Testes com a vacina de Oxford são suspensos por reação adversa; farmacêutica diz que paralisação é “rotina”

Laboratório decidiu pela interrupção temporária do trabalho após suspeita de reação grave em voluntário

Allan Gavioli

(Pexel/Retha Ferguson)

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SÃO PAULO – Na noite da última terça-feira (9), a farmacêutica AstraZeneca confirmou que fará uma suspensão nos testes clínicos de sua vacina, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford- o que imediatamente gera dúvidas e apreensão em todos que esperavam um imunizante o mais rápido possível. Mas, segundo o laboratório, o momento é mais de cautela do que de pânico.

O laboratório ainda afirmou que a paralisação dos estudos com o medicamento ocorre devido a um episódio de reação adversa de um voluntário no Reino Unido. A vacina também está sendo testada no Estados Unidos, África do Sul e Brasil.

A AstraZeneca não informou qual foi a reação adversa contatada, mas o jornal americano “The New York Times” informou que o voluntário em questão apresentou uma síndrome inflamatória que afeta a medula espinhal. O trabalho dos especialistas, então, é determinar se o problema foi causado por alguma reação à vacina ou se o paciente desenvolveu a doença por outros fatores.

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Segundo a farmacêutica, uma pausa durante a terceira fase de testes clínicos de um medicamento é normal, já que essa última fase serve exatamente para isso: encontrar efeitos adversos e garantir a eficacia do imunizante.

“Como parte dos ensaios clínicos randomizados e controlados em andamento do COVID-19 vacina AZD1222, nosso processo de revisão padrão foi acionado e nós voluntariamente pausamos a vacinação para permitir a revisão dos dados de segurança por um comitê independente”, diz a farmacêutica em nota.

“Esta é uma ação de rotina que deve acontecer sempre que houver um potencial doença inexplicada em um dos ensaios, enquanto é investigado, garantindo que mantemos a integridade das provações”, conclui.

O laboratório diz estar trabalhando para revisar os resultados do teste o mais rápido possível, para minimizar qualquer impacto no cronograma do ensaio. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a vacina da AstraZeneca é provavelmente a mais avançada das nove candidatas em fases finais de testes.

De acordo com a rede britânica BBC, os testes podem ser reiniciados em alguns dias com decisão do órgão regulador britânico.

Vacinas não estão ameaçadas

Embora possa causar um pânico inicial, a suspensão de testes de medicamentos não é algo incomum. O ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, afirmou em entrevista que a paralisação não é, necessariamente, um retrocesso e que essa não foi a primeira vez que isso acontece.

“Obviamente, é um desafio. Mas, na verdade, não é a primeira vez que isso acontece com a vacina Oxford e é um processo normal em testes clínicos de vacinas. Os próximos passos dependerão do que os pesquisadores encontrarem”, disse o ministro ao canal britânico SkyNews.

A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que possuía parceria com a universidade britânica e o laboratório para conduzir os testes nacionalmente e, no futuro, fabricar o medicamento, informou que a fase três também está suspensa no Brasil.

Cerca de cinco mil voluntário brasileiros já receberam o medicamento. Em junho, o Ministério da Saúde anunciou um acordo com Oxford para a produção inicial de 30,4 milhões de doses da vacina contra Covid-19, com investimento de US$ 127 milhões.

Em nota, a Unifesp afirma que, até o momento, não teve nenhum registro de qualquer reação adversa grave em seus voluntários. A universidade ainda reiterou que a paralisação é um procedimento normal no desenvolvimento de vacinas.

“A pausa, anunciada após a suspeita de evento adverso não esperado com um voluntário do Reino Unido, segue os padrões de segurança preconizados no protocolo do estudo da vacina de Oxford. Trata-se de uma prática comum em estudos clínicos envolvendo fármacos. O comitê de monitoramento de segurança do estudo analisa se o caso tem ou não relação com a vacina e assim que a análise for concluída, a fase 3 deve ser retomada”, disse a Unifesp em nota.

Notícia afeta ações da farmacêutica – mas não tanto

Com a noticia da interrupção dos testes clínicos, as ações da AstraZeneca abriram em queda nessa quarta-feira. No índice FTSE 100, de Londres, os papéis da companhia caem 1% agora no meio da manhã.

Contudo, vale destacar que as perdas chegaram a ser de 3% durante a manhã, havendo uma redução da queda posteriormente em meio à avaliação dos investidores de que o evento é comum durante a fase de testes.

A farmacêutica também está listada na bolsa de Nova York, nos EUA. Na manhã desta quarta-feira, os papeis da companhia caem 0,47%, cotados em US$ 54,47.

Porém, com anúncio de uma possível retomada dos testes ainda na próxima semana, as ações da farmacêutica praticamente zeraram as perdas no mercado londrino.

O time de research do Morgan Stanley acredita que “o obstáculo para interromper o recrutamento nos ensaios da vacina Covid-19 é provavelmente muito baixo, dada a ‘abundância de cautela’ dos patrocinadores e dos pesquisadores”, em parte refletindo o rápido ritmo de desenvolvimento da vacina até o momento.

A recomendação dos analistas para os ativos segue como equalweight (exposição em linha com a média do mercado) e o preço alvo para a ação na bolsa de Londres é de 9 mil pences esterlinos (cerca de R$ 629 na conversão direta).

Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.