Um rali de 37% surge na Bolsa: só resta alguém conseguir explicá-lo; eis 4 hipóteses para a alta

Ação até caiu hoje, mas ainda assim segue bem descolada das demais do setor: enquanto a Anima subiu 37% nos últimos 8 pregões, Kroton e Estácio avançaram 28% e a Ser teve alta de "apenas" 13%

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – As ações da Anima (ANIM3) têm chamado atenção nos últimos dias. Apesar de ter perdido força nesta sessão e encerrado em queda, os papéis ainda acumulam disparada de 37% desde o fechamento da segunda-feira do dia 28 de setembro, quando o Ibovespa virou a mão e não parou mais de subir, bem descolados do restante do setor. Nesta quinta-feira, 10, as ações chegaram a subir 7%, mas amenizaram até virar para fechar em queda de 1,52%, a R$ 12,30. 

Sem notícias no radar sobre a empresa, esse movimento ganhou atenção redobrada. Na segunda-feira passada, 5, a companhia até divulgou dados operacionais, mas que, segundo analistas, não explicariam essa alta. “O número de captação do segundo semestre que a empresa divulgou veio ruim, embora algumas casas projetassem dados piores, mas ainda assim essa ‘surpresa’ não justificaria uma alta dessa magnitude”, disse um analista que cobre o papel, mas preferiu não se identificar. Ele comentou que entrou em contato com o departamento de relações com investidores da empresa para tentar entender o movimento, mas a própria empresa teria dito que não havia nada específico para explicar o movimento. 

Recentemente, a empresa anunciou um programa de recompra de ações, que teve inicio a partir do dia 5 de outubro, um fato que também poderia ajudar a puxar o papel para cima, mas dado que o programa será realizado em um prazo prolongado, não causaria um efeito desses no curto prazo. 

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Circularam no mercado ainda informações de um possível short squeeze, mas em contato com a mesa de operações da XP Investimentos, eles informaram não há nenhum movimento nesse sentido com o papel, cujo aluguel não é demandado assim e não há falta de “doadores” (quem deixa a ação para aluguel) no mercado.

Pensado em elucidar o que poderia estar por trás desse movimento, embora não chegue a justificá-lo, preparamos a lista a seguir: 

Os 4 fatores que justificam, mas não explicam o rali da Anima

1) Recompra de ações

Por que justifica? A companhia anunciou que nos próximos 12 meses a partir de 5 de outubro fará a recompra de até 10% de seu free float (ações em circulação), que equivale a 3.648.297 papéis ANIM3. Uma recompra costuma ser bem recebida pelo mercado pelo simples fato de que o controlador da empresa – que teoricamente é quem mais entende do modelo de negócio – está disposto a comprar ações, ou seja, ele acredita que elas estão baratas.

E comparando o volume médio diário negociado das ações da Anima com o limite do programa de recompra, a notícia de fato mostra-se positiva. Considerando o preço médio dos papéis ANIM3 no mês passado (R$ 9,75), a recompra resultaria em um desembolso de até R$ 35,571 milhões. Isso corresponde a 5 pregões inteiros de negociações da Anima na Bolsa – no 3º trimestre, essas ações tiveram um giro médio entre R$ 7 milhões e R$ 7,5 milhões por dia.

Mas por que não explica? O problema é que se diluirmos esse montante na mesma proporção ao longo dos 12 meses do programa de recompra (que equivale a 252 dias úteis), essa pressão compradora diminui para apenas 0,02 vezes o volume médio negociado de ANIM3 por dia.

Outro ponto importante: em um programa de recompra, a empresa não é obrigada a comprar nenhuma ação e também não precisa estender o programa por todo período estipulado – o quanto e quando será comprado depende apenas da companhia. Sendo assim, a melhor forma de saber se uma empresa que anunciou recompra de fato está adquirindo papéis do mercado é monitorar o fluxo comprador das instituições escolhidos por ela para serem as intermediadoras do programa – informação que precisa ser apresentada no fato relevante.

No caso da Anima, foram escolhidas 5 corretoras: Itaú, Credit Suisse, Merrill Lynch, Santander e HSBC. No pregão de ontem quando a ação subiu 17%, apenas Credit e Merrill Lynch aparecem como 2º e 4º colocados entre os maiores intermediadores do lado da compra, totalizando 30%. Já nesta quinta, nenhuma delas aparecem entre as 4 maiores compradores de ANIM3 na Bolsa. A conclusão que podemos tirar é que a Anima não entrou com força no mercado nestes dois pregões de alta da empresa.

2) Ação caiu mais do que seus concorrentes

Por que justifica? No ano, Anima e Ser aparecem como as maiores quedas do setor (superior a 60%), bem distantes de Kroton e Estácio que caíram na faixa de 30% a 40%. Um movimento que poderia justificar parte desse movimento, dado que a ação tenderia a se ajustar as demais. 

Contribuindo com isso, o JPMorgan divulgou relatório na virada do mês apontando que o setor seria uma oportunidade de compra depois do sell off. 

Mas por que nao explica? Apesar da leitura positiva do banco, a recomendação favorecia a Ser, que por outro lado, foi a que menos subiu nesses últimos oito pregões. Enquanto a Anima acumula alta de 37% no período, a Ser subiu “apenas” 13% (como pode ser visto no quadro abaixo).

O JPMorgan iniciou cobertura da Ser com overweigh (exposição acima da média), enquanto para Anima atribuiu classificação neutra, citando preocupações no curto prazo, dado o ticket alto (R$ 850 por mês, contra média de R$ 627 dos seus pares) e baixa penetração no Fies. Por outro lado, a Ser seria favorecida por sua exposição geográfica (86% dos estudantes do Norte/Nordeste do País) e margens elevadas. Na Bolsa, no entanto, os papéis não corresponderam em linha com a recomendação:

Empresa Ticker Cotação* Variação dos últimos 8 pregões Variação acumulada no ano
Anima ANIM3 R$ 12,30 +36,97% -64,11%
Ser Educacional SEER3 R$ 9,41 +12,82% -67,39%
Kroton KROT3 R$ 9,53 +28,60% -37,75%
Estácio ESTC3 R$ 16,20 +28,26% -30,78%
*Cotação de fechamento desta quinta-feira (10)

3) Captação do 2º semestre

Por que justifica? Na segunda-feira passada, a Anima divulgou dados de captação do segundo semestre, que não vieram bons, mas acima de alguns leituras mais pessimistas. O número de matriculados no período caiu 2,3% na comparação anual, para 82 mil. A redução foi provocada principalmente pela queda de 3,3 mil alunos do Pronatec, quando comparado com o mesmo período do ano anterior. 

Excluindo esse efeito, a base de alunos da companhia apresentaria um crescimento de 1,8%, impulsionada por um crescimento de 1,6% na base de alunos de graduação presencial. 

Mas por que não explica? “O número de captação do segundo semestre que a empresa divulgou veio ruim, embora algumas casas projetassem dados piores, mas ainda assim essa ‘surpresa’ não justificaria uma alta dessa magnitude”, disse um analista que cobre o papel, mas preferiu não se identificar. Ele comentou ainda que entrou em contato com o departamento de relações com investidores da empresa para tentar entender o movimento, mas a própria empresa teria dito que não havia nada específico para explicar o movimento. 

4) Shor Squeeze

Por que justifica? Ações em longo período de queda são alvo de “short position”, ou operações de venda a descoberto, na qual o investidor aluga um papel para vendê-lo agora na Bolsa, esperando que no futuro o preço dele caia para que ele compre de volta este papel e devolva para o doador, auferindo lucro nesse período.

Mas por que não explica? Em contato com a mesa de operações da XP Investimentos, eles informaram não há nenhum movimento nesse sentido com o papel, cujo aluguel não é tão demandado assim e não há falta de “doadores” (quem deixa a ação para aluguel) no mercado. Atualmente, tem apenas 2,6 milhões de ações alugadas da companhia, que representam 7,2% das ações em circulação no mercado da empresa.  

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers