Thiago Maffra assume como CEO da XP: conta digital completa, crédito e mais produtos para empresas são prioridades

Para o executivo, que também destacou o desafio da digitalização, o open banking é "uma das maiores transformações do mercado desde o Plano Real"

Mariana Segala

Thiago Maffra, CEO da XP (Vivian Koblinsky)

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SÃO PAULO – Thiago Maffra, atual CTO da XP, assumirá a cadeira de CEO nesta quarta-feira (12) com três prioridades: a expansão do portfólio de serviços e produtos oferecidos aos clientes, a digitalização da companhia e o foco nas pessoas que compõem as equipes da empresa. “Reinventamos o mundo dos investimentos e somos um player relevante. O desafio é fazermos isso em novos produtos”, disse Maffra, em entrevista coletiva concedida hoje.

O executivo destacou que, dos R$ 800 bilhões em receita gerados pelas empresas do setor financeiro anualmente, a XP – com o foco direcionado para os produtos de investimentos – está inserida atualmente em um universo de R$ 100 bilhões. O objetivo é conseguir marcar presença no montante completo, do qual cerca de R$ 500 bilhões estão relacionados ao segmento de crédito.

Por isso, de imediato, a frente da expansão do portfólio da XP envolve pelo menos três caminhos. Um deles é o lançamento de uma conta digital completa, prevista para os próximos meses, com opções de pagamentos, acesso ao PIX, cartão de débito e conta salário, entre outras.

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O segundo é avançar sobre produtos destinados a empresas. “Somos uma referência para pessoas físicas, e queremos ser a mesma referência para o público de PJs”, explicou Maffra.

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Crédito

A terceira investida da XP será sobre o mercado de crédito. A empresa oferece algumas linhas a quem já está na base de clientes, como cartão de crédito e empréstimos colateralizados. Mas há, segundo o executivo, possibilidades adicionais – e demanda por elas.

Nesse aspecto, a expectativa de Maffra é de que as novas tecnologias incorporadas ao sistema financeiro facilitem o percurso. É o caso, por exemplo, do open banking, que o executivo considera “uma das maiores transformações do mercado desde o Plano Real”.

“Alguns bancos têm uma relação de dez ou 20 anos com os clientes e, por isso, possuem dados que os outros não têm”, disse. Para quem, como a XP, é um entrante em segmentos como pagamentos e crédito, ter acesso a informações desse tipo via open banking – mediante autorização pelas pessoas, como prevê o regramento – permitirá criar produtos mais adequados e precificados de maneira justa.

“Existem dezenas de modalidades de crédito, e algumas têm muito mais sinergia com a XP do que outras”, disse Maffra. Operações que envolvam acessar recursos via mercado de capitais, por exemplo, no lugar de funding próprio, são um exemplo disso. “Nosso modelo é asset light”, explicou.

Para Guilherme Benchimol, fundador da XP e CEO há 20 anos, essa é a “grande transformação” que a companhia pode protagonizar no mercado de crédito brasileiro. “Nos Estados Unidos, 90% do crédito é feito fora do balanço das instituições financeiras”, disse durante a entrevista coletiva.

“Conseguir usar o mercado juntando investidores, seja por meio de FIDCs [fundos de recebíveis] ou outras estruturas, a tomadores é uma maneira de desintermediar o crédito”, explicou Benchimol, acrescentando que essa alternativa permitiria provocar mudanças rápidas e escaláveis. Ele passará a ser o presidente executivo do conselho de administração da XP Inc.

Embora avance cada vez mais para a oferta de serviços bancários, a XP, segundo Maffra, não pretende ser um banco como são os incumbentes hoje no Brasil. “Não queremos simplesmente oferecer cheque especial cobrando juros de 300% ao ano”, explicou. “Temos uma cultura de centralidade nos clientes, e queremos criar produtos que sejam bons e adequados para eles”.

O que permite à XP atuar de maneira distinta das instituições financeiras tradicionais são sua capacidade tecnológica e sua matriz de custos, muito mais enxuta.

Transformação digital

Na frente da digitalização, Maffra destacou que o movimento de transformação da XP teve início há pouco mais de três anos. “Esse é um processo vivo, que nunca chega ao fim”, disse. Segundo o executivo, o objetivo é ampliar o movimento, criando unidades de negócios independentes, de modo a descentralizar as equipes e assegurar a autonomia delas, que estão em contato direto com os clientes.

Como consequência do processo incorporação de tecnologia e da expansão de novos produtos e serviços, Maffra prevê que a captação de novos clientes se dará tanto pela via digital quanto pelos escritórios de agentes autônomos, parceiros já tradicionais da companhia. “Teremos perfis de clientes diferentes com propósitos diferentes”, explicou.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney