Superando turbulências, ações da Gol já subiram 54% em 2 meses

Papéis da companhia aérea estão cotados no seu maior preço desde março de 2012; apesar da alta recente, analistas ainda se mostram cautelosos

Paula Barra

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SÃO PAULO – A Gol (GOLL4) tem desfrutado um período de bonança na bolsa paulista neste início de ano – um retrato bem diferente do que se viu ao longo do ano passado. As ações da companhia aérea deram início à essa reviravolta em dezembro de 2012 e até agora acumulam alta de 54,51% nos últimos 60 dias.

A estratégia de redução de voos adotada no ano passado pode ter contribuído para essa mudança nos rumos dos papéis, que caíram 17,59% entre janeiro e dezembro de 2012. Segundo o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Marcelo Guaranys, a redução da oferta de voos feitas desde o ano passado pelas companhias aéreas – Gol e TAM – pode levar a um aumento no preço das passagens. 

Caso isso ocorra, abre um cenário positivo para a empresa, já que pode torná-la mais rentável. “Se isso acontecer em larga escala, poderemos ver maior rentabilidade no setor, embora provavelmente ainda menor do que em companhias aéreas de outros países, por causa dos custos mais elevados no Brasil, a concorrência internacional e load factors [capacidade efetivamente utilizada de assentos da aeronave] que são ainda muito baixo”, disse a equipe de análise da XP Investimentos em relatório divulgado na última terça-feira (29). 

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A resposta positiva à essa possibilidade de reajuste já veio nas ações da companhia, que subiram 4,31% no último pregão, fechando a R$ 15,00 – maior patamar da ação da companhia desde 15 de março de 2012. 

Resultados fracos ainda “assustam” mercado
Essa política de corte na oferta, que deve chegar a 4,5% no acumulado ano passado, é para tentar combater o “monstro” que anda assolando o balanço da companhia: baixas receitas e pressões de custo. 

De acordo com a companhia, o aumento de de 20% no querosene de aviação no terceiro trimestre do ano passado, o reajuste das tarifas aeroportuárias e o baixo crescimento econômico foram responsáveis por um prejuízo entre os meses de julho a setembro de R$ 1,065 bilhão. 

Um passado que ofusca em parte esse otimismo com essa possibilidade de aumento do preços da passagem. Os analistas da XP Investimentos e da casa de research Empiricus ainda se mostram cautelosos quanto ao case de investimento e mantêm recomendação de não exposição ao papel. 

“Apesar do bom desempenho das ações nos últimos meses, ainda seguimos com visão negativa, porque não gostamos da parte estrutural da empresa, ao passo que fatores externos como custo do combustível e câmbio acabam agindo de forma imprevisível ao controle da empresa e aumentam o risco do investimento”, disse o analista Rodolfo Amstalden, da Empiricus. 

Além disso, o analista aponta que o setor pode sofrer com aumento de competição em breve, e que seria bem prejudicial para a Gol. O governo brasileiro anunciou recentemente que cogita abrir o mercado de aviação e considera cinco empresas aptas a fazer rotas nacionais, sendo elas: Aerolíneas Argentina (Argentina), LAN (Chile), Taca (Peru), Tame (Equador) e TAP (Portugal). 

IPO da Smiles serve como catalisador
Ele destaca, entretanto, outro fator que deve ter auxiliado a valorização das ações da Gol nos últimos dois meses: a expectativa com o IPO (Initial Public Offering) do programa de milhagens Smiles. 

Em dezembro, a Gol anunciou ao mercado a segregação das atividades do Smiles, que passaram a ser conduzidas pela Smiles S.A.. As atividades do programa de milhagens eram conduzidas por sua controlada VRG.

Na ocasião, a Gol reiterou que avalia a realização de uma oferta pública inicial de ações da Smiles S.A., embora ainda não tivesse estimativa ou previsão para a conclusão dessas análises. 

A comunicado deixou as portas ainda mais abertas para projeções do mercado em função do IPO. Analistas estimam que a abertura de capital da companhia pode ser um espelho do que ocorreu com a Multiplus (MPLU3), rede de programas de fidelidade da TAM. As ações da companhia dobraram de valor em 2011, um ano após a estreia da empresa na bolsa paulista.