Transferwise lucra pelo terceiro ano consecutivo e vira exceção entre fintechs

Avaliada em cerca de US$ 3,5 bilhões, a empresa permite que as pessoas enviem dinheiro ao exterior de forma totalmente online

Giovanna Sutto

Publicidade

SÃO PAULO – As fintechs estão ganhando espaço. Em 2018, o investimento global nesse tipo de empresa atingiu US$ 111,8 bilhões, em 2.196 negócios, segundo dados da pesquisa The Pulse of Fintech 2018, da KPMG, divulgada neste ano. 

Mas, dentro desse segmento, ter um negócio sustentável, que gere receita e tenha lucro é um verdadeiro desafio. No Brasil, por exemplo, 58% das fintechs ainda não atingiram o break-even (quando a receita cobre os custos fixos e variáveis da empresa) e operam no prejuízo, segundo uma pesquisa da consultoria PwC, intitulada Deep Dive 2018 e divulgada recentemente.   

Neste cenário adverso, a TransferWise, empresa com sede no Reino Unido especializada em transferências internacionais, registrou, na semana passada, o terceiro ano consecutivo de lucro com aumento de receita, consolidando-se como exceção. Sua receita anual cresceu 53% no último ano fiscal chegando a 179 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 908 milhões) e com lucro líquido após impostos de 10,3 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 52,3 milhões) para o ano fiscal encerrado em março de 2019.   

Continua depois da publicidade

Avaliada em cerca de US$ 3,5 bilhões, a empresa permite que as pessoas enviem dinheiro ao exterior de forma totalmente online por um valor bem abaixo do cobrado por bancos. Mesmo lucrando, a empresa  está expandindo: a operação no Brasil, por exemplo, vem ganhando atenção desde o ano passado. 

Estratégia e nicho certo 

Em entrevista ao InfoMoney, Heloísa Sirota, country manager da empresa no Brasil, atribui esse sucesso global à facilidade e experiência do cliente – itens cada vez mais importantes para os consumidores.   

No mundo, a categoria de transferência de valores é a mais usada pelos consumidores, com 75% deles usando pelo menos um serviço desse tipo, de acordo com um estudo deste ano da Ernst & Young, que presta serviços de auditoriaelisão fiscalconsultoria e transações corporativas.  

A empresa atende mais de 6 milhões de clientes ao redor do mundo, opera com 50 moedas e não pretende parar a expansão internacional.   

“Hoje, ajudamos as pessoas a economizarem mais de US$ 1 bilhão por ano, mas ainda podemos elevar essa economia a centenas de bilhões. É por isso que a expansão internacional ainda é a nossa prioridade – estamos focados em levar a melhor experiência para todos que precisam movimentar dinheiro pelo mundo”, diz Kristo Kaarmann, CEO da TransferWise.      

Cenário no Brasil

É verdade que ser uma fintech no Brasil é sinônimo de alguns desafios regionais como a dificuldade de atrair e reter talentos, de alcançar escala para operar, conseguir visibilidade, entre outros empecilhos, de acordo com a pesquisa da PwC. As fintechs na América do Norte e Europa atraem mais investimentos no mundo, enquanto a América do Sul historicamente recebe menores valores.   

A Remessa Online, outra fintech de transferência internacional, poderia ter atingido p break-even em janeiro de 2019, mas optou por acelerar os investimentos para triplicar de tamanho até o final deste ano e, por isso, não é lucrativa.  

Apesar dos obstáculos, a Transferwise também está conseguindo manter um negócio sustentável por aqui. O Brasil segue como um dos cinco principais mercados da empresa, e a fintech já movimentou mais de R$ 20 bilhões no país desde que chegou por aqui  quatro anos.    

Segundo dados do Banco Central, US$ 2 bilhões (R$ 8,35 bilhões) foram transacionados em 2018 considerando operações de pessoas físicas para pessoas físicas daqui para o exterior.

“Ainda temos um espaço muito grande para crescer e muitas pessoas ainda estão fazendo esse tipo de serviço via bancos. E se considerarmos os valores de empresa para empresa e de consumidor para empresa, as oportunidades só crescem e aumentam nosso espaço de atuação”, diz a country manager.    

Heloísa defende também que um diferencial estratégico do negócio é a diversificação. Hoje, a empresa atua não apenas com a transferência de dinheiro, mas como corretora de câmbio em diversos países e com pessoa física, jurídica e empresas.   

“No Brasil, hoje oferecemos transferência de pessoa física para pessoa física e recentemente liberamos a possibilidade de pessoa física para empresas educacionais. Muitos clientes enviam dinheiro para o exterior para pagar a educação dos filhos, é nossa maior demanda”, afirma a executiva.

A empresa está esperando a licença do Banco Central para operar diretamente como corretora de câmbio, como faz em outros países. “Quando conseguirmos a licença, nosso valor para o cliente final deve cair, porque conseguiremos atuar com menos intermediários a quem pagamos porcentagens das operações – como nossa taxa de administração que hoje, na média, é de 1,5% e poderá ser reduzida”, complementa Heloisa.   

A diminuição de preço deve gerar um aumento de volume, o que deve impulsionar o negócio no Brasil, acredita a executiva. A expectativa é que a licença saia ainda este ano.  

Taxas

 A TransferWise demora até três dias úteis para entregar o dinheiro na conta do destinatário. O processo pode ser mais rápido se o valor da transferência não for pago em boleto.  

A empresa usa o dólar comercial e cobra uma taxa que inclui o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que pode variar entre 0,38% e 1,1% (no caso de conta de mesma titularidade no exterior) e a taxa administrativa da empresa que na média é 1,5%, mas pode mudar a depender do destino do dinheiro. O valor mínimo que pode ser enviado é R$ 10.   

Assim, em uma simulação, feita no site da empresa, em o cliente brasileiro enviaria US$ 1 mil para uma conta própria nos EUA, pagaria R$ 4.290 na TransferWise. O valor inclui: dólar comercial + R$ 119,28 (1,1% de IOF + cerca de 1,5% de taxa administrativa).    

A Remessa Online também usa o dólar comercial para o câmbio, e cobra IOF, além de uma taxa administrativa de 1,30% sobre o valor transferido.   

O tempo estimado para o dinheiro cair na conta de destino é de um dia útil e o valor mínimo que pode ser enviado pela plataforma é R$ 150. Nesse contexto, a mesma simulação, feita no site da empresa, sairia R$ 4.273,56. O valor inclui: dólar comercial + 1,3% de taxa administrativa + R$ 5,9 de tarifa bancária + 1,1% de IOF.

Por que no banco sai mais caro 

A principal diferença em relação aos bancos, é a despesa Swift cobrada do cliente. O SWIFT (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais) é um sistema de comunicação internacional entre instituições financeiras entre países diferentes. O valor não é fixo e cada banco pode estipular seu preço na transação. A adoção do sistema é uma convenção, mas não uma obrigação.    

TransferWise criou sua própria rede global ao integrar seu sistema com uma série de bancos locais o que faz com que não seja necessário a cobrança das despesas Swift. A Remessa Online também está trabalhando para aumentar sua própria rede e trabalha com uma empresa de blockchain que faz a comunicação com instituições financeiras de forma mais ágil e barata que o Swift.    

Invista seu dinheiro para realizar seus maiores sonhos. Abra uma conta na XP – é de graça. 

Tópicos relacionados

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.