TikTok: a rede social chinesa que já hipnotizou 1,5 bi agora atrai desafetos

Por que o aplicativo de vídeos cômicos e muitas vezes ingênuos já provocou reações do Facebook e de políticos americanos

Sérgio Teixeira Jr.

(Shutterstock)

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NOVA YORK – Como começar a descrever o Instagram ou o Facebook para alguém que passou os últimos 20 anos numa caverna? Esse é um dos desafios de falar do TikTok, a rede social de vídeos que está conquistando o mundo dos jovens – e da qual você talvez já tenha ouvido falar se algum pré-adolescente faz parte da sua vida.

A maneira mais fácil de entender o TikTok é baixar o aplicativo no celular (como já fizeram mais de 1,5 bilhão de pessoas no último ano e meio) e assistir aos vídeos nonsense e engraçadíssimos que são a marca registrada da nova plataforma. Mas não faça isso agora – ou você corre passar horas hipnotizado pelo app.

O TikTok é uma coleção de vídeos curtos, de cerca de 15 segundos, geralmente filmados com a câmera de selfie apontada para o próprio usuário fazendo alguma palhaçada, dublando uma música ou respondendo a algum outro TikTok que viralizou.

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São doses minúsculas de entretenimento, emendadas uma nas outras. Você pode acompanhar as postagens dos seus amigos ou simplesmente rolar a página “For You”, uma sequência de vídeos populares montada com base nos seus likes e nos vídeos que você viu até o final.

O aplicativo foi lançado em 2017 pela empresa chinesa ByteDance. Como costuma acontecer com apps de redes sociais, a curva de adoção foi lenta nos primeiros meses, e então explodiu – pois todo mundo quer estar perto dos amigos.

Pegadinhas, passos de dança e muitos gatos

Parte do sucesso do TikTok tem a ver com o espírito dos vídeos postados. Quase não há brigas políticas (muito menos textões), como no Facebook, ou tentativas de mostrar uma vida glamurosa ou competir por likes, como no Instagram. No TikTok, ninguém se leva a sério.

Um vídeo típico mostra um adolescente simulando uma conversa com a mãe (que é caracterizada por uma toalha ou uma camiseta na cabeça), o drama de estudar para uma prova ou então uma tentativa de copiar passos de dança da moda (que não são nada simples, dado o grande número de tutoriais de como fazê-los).

Outro tema comum são pegadinhas com os amigos, imitações de cenas de filmes e – é claro – gatos, muitos gatos. Quase todos os vídeos têm trilha sonora, e o rapper Lil Nas X chegou ao primeiro lugar da parada da Billboard depois de uma de suas músicas, “Old Town Road”, virar hit no TikTok.

Tentativas de descrição jamais farão justiça à experiência de usar o app. Os criadores desses microvídeos parecem estar se divertindo de verdade (muitos acabam caindo na gargalhada no meio dos vídeos).

Apesar de já haver algumas celebridades do TikTok, a sensação geral ainda é de inocência e deslumbramento, como aquele período mágico em que os brasileiros descobriram o Orkut.

As interrupções publicitárias são mínimas, e é fácil passar minutos – ou horas – assistindo a um vídeo depois do outro.

A reação do Facebook

É claro que o sucesso do TikTok não passou despercebido no quartel-general do Facebook, que também é dono do Instagram e do WhatsApp. Depois de criar a função Stories, uma cópia descarada do Snapchat, o Instagram lançou um teste de sua versão do TikTok.

A funcionalidade está em período experimental para os usuários brasileiros e foi batizada de Cenas. Os vídeos também têm 15 segundos de duração e podem usar como trilha sonora as músicas oferecidas num catálogo oficial.

Em entrevista ao site TechCrunch, Robby Stein, diretor de produtos do Instagram, afirmou que o TikTok “merece crédito por popularizar o formato” dos microvídeos. Mas ele afirma que a ideia de criar vídeos com fundo musical é uma ideia universal e que “seus amigos já estão todos no Instagram. E isso é verdade só para o Instagram”.

Apesar de ainda não haver uma decisão oficial sobre a adoção da função Cenas no resto do mundo, é difícil imaginar que o Instagram deixe o TikTok reinar sozinho no restante do mundo, ainda mais quando se sabe que em 2016 o Facebook tentou comprar o Musical.ly, app chinês de dublagem de músicas que acabou sendo comprado pela ByteDance, também chinesa, e deu origem ao TikTok.

Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, fez críticas públicas ao TikTok num discurso realizado em outubro. Segundo ele, o TikTok estaria censurando vídeos relacionados aos protestos de Hong Kong.

“É essa a internet que queremos?”, disse Zuckerberg. Em resposta ao comentário, a empresa afirmou em comunicado que “não é influenciada por governos estrangeiros” e que “não retira vídeos [da plataforma] com base na presença de conteúdos relacionados aos protestos de Hong Kong”.

Risco político?

Políticos americanos, entretanto, também parecem preocupado com o crescimento do app. Senadores democratas e republicanos defendem uma revisão de aplicativos chineses com grande número de usuários nos Estados Unidos, particularmente o TikTok.

O app seria suscetível à pressão do governo chinês e poderia “apoiar e cooperar com agências de inteligência controladas pelo Partido Comunista Chinês”, segundo uma declaração dos senadores Chuck Schumer e Tom Cotton.

A ByteDance afirma que o aplicativo não está disponível no mercado chinês e que seus data centers ficam fora do país, portanto “não estão sujeitos às leis chinesas”.

Até mesmo o Estado Islâmico tentou usar o TikTok para recrutar militantes na rede social. Os vídeos (que foram retirados do serviço) mostravam imagens de combatentes armados, com um fundo musical de canções do grupo fundamentalista.

O uso de redes sociais como vetor de radicalização não é novidade, é claro, mas o crescimento da rede social – e o fato de um terço de seus usuários terem menos de 18 anos – certamente vai gerar mais dores de cabeça para a ByteDance.

Mas repercussões geopolíticas são a última preocupação dos usuários do TikTok. Para eles, o importante é ter um espaço de expressão sem os filtros, sem as expectativas e, acima de tudo, sem a seriedade das redes sociais.

Acha que o Facebook virou uma chatice? O Instagram é campeonato de likes (com um milhão de anúncios no meio)? Talvez seja a hora de experimentar o TikTok.

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Sérgio Teixeira Jr.

Jornalista colaborador do InfoMoney, radicado em Nova York