T4F pisa no freio e Credit Suisse vê bom potencial na ação, que sobe forte

Companhia admite cenário desafiador, porém analistas acreditam que ações estão em bom patamar e papéis corrigem as perdas recentes

Paula Barra

Publicidade

SÃO PAULO – Após dois fracassos recentes – as turnês da Lady Gaga e Madonna -, a Time for Fun (SHOW3) decidiu admitir aos investidores que os próximos resultados podem ser impactados negativamente. O excesso de sinceridade parece ter tido um efeito positivo no mercado – ou talvez as ações estejam simplesmente corrgindo parte das perdas de mais de 60%, acumuladas de setembro pra cá -, mas a verdade é que os papéis da empresa de entretenimento avançavam impressionantes 5,00% às 16h16 (horário de Brasília), sendo cotadas a R$ 7,35. Na máxima do dia, eles chegaram a atingir alta de 7,14%, quando valiam R$ 7,50. 

Em fato relevante, a T4F falou que vai ter que puxar o freio nos grandes shows de estrelas internacionais para espetáculos ao ar livre, mas esse cenário pessimista já vem sendo incorporado ao preço do papel nos últimos meses. “Esse desempenho negativo mostra que os recentes eventos já estavam precificados”, disse o analista Henri Evrard, da Infinity Asset.

Corroborando para esse cenário, o Credit Suisse divulgou nesta segunda-feira um relatório no qual revisou suas estimativas para a empresa. Embora os analistas Andrew Campbell e Daniel Federle tenham revisado para baixo o preço-alvo – de R$ 18 para R$ 11, o que implica num potencial de valorização de 57,1% em relação ao último fechamento -, o cenário atual não chega a assustá-los, com a recomendação dada pelo banco seguindo em outperform (desempenho acima da média). Segundo eles, a empresa ainda possui uma forte posição de caixa, e, além disso, projeções de resultados mais favoráveis no próximo ano já podem servir de catalisador para as ações SHOW3.

Continua depois da publicidade

De “grand finale” para turbulências…
Há alguns meses, o Credit Suisse previa um “grand finale” para a T4F, devido ao pesado calendário de eventos que parecia ser capaz de repetir o resultado positivo do ano passado, mas essa estimativa parece ter ido por água abaixo. “Próximo de terminar o quarto trimestre, nós percebemos claramente que, ao invés do grand finale, a companhia foi atingida por uma tempestade”, disseram os analistas.

“Acreditamos que o principal negócio da empresa, os grandes shows ao ar livre, sofre significativa mudança. Parece que a taxa de ocupação das grandes turnês no quarto trimestre será muito pior do que o esperado”, comentaram.

Mudanças na dinâmica da indústria
A dinâmica da indústria da música já apresenta sinais de mudança no Brasil. O mercado que era caracterizado por uma forte demanda com uma média relativamente alta do preço dos ingressos, incluindo grandes shows de artistas internacionais, tais como Beyoncé, U2 e Bon Jovi, beneficiou bastante a T4F por um bom tempo. Mas parece que está tendência está se alterando, apontam os analistas.

Os grandes shows, de repente, mostram uma baixa taxa de ocupação e altos custos operacionais. Uma das causas para isso pode ser a alta oferta de concertos internacionais, que quase dobrou do ano passado para cá. 

O aumento da oferta reflete num elevado grau de competição, incluindo T4F, XYZ, Live, Geo Eventos, Planmusic, o que acabou resultando numa maior pressão pelo preço dos ingressos e margens de lucros, já que criou a necessidade de mais gastos com produção e promoção, avaliam os analistas. Em resposta a esse cenário mais arisco, eles reduziram a projeção do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), de R$ 130 milhões para R$ 47 milhões, contra R$ 109,4 no ano passado.

Um quadro já sinalizado pela própria empresa, que comunicou hoje: “essas alterações no cenário competitivo, comportamento do consumidor e custos de cachê e produção deverão resultar em um novo patamar de margem Ebitda (Ebitda/Receita Líquida)”. E complementa: “nossos resultados poderão sofrer impacto negativo substancial no exercício de 2012, podendo inclusive o resultado do quarto trimestre afetar negativamente o Ebitda acumulado nos novo primeiros meses do ano”.