Sem novo reajuste em 2013, risco de corte de rating da Petrobras é iminente

Analistas temem por um potencial aumento da alavancagem da companhia, caso não ocorra mais aumento dos preços dos combustíveis esse ano, e que poderia colocar em xeque o plano de investimentos para os próximos três anos

Paula Barra

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SÃO PAULO – Os reajustes de 6,6% e 5,4% para os preços da gasolina e do diesel, respectivamente, aprovados na véspera pela Petrobras (PETR3; PETR4), e que entraram em vigor hoje, aliviam a situação da empresa, mas estão longes de afastar as preocupações do mercado quanto ao futuro da petrolífera.

Caso seja esse o único aumento de preços em 2013 – conforme acreditam algumas fontes do mercado -, analistas temem por um potencial aumento na alavancagem da empresa, e que colocaria em xeque a qualidade dos títulos da estatal e sua capacidade de captar recursos e, consequentemente, o rating de crédito da companhia.

O nível de alavancagem de 2,5 vezes, medido pela relação entre dívida líquida e Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês), é usado como referência por agências de classificação de risco. A partir desse patamar, a petroleira passa a conviver com o risco de ter sua nota rebaixada pelas agências internacionais. Basicamente, um rating menor para a companhia deixaria empréstimos mais caros, o que poderia forçar a venda de ações e limitaria a capacidade de investimentos.

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Analistas sugerem que a luz amarela pode ser acessa caso nenhum novo anúncio seja feito durante 2013, o que poderia levar a alavancagem da empresa para cima desse “patamar de segurança”. 

As precupações sobre o dívida da empresa foram levantadas por: Deutsche Bank, Credit Suisse (que estima que a alavancagem da empresa chegue a 3 vezes caso não haja outro reajuste), Geração Futuro e Omar Camargo. 

Corte de rating: risco no médio e longo prazos
Segundo o analista Lucas Brendler, que ajuda a gerir cerca de R$ 6 bilhões no Banco Geração Futuro, o risco de corte de rating é provável nesse cenário, embora seja uma preocupação de médio a longo prazo. 

Esse fator do endividamento é importante porque retoma a capacidade de investimento da empresa. O plano de negócios da empresa [que prevê investimentos de R$ 236,5 bilhões entre 2012 e 2016] foi pautado em três pilares: geração própria de caixa, desinvestimentos e captação de dívida. Como a companhia teve problemas de cunho operacional [alta defasagem dos preços dos combustíveis no mercado doméstico e internacional e queda na geração de caixa], aumentaram as necessidades do ativamento dos dois outros pilares para dar conta do plano de investimento.

E, nesse ponto, aparece o problema, avalia Brendler. Seria fundamental que o desinvestimento ocorresse dentro do previsto, que são os R$ 14,6 bilhões, uma vez que a capacidade de captação de dívida pode ser prejudicada no médio prazo. Nesse ponto, aumentam os temores sobre a continuidade do plano de investimentos da empresa.

“Como a dívida está próxima ao teto surgem as preocupações relacionadas à companhia ultrapassar o limite de teto da dívida, o que acarretaria em uma possível reavaliação de rating”, disse Brendler.

A Petrobras ganhou em 2007 grau de investimento, classificação que lhe permite melhores condições para se financiar no mercado internacional. Em 2009, mudou o patamar da dívida, com alta de US$ 25 bilhões, e desde então há piora. 

Pouco efeito nesse reajuste
A companhia vive com uma delicada situação: vultoso plano de investimento e problemas na geração de caixa. Em função disso, a equipe de análise de XP Investimentos estima: “este último reajuste não deve ser suficiente para reverter as perdas no segmento de abastecimento, que é praticamente metade do resultado consolidado da Petrobras, e deve prejudicar seu resultado.

Segundo o Credit Suisse, a companhia pode sofrer com uma queda potencial de 9% a 13% dos ganhos neste ano.