que consegue acumular. Foram sacados R$ 3,2 bilhões do caixa para custear operações, pagar salários, bancar investimentos, entre outras despesas, até junho, segundo os dados divulgados pela Oi no dia 15. 

Porém, em um prazo mais longo, o caminho que se aponta para a companhia é a sua venda total para um novo investidor ou fatiamento em operações regionais (com a venda das operações em separado), segundo também apontou o jornal O Globo. 

Entre os interessados estariam Vivo (VIVT4), Claro, TIM Participações (TIMP3), além da americana AT&T e empresas chinesas de telecomunicação.

“Quando se fala em venda de ativos há, entre acionistas e conselho, uma ideia em estudo que prevê vender a companhia de forma separada por regiões e Estados, o que tende a facilitar as negociações para os concorrentes no Brasil. Essa movimentação já está acontecendo”, disse uma fonte ao jornal.

Recentemente, a Vivo mostrou interesse nos ativos da Oi no Norte e Nordeste. TIM e Claro, por sua vez, teriam interesse na aquisição completa ou de partes, como a rede de fibra ótica e os clientes.

O jornal acrescenta que a questão central, porém, é o aval da Justiça, necessário para o processo de transição. O plano já está em análise pelo Ministério Público, mas ainda não tem data para sair do papel.

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Segundo o Bradesco BBI, a venda da empresa é uma alternativa para garantir sua sustentabilidade no longo prazo, uma vez que o plano de investimentos da Oi está cada vez mais dependente da venda de ativos após a grande queima de caixa, o que aumentou o risco de execução.

“No entanto, acreditamos que é altamente improvável que alguém compre ou faça a fusão com a Oi como um todo sem a aprovação da reforma do setor de telecomunicações (PLC 79). Não faz sentido, para outro participante, assumir o risco neste momento, sem visibilidade sobre o que acontecerá com o regime de concessão, particularmente em relação a ‘ativos reversíveis'”, afirmam os analistas do banco.

Conforme destaca O Globo, os chineses, que participam de linhas de financiamento da Oi, vão esperar a aprovação do PLC 79, que vai transferir a concessão para autorização e gerar menos custos com telefonia fixa, antes de avaliarem a investida.

Após sofrer um impasse por cerca de 2 anos em meio a questionamentos legais, a expectativa é de que o PLC volte a andar na pauta do Senado. 

“O fluxo de notícias sugere que o senso de urgência para a aprovação do PLC 79 está de volta, potencialmente impulsionado pela percepção de que a situação da Oi se deteriorou”, destacou o analista do Credit Suisse, Daniel Federle, em relatório de 22 de agosto.

Apesar de “não contribuir muito” para os resultados a curto prazo, a aprovação do projeto provavelmente tornaria a Oi mais atraente para potenciais compradores, escreveu.

Com a nova lei, a Oi deixaria de ser concessionária, o que a ajudaria a cumprir metas e competir em igualdade com a Claro, unidade da América Móvil, e com a TIM. A mudança também beneficiaria a Vivo que, junto com a Oi, responde pela maioria dos serviços de telefonia fixa no Brasil.

Sobre os bens reversíveis, o PLC resolveria a questão. Eles são  ativos – principalmente imóveis – que há 20 anos eram considerados necessários para fornecer serviços de telefonia fixa, quando as concessões para operar o sistema de telecomunicações foram licitadas, mas que há muito tempo se tornaram ociosos.

A lei facilitaria o plano da Oi de vender até US$ 2 bilhões em ativos não essenciais e se concentrar em sua rede de fibra ótica para recuperar as vendas.

Quem leva a Oi?

Com todas essas questões no radar, os analistas de mercado se debruçam sobre quem seriam os potenciais compradores da Oi (totalmente ou em fatias). 

O Bradesco BBI não vê possibilidade da AT&T ser candidata para compra, uma vez que a empresa já possui um desafio de geração de caixa e está em forte disputa com a AMX no México. Assim, não faria sentido adquirir outro ativo no Brasil para uma disputa em outra região desafiadora.

Já o Credit Suisse, em outro relatório divulgado na semana passada, destacou quem seriam os prováveis compradores da companhia.

Para os analistas, a TIM seria a compradora mais provável da operação uma vez que questões como participação de mercado poderão tornar a operação mais complexa para Vivo e Claro. 

A equipe do banco suíço possui recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) e, na ocasião, cortou o preço-alvo das ações OIBR3 de R$ 1 para R$ 0,70.

Por outro lado, destacou que uma possível venda da fatia da Unitel seria um fator positivo para a companhia mas que, nas atuais condições, a Oi possui um menor poder de barganha nas negociações. 

Também na semana passada, o Itaú BBA divulgou relatório, em tom mais positivo, sobre a companhia, tendo um preço-alvo de R$ 1 por ativo OIBR3. Os analistas Susana Salaru e Vitor Tomita avaliam que o PLC 79 tem avançado e aponta que a liberação das vendas dos imóveis pode elevar o preço-alvo em R$ 0,50.  

Além disso, seguem as expectativas de que Rodrigo Abreu possa assumir a presidência da companhia, o que seria algo bastante positivo dado o seu histórico na indústria. 

Assim, também nos últimos dias, alguns dos principais acionistas da empresa estariam discutindo, além da venda da operadora e uma mudança do comando nos próximos meses, enquanto há a especulação em torno de uma potencial intervenção do governo.

A GoldenTree Asset Management, que possui uma participação de 15% na Oi, afirmou em carta no início do mês que apenas um CEO experiente na área operacional poderia executar adequadamente o plano estratégico da empresa, em contraste com o CEO Eurico Teles, a quem a empresa chamou de “advogado talentoso”. 

Assim, muitas questões ainda estão pendentes para a companhia: troca de CEO, PLC 79, possível venda de fatia da Unitel e da própria companhia (e qual seria o modelo). Por enquanto, a palavra de ordem ainda é de cautela para os ativos, que vem registrando forte oscilação. 

(Com Bloomberg)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.