Bônus e ações convergem em meio a problemas da OGX

Nos 12 meses até março, as ações da OGX afundaram 72 por cento, com a empresa repetidamente não atingindo as metas de produção

Reuters

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SÃO PAULO – Durante meses, foi um mistério o porquê de investidores terem pontos de vista diferentes para os bônus e as ações da OGX (OGXP3). Agora, à medida que novas revelações surgem sobre a problemática petrolífera e seu controlador bilionário Eike Batista, as visões estão finalmente convergindo.

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Nos 12 meses até março, as ações da OGX afundaram 72 por cento, com a empresa repetidamente não atingindo as metas de produção, enquanto os preços dos bônus no exterior eram negociados a cerca de 80 por cento do valor de face.

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Em outras palavras, enquanto investidores na bolsa de valores julgavam a OGX quase sem valor, a Pacific Investment Management e outros fundos de bônus apostavam que a companhia produziria petróleo suficiente para honrar sua dívida.

Desde abril, no entanto, a diferença diminuiu, com o aumento das preocupações com um possível calote –e os detentores de bônus passaram a ter olhos parecidos aos dos investidores em ações da empresa. Na quarta-feira, os bônus da OGX com vencimento em 2022 eram negociados perto da mínima histórica, a 20 por cento do valor de face.

A convergência de preços está ocorrendo com investidores avaliando que a OGX está se aproximando de um dia de acerto de contas. Em 2008, quando a OGX fez sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), Eike prometeu que a empresa seria uma rival mais ágil que a estatal Petrobras. Cinco anos depois, o Barclays questiona a “viabilidade dos negócios da OGX”, e o Deutsche Bank diz que uma reestruturação da dívida da companhia é uma opção.

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Todos os olhos estão sobre Eike, um bilionário extravagante e principal sócio do Grupo EBX –conglomerado de empresas de mineração, energia e logística que uma vez simbolizou a ascensão do Brasil à proeminência mundial e agora é um reflexo de problemas do país. Eike tem evitado aparições públicas na sequência de uma queda de 20 bilhões de dólares de sua fortuna, que o tirou do topo da lista de riqueza do Brasil.

“Isso se tornou uma questão de prestígio”, disse o gestor de recursos Jean-Dominique Butikofer, que administra 2,5 bilhões de dólares em títulos de dívida na UBP, em Zurique. “Por enquanto, eu não vi uma estratégia cristalina, a médio prazo (para a

OGX).”

Uma porta-voz da OGX no Rio de Janeiro se recusou a comentar sobre as tendências de preços para os bônus e as ações da empresa. As chamadas para a assessoria de imprensa da EBX não tiveram retorno.

Na verdade, Eike ainda tem opções para salvar a companhia, como a venda de participações em campos de petróleo, incluindo Tubarão Martelo, Parnaíba e BS-4. Um acordo com estatal malaia Petronas pelo qual OGX receberá 850 milhões de dólares por uma participação em dois blocos de petróleo também pode dar algum alívio a petrolífera–, bem como um compromisso de Eike de comprar até 1 bilhão dólares em ações da OGX até abril de 2014.

Na segunda-feira, após ter divulgado que suspendeu projetos e que a produção nos poços do campo de Tubarão Azul pode parar no ano que vem, a OGX informou que a opção da companhia contra Eike “continua uma opção viável a ser considerada”.

Com uma crescente discrepância entre ativos e passivos, uma posição de caixa em erosão e opções limitadas de captação de recursos, investidores veem pouco valor em ações e bônus da OGX. Eles temem que a piora das condições do mercado tenha deixado Eike incapaz de atrair potenciais parceiros, governo e credores para ajudá-lo a salvar a OGX.

A petrolífera está lutando para transformar descobertas de óleo no mar em campos de produção. No campo de Tubarão Azul, a produção tem decepcionado desde que a perfuração começou em 2012, levantando temores de que a OGX poderia deixar de gerar receita para financiar navios e investimentos, perfurar novos poços e pagar a dívida.

“O problema com a OGX é que a diretoria não conseguiu encontrar o petróleo que poderia gerar a receita necessária para pagar as operações”, disse o diretor-geral do CRT Capital Group, David Epstein, em Stamford, Connecticut.

Ao mesmo tempo em que a principal empresa de Eike cai em desgraça, ela passa a representar os riscos mais amplos que o Brasil enfrenta.

A maior economia da América Latina se beneficiou da abundância de capital estrangeiro durante um recente boom de commodities, mas investidores e eleitores queixam-se de gastos públicos desnecessários e má gestão durante a bonança, perdendo a paciência agora que os preços de diversas matérias-primas retrocederam.

As preocupações com a EBX e a divulgação de resultado pior que o esperado da produção industrial brasileira em maio desencadeou um movimento geral de venda de ações na bolsa paulista na terça-feira, empurrando o Ibovespa –índice de referência– para o menor nível em quatro anos.

CONVERSA DE MERCADO

Os preços dos bônus da OGX tinham encontrado suporte devido a compras maciças da Pimco, que acumulou uma posição de 450 milhões de dólares em títulos de dívida da petrolífera no primeiro trimestre, segundo dados da Thomson Reuters. Mas esse voto de confiança não conseguiu evitar a queda dos preços dos bônus quando fundos menores começaram a vender os papéis no início de abril.

Os bônus levaram mais tempo para reagir às notícias ruins acerca da OGX do que as ações porque os detentores dos títulos de dívida estavam confiantes de que eles estariam à frente de outros credores no eventual colapso da empresa. Mas as preocupações de que credores estatais possam ganhar prioridade sobre investidores privados abalou a confiança.

Chamadas para a gerente-sênior de dívida de mercados emergentes, Brigitte Posch, e para a assessoria de imprensa da Pimco para comentar o assunto não foram imediatamente respondidas.

Nas últimas semanas, a conversa nas mesas de operação deixou de ser sobre a produção da OGX e passou a ser sobre um cenário hipotético de inadimplência ou mesmo de liquidação. Um relatório do Credit Suisse sobre a companhia foi intitulado “O que resta para o acionista?”, na terça-feira.

Detentores de bônus da OGX estão agora concentrados em estimar um “valor residual”, geralmente definido como o valor de um ativo após eventos como falência ou liquidação. “Em caso de inadimplência, a única coisa que importa é o valor residual”, disse Butikofer, da UBP.

Atualmente, a OGX tem o terceiro maior risco de default em um índice global de 32 mil companhias monitoradas pela empresa de gestão de risco Kamakura.

Diante de todo esse cenário, investidores estão se esforçando para imaginar como a OGX poderia ser salva.

A analista Paula Kovarsky, do Itaú BBA, disse que as vendas de ativos e do exercício de opção contra Eike para injetar dinheiro na empresa dariam apenas fôlego temporário.

A recente venda de ações da OGX por Eike na bolsa por um preço bastante abaixo do que ele se dispõe a pagar na opção dada à empresa atiçou especulações de que ele não tem o dinheiro para honrar a sua promessa.

O governo também tem pouco espaço fiscal para ajudar as empresas em dificuldades de Eike, especialmente na esteira dos protestos que atingiram as ruas em todo o país, exigindo melhoria nos serviços públicos.

Alguns dos principais bancos no Brasil têm visto um aumento do risco pela exposição às empresas do grupo EBX, após terem concedido mais de 5 bilhões de dólares em empréstimos, de acordo com estimativas do Bank of America Merrill Lynch.

“Eu sinceramente não vejo um comprador para toda a empresa como um todo”, disse Epstein, do CRT Capital Group, referindo-se à OGX.