Softbank reporta prejuízo recorde, anuncia demissões e CEO pede desculpas

História medieval japonesa foi usada para explicar a mudança de política de investimento do grupo que aportou em mais de 400 startups pelo mundo

Mariana Amaro

Masayoshi Son, CEO do Softbank, durante coletiva de imprensa para apresentação de resultados (Foto: Reprodução / SoftBank)

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O tempo fechou para o SoftBank. O conglomerado japonês que investiu em empresas como Uber, Rappi, Nubank e Inter reportou um prejuízo líquido recorde de 3,16 trilhões de ienes, ou algo como US$ 23 bilhões, no trimestre encerrado no dia 30 de junho.

O resultado negativo veio com um pedido de desculpas do CEO do grupo Masayoshi Son, e pouco mais de um ano depois de o SoftBank chocar seus críticos ao entregar o maior lucro da sua história.

“Quando entregamos um grande lucro, eu fiquei quase ‘delirante’ e, agora, ao olhar para trás, estou envergonhado, mas posso dizer que aprendi lições”, diz Son, durante a apresentação dos resultados da companhia, que foi transmitida pela internet com tradução simultânea para o inglês.

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Ao fazer o mea-culpa, Son apresentou, no seu primeiro slide, o famoso retrato de Tokugawa Ieyasu, um xogun japonês – título de liderança militar usado no Japão feudal – após uma derrota humilhante que aconteceu porque o militar, a despeito de todas os conselhos para ficar no castelo, preferiu ir para a batalha contra um inimigo muito mais poderoso.

Tokugawa Ieyasu, líder militar japonês
Imagem de Tokugawa Ieyasu (Fonte: Reprodução / SoftBank)

A pintura mostra o rosto contorcido de dor e arrependimento e, segundo a tradição, serviria para lembrar a derrota que a arrogância causou. “É isso o que eu estou fazendo agora também”, anunciou Son, ao apresentar os resultados do Grupo.

A postura do executivo diante do resultado considerado “vergonhoso” por ele mesmo é bem diferente daquela apresentada em maio de 2020, quando Son ganhou uma manchete no Financial Times ao se comparar a Jesus Cristo por ser, ele também, um incompreendido.

Desde a fundação do SoftBank, Son teve duas perdas consecutivas em trimestres. “E preciso lembrar e relembrar disso”, assumiu, fazendo referência, também, ao resultado do primeiro trimestre de 2022, que trouxe um prejuízo de US$ 16 bilhões.

Mudanças à vista

Desde então, o grupo anunciou três mudanças na sua política. Primeiro, mudou sua postura de investimentos e ficou mais defensivo e seletivo em seus investimentos. “Há quem diga que agora é o tempo de comprar, em vez de vender. Posso concordar, mas meu rosto está como o do retrato de Tokugawa Ieyasu. Temos uma visão e ela permanece a mesma, mas se perseguirmos essa visão a qualquer custo, podemos acabar perdendo muito. E isso é algo que queremos evitar”, disse.

Além da mudança na política de investimentos, a empresa também anunciou uma redução nos seus custos operacionais – também conhecida como demissões. “Nossa fonte está menor, então vamos precisar reduzir os times drasticamente”, afirmou Son que não mencionou números exatos, disse que o processo ainda está em discussão interna mas que não há “área sagrada”: funcionários de todos os níveis, de todos os setores, em quaisquer países onde a companhia mantém operações serão afetados.

A terceira medida tomada foi frear novos investimentos e voltar suas atenções para apoiar as 473 companhias que já fazem parte do portfólio do SoftBank. “Precisamos aumentar o valor do nosso portfólio atual”, disse.

Como isso será feito? Para essa pergunta, ainda não há resposta. O que Son se limitou a dizer foi que o período de “inverno” vai continuar, não se sabe se por três meses ou três anos. Com o aumento e persistência da inflação pelo mundo, bancos centrais terão que aumentar a taxa de juros. “Além de tudo, a pandemia ainda não acabou e ainda temos que nos preocupar com a tensão entre Taiwan e China”, enumerou. Diante desse cenário e nessas circunstâncias de mercado, Son destacou que, pela perspectiva de investidores, é preciso dizer que estamos em um inverno.

Adicionou ainda que empresas listadas e não-listadas viverão a crise de maneiras diferentes. “As companhias listadas tem seu valor revisado todos os dias. Aquelas não-listadas ainda estão com valuation alto e seus fundadores não estão dispostos a aceitar uma reprecificação”, afirmou. “Esse inverno, para empresas não-listadas deve ser ainda maior”, declarou.

Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.