Startups das bikes, Tembici pega R$ 160 milhões com BNDES para ampliar fábricas no Amazonas e Minas

Empréstimo foi viabilizado por linha de crédito para empresas que tenham projetos de interesse público no campo da sustentabilidade

Wesley Santana

Tembici é uma startup de micromobilidade urbana que oferece bicicletas compartilhadas em quatro países da América Latina. Foto: Divulgação

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Famosa por operar as bicicletas laranjas do Itaú e vermelhas da Claro, nesta quinta-feira (02), a startup Tembici anunciou um contrato de financiamento de R$ 160 milhões com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O dinheiro será usado para financiar projetos de tecnologia e inovação, além da expansão das fábricas próprias de bikes localizadas na zona franca de Manaus e em Extrema (MG).

O empréstimo foi viabilizado pela linha de crédito BNDES Finem, que tem o objetivo de incentivar projetos de mobilidade urbana que tenham interesse público. Metade deste valor tem como fonte o Fundo do Clima, criado em 2009 como uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente para soluções que mitiguem as mudanças climáticas.

Com essa operação, a Tembici se torna a primeira empresa de micromobilidade urbana a receber apoio do banco público. Esse setor inclui os serviços feitos por veículos leves em trajetos médios de 10km/h e velocidade de até 25 km/h. A linha de crédito oferece taxas de juros mais atrativas que os financiamentos comuns.

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O chefe do departamento de mobilidade urbana do BNDES, Rafael Pimentel, destaca que o apoio financeiro vai fomentar a indústria do setor e o desenvolvimento de inovações tecnológicas no país. “Esse é um projeto emblemático para o BNDES pois as bicicletas fazem parte do ecossistema de mobilidade urbana e têm potencial para substituir parcialmente o transporte motorizado nos deslocamentos de curta distância, contribuindo para melhoria da qualidade de vida nas cidades brasileiras.

Já Leandro Fariello, CFO da Tembici, pontua que o montante vai permitir que a marca penetre novas cidades brasileiras, amplie sua presença na América Latina e contribua diretamente para o tema de cidades inteligentes. “Por meio desta linha de financiamento, a Tembici se consolida como a primeira empresa de mobilidade a acessar a Linha Fundo Clima, inovando mais uma vez dentro da nossa agenda ESG. A partir desta operação a companhia ganha ainda mais competitividade nos seus ativos, gerando mais valor à sociedade, meio ambiente e economia das cidades onde está presente”, completa.

O serviço de compartilhamento de bikes é intermediado por um aplicativo de celular que lê o código de uma estação fixa e libera um dos equipamentos disponíveis. Em geral, esses estacionamentos estão disponíveis no centro expandido e em regiões turísticas das cidades, local onde há grande oferta de transporte público. A startup diz que tem planos de levar o serviço para regiões periféricas, mas ainda não tem data para a expansão.

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Segundo dados da mobitech, entre bicicletas comuns e elétricas, são hoje cerca de 21 mil unidades em funcionamento, usadas por 300 mil pessoas mensalmente nos quatro países onde atua. Em 2022, a plataforma registrou o total de 144 mil quilômetros rodados pelos usuários, uma alta de quase 50% em relação ao ano anterior.

Por que empréstimo e não aporte

Nos últimos dois anos, a Tembici recebeu aportes financeiros milionários, que bancaram a operação das bicicletas comuns e elétricas para além do eixo Rio-SP. A startup conseguiu fincar as rodas em várias cidades de outras regiões do mapa brasileiro e em países vizinhos como Argentina, Chile e Colômbia.

Embora receba pelas assinaturas do serviço e também pela propaganda de quatro grandes marcas, é preciso mais caixa para ampliar a presença na América Latina. Essa necessidade se dá no mesmo momento em que o mercado de Venture Capital passa por um ajuste na oferta de recursos, fazendo com que startups tenham seu caixa limitado.

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Diante disso, a companhia encontrou no financiamento uma maneira de não diluir o controle acionário ao passo em que obtém uma linha de crédito com condições atrativas, mesmo em um cenário de altas taxas de juro.

“Quando se faz uma rodada de captação, o dinheiro vai para outros fins além do investimento em bens de capital e tecnologia. As empresas que fazem muitas rodadas acabam diluindo o capital dos acionistas, então o nosso entendimento é que optar pelo financiamento gera mais valor para a companhia. Estruturando dívidas alongadas e com custo menor, dá para pagá-las com o caixa gerado a partir dos projetos que temos”, explica.

Essa é a segunda vez que a Tembici aposta nos financiamentos segmentados. Em 2021, a mobitech recorreu a um empréstimo no valor de R$ 29 milhões, operacionalizado pelo banco Santander, no modelo green bonds. Esse é um título de crédito verde que vincula a taxa de juros aos indicadores sustentáveis do tomador. O dinheiro foi usado para financiar a operação do sistema em Brasília.