Uber admite que talvez nunca seja lucrativa

Empresa protocolou seu registro para o que deve ser o maior IPO do ano

Letícia Toledo

App do Uber

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A Uber protocolou na quinta-feira seu registro para o que deve ser a maior oferta inicial de ações (IPO) do ano. Em um arquivo de mais de 300 páginas, a empresa avaliada em cerca de US$ 100 bilhões admite que talvez nunca seja lucrativa.

“Nós esperamos que nossas despesas operacionais aumentem significativamente em um futuro previsível e nós podemos não alcançar o lucro”, reporta o documento da empresa, que teve um prejuízo de US$ 3 bilhões no ano passado.

As páginas seguem com uma lista dos fatores de risco da empresa, que incluem seu enorme gasto com motoristas, suas linhas de negócio sem “receita comprovada” e as perdas de seu aplicativo de delivery de alimentos, o Uber Eats.

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Embora alarmante, a frase está longe de ser um caso isolado na história recente dos IPOs nos EUA. A concorrente da Uber Lyft’s, que abriu seu capital em março, incluiu uma frase similar em seu prospecto. “Nós temos um histórico de perdas líquidas e podemos não ser capazes de alcançar ou manter a rentabilidade no futuro “, dizia o documento.

A dona do aplicativo Snachat, a Snap, admitiu em seu prospecto em 2017 que a empresa “talvez nunca alcance ou mantenha a lucratividade”. Dois anos após seu IPO, a Snap ainda está no vermelho.

O risco da “bolha pontocom”
Um levantamento do professor da Universidade da Flórida Jay Ritter, especialista em IPOs, mostra que a única vez em que tantas empresas não lucrativas abriram seu capital nos Estados Unidos foi no início dos anos 2000, no que se tornou a “bolha do pontocom” .

Assim como nos anos de 2000, a quantidade de companhias no prejuízo abrindo capital atualmente tem a ver com a ascensão de um setor: o de empresas de tecnologia e, principalmente, aplicativos — o caso de Uber, Lyft e Snap.

Ao todo, cerca de 84% das companhias de tecnologia que se tornaram públicas em 2018 estavam no vermelho, de acordo com o estudo de Ritter. Mas por que tantos investidores mostram interesse por essas empresas? A esperança do mercado é que essas companhias sigam o padrão da Amazon.

A gigante do varejo permaneceu durante anos alternando entre lucros minúsculos e prejuízos, com a discurso de que precisava investir em novos negócios e ampliar seu comércio eletrônico antes de se preocupar com a última linha do balanço.

A companhia listou suas ações em 1997 e o lucro só se tornou rotina a partir de 2015. Durante os 17 trimestres após o IPO, a Amazon totalizou um prejuízo de US$ 2,8 bilhões. Em seu último balanço, a Amazon reportou um lucro de US$ 3 bilhões em apenas um trimestre.

Dessa vez é diferente?
Embora a euforia dos investidores com as empresas de tecnologia tenha similaridades com a bolha observada em 2000, especialistas ressaltam algumas diferenças essenciais entre as duas épocas.

Enquanto nos anos 2000 as empresas que abriram capital tinham poucos anos de existência, dessa vez as companhias a caminho do IPO estão há anos no mercado, com operação em diferentes países e receitas muito maiores.

A Uber já tem 10 anos, com operação em mais de 60 países e faturou US$ 11,27 bilhões no último ano. Apesar de seu tamanho, seu CEO, Dara Khosrowshahi, afirmou no documento divulgado ontem que a empresa “ainda mal arranhou a superfície de grandes indústrias como alimentos e logística”.

O discurso é suficiente para convencer investidores? Saberemos em breve. O IPO deve acontecer em maio.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.