Se o “futuro” é o mesmo, por que dois bancos têm recomendações diferentes para o Itaú?

Mesmo vendo melhora para o setor lá na frente com reformas, Bradesco BBI rebaixou recomendação para o Itaú, enquanto Votorantim elevou recomendação

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Um fato curioso aconteceu com relação às recomendação para o Itaú Unibanco (ITUB4). No mesmo dia em que a Votorantim Corretora elevou a recomendação da ação do banco para outperform (desempenho acima do esperado pelo mercado) e o preço-alvo de R$ 31,00 para R$ 33,00, o Bradesco BBI rebaixou a recomendação dos papéis da instituição para neutro, com preço-alvo de R$ 35,00. 

O curioso é que, na avaliação dos dois bancos, o cenário é mais positivo em um prazo mais longo com a mudança política. Contudo, como isso se traduzirá no curto prazo é visto de maneira diferente. 

Segundo o Votorantim, o banco Itaú é o mais preparado para se beneficiar da recuperação econômica do Brasil destacando que, à medida que o cenário melhore, haverá menores despesas de provisionamento e melhor rentabilidade nos próximos trimestres. “Dado que as condições macroeconômicas locais podem melhorar em breve, esperamos que os investidores antecipem as implicações positivas de uma atmosfera mais favorável para o banco. Além disso, de modo diferente da maioria de seus pares, não vemos risco do Itaú rever para baixo as suas projeções [já bastante conservadoras], o que confirma a nossa opinião de que os números que o banco indicou no início do ano foram realistas”, destacam os analistas. Vale ressaltar que, as ações do Itaú tiveram queda expressiva após a divulgação dos números do quarto trimestre de 2015 no final de fevereiro, por conta da divulgação de um guidance bastante conservador. 

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O otimismo do Votorantim reflete o processo de desalavancagem nos últimos anos, a taxa de cobertura e a redução das despesas de provisionamento pela frente. Os analistas consideram que o Itaú realizou a mais profunda desalavancagem da indústria bancária brasileira ao longo dos últimos anos e, provavelmente, terá as menores despesas de provisionamento.

“Embora seja verdade que o Itaú tenha divulgado que as despesas de provisionamento foram mais elevadas do que o esperado, sublinhamos que isso se deveu a um conservadorismo do banco, e agora Itaú goza de uma posição mais confortável. Entendemos que esse nível provavelmente vai diminuir nos trimestres à frente, impedindo o banco de aumentar as suas despesas de provisionamento, e, assim, contribuindo para uma maior rentabilidade”. Além disso, o Votorantim reforça que não há necessidade de rever os números para baixo. “Depois de analisar os números publicados pelo Itaú no primeiro trimestre, confirmou-se que o guidance divulgado no início de o ano não era conservador, mas era na verdade realistas. Como resultado, contrariamente à maioria grandes bancos brasileiros, acreditamos que o Itaú não terá que rever as suas projecções, poupando-se dos efeitos adversos que surgem normalmente com este tipo de movimento”. Por outro lado, a expansão da carteira de crédito deve registrar desaceleração ainda refletindo as fracas condições macroeconômicas.

Já o Bradesco BBI tocou em um outro ponto: para os analistas da instituição, as preocupações com a qualidade de crédito cresceram ainda mais na esteira dos resultados do primeiro trimestre, mostrando que um ponto de inflexão ainda está muito longe, apesar do cenário político aumentando o otimismo. “A temporada de resultados indicou que o curto prazo deve ser mais desafiador do que o anteriormente esperado. As provisões para devedores duvidosos aumentaram na comparação anual, com a qualidade de crédito registrando deterioração”, reforçado pelas recuperações judiciais no setor de petróleo e gás. 

“A questão que permanece é se qualquer outro caso ‘atípico’ como este irá surgir. Acreditamos que o crescente desemprego, juntamente com recuperações judiciais devem continuar a manter os resultados dos bancos sob pressão”, avaliam os analistas do banco. Porém, em consonância com o Votorantim, o Bradesco BBI reforça que as mudanças políticas podem ser um fator positivo, com reformas estruturais em potencial levando a melhor perspectiva daqui para frente,refletindo-se no menor custo de capital.

Assim, dentro da área de cobertura de instituições financeiras, o Bradesco BBI reforça a preferência por seguradoras, caso de BB Seguridade (BBSE3), Sulamérica (SULA11) e Par Corretora (PARC3).  

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.