Varejistas no Brasil tendem a se recuperar, diz XP; nos EUA, vírus acelera “apocalipse”

Enquanto no Brasil os efeitos são temporários, nos Estados Unidos os problemas podem ser irreversíveis

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Shoppings e lojas de rua fechados ou abertos por horário reduzido, funcionários em férias coletivas e clientes com medo são parte dos desafios que as varejistas enfrentam nesta pandemia do novo coronavírus.

Entidades do setor já revisaram suas estimativas de crescimento, que eram expressivas, e não descartam novos cortes. As ações dessas empresas veem quedas significativas desde o início de fevereiro, quando a crise do coronavírus começou a dar sinais de ser mundial.

A visão de analistas, porém, é de que o choque não muda os fundamentos das boas companhias e não deve ser considerado fator decisivo pelo investidor por ora. A XP, por exemplo, manteve suas recomendações inalteradas para as empresas que cobre no setor. 

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Crédito: XP Investimentos

Pedro Fagundes, analista da XP, vê dois lados nessa moeda. Na ponta negativa, as companhias devem sofrer com baixa demanda desde já, com restrição de movimento e priorização de itens de necessidade básica. No médio prazo, pode haver também um choque de oferta, caso as implicações do vírus atinjam a cadeia de abastecimento com queda na disponibilidade de insumos. 

A China, grande fornecedora de insumos para o mundo inteiro, retomou a produção, mas 70% das empresas dos setores elétrico e eletrônico no Brasil apresentam problemas no recebimento de itens vindos do país, de acordo com o dado de 10 de março da Abinee. Produtos dessas indústrias são, claro, vendidos no varejo – e podem começar a rarear. 

Em outro ângulo, as varejistas mais sólidas e maiores (caso das que têm ações listadas em bolsa) podem a se beneficiar de um maior poder de barganha com fornecedores e enfraquecimento das empresas menores – essas sim podem ter impactos até irreversíveis. 

O analista pondera, porém, que o eventual aumento de mortalidade de PMEs pode ser negativo para varejistas que operam com marketplace (65% das vendas da B2W, por exemplo) e que fornecem para os pequenos, como GPA e Carrefour (45% das vendas do atacarejo são para esse grupo). Isso significa que, apesar da movimentação maior em supermercados, nem esse grupo está protegido dos impactos do vírus. 

Efeitos fortes no curto prazo também devem aparecer nos números das varejistas com amplo estoque de produtos sazonais, como itens de coleção na moda. Dentre elas, Fagundes destaca C&A, Vivara e Lojas Renner. Hering, Arezzo, Marisa e Le Lis Blanc também são nomes que podem entrar nessa categoria, entre outros. 

Para a XP, as ações de varejistas que devem ser beneficiadas (ou menos impactadas negativamente) são aquelas que têm bom desempenho no comércio eletrônico, com destaque para B2W, Magazine Luiza e Via Varejo – as mesmas que devem se recuperar mais rápido pelo perfil dos produtos que vendem. “Destacamos que alguns setores devem apenas ver parte da demanda ser postergada, e deslocada para um período posterior. Acreditamos que esse será o caso para as categorias de ticket mais alto (eletrodomésticos, móveis e celulares)”, explica Fagundes.  

Estados unidos: apocalipse acelerado?

Enquanto no Brasil os efeitos são temporários, nos Estados Unidos os problemas parecem agravar a situação de empresas que já sofrem com o chamado Apocalipse do Varejo, fenômeno de fechamento em massa de lojas e falências causadas pelas mudanças nos hábitos de consumo dos americanos e pelo efeito-Amazon de explosão do comércio eletrônico. 

A princípio, inúmeras varejistas fecharam as portas por um período inicial de 15 dias, mas analistas já esperam novos comunicados. 

“Existe uma alta probabilidade de que os fechamentos [de lojas] sejam estendidos à medida que os casos de coronavírus aumentem”, dizem analistas do Credit Suisse. Considerando apenas o período inicial de fechamento (duas semanas), eles estimam impacto médio de queda de 3% nas receitas anuais e 13% no indicador de receita por ação em relação às estimativas anteriores para 2020, partindo de um impacto de 100% nas vendas de lojas físicas e funcionamento normal das operações online. 

Segundo eles, as lojas mais impactadas devem ser as de departamento, com perdas estimadas em até 25% para a Macy’s, por exemplo, pelas mesmas razões de sazonalidade observadas no Brasil. Arede, vale lembrar, passa por uma grave crise e anunciou no início de fevereiro que deve fechar 125 lojas nos próximos três anos. 

As lojas menos impactadas incluem Walmart e Target, considerando que a maioria das lojas permanecerá aberta, e Home Depot, cujas margens são consideravelmente mais altas que a média do setor.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney