Sabesp anuncia regras mais rígidas: paulistas lamentam, investidores comemoram

Maior dificuldade em obter descontos com economia de água e manutenção das sobretaxas para quem gasta a mais fizeram as ações da empresa dispararem na Bovespa

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – As duas novidades anunciadas pela Sabesp (SBSP3) nesta quarta-feira (23) certamente não foram bem recebidas pelos paulistas. De uma só vez, a empresa de saneamento do Estado de São Paulo anunciou novas regras que tornam mais difícil aos consumidores que economizam água a obtenção de descontos em suas contas, e também manteve inalterada as regras de aplicação de sobretaxa aqueles que aumentam o consumo.

Contudo, os paulistas que investem em ações na Bovespa não têm o que reclamar da novidade. Isso porque com a notícia as ações da Sabesp dispararam nesta sessão, chegando a marcar ganhos de 8,82% na máxima do dia, quando atingiram R$ 19,62, fechando com alta de 7,04%, a R$ 19,30, sendo a segunda maior valorização do dia dentre as 63 ações que compõem a carteira teórica do Ibovespa – o Ibovespa, aliás, subiu 1,25%.

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A decisão da Sabesp foi tomada diante de um quadro de abastecimento de água na região metropolitana e em cidades do interior de São Paulo que caminha para a normalidade, segundo afirmaram a jornalistas o secretário de saneamento e recursos hídricos do Estado, Benedito Braga, e o presidente da Sabesp, Jerson Kelman.

A empresa espera obter aprovação da agência reguladora estadual Arsesp para a prorrogação até o final de 2016 dos programas de desconto e de sobretaxa ainda nesta semana, disse Kelman, sem informar a expectativa dos clientes da empresa que vão acabar perdendo o direito ao bônus.

Ele comentou, porém, que acredita que a empresa não precisará manter o programa até o final do próximo ano diante do aumento do nível dos reservatórios nos últimos meses e de sinais de retorno à normalidade do regime de chuvas no Estado.

Como ficam as novas regras?
Pelas novas regras propostas, a partir de janeiro o limite de consumo médio mensal para o consumidor que obtém atualmente desconto de 30% na conta será multiplicado por um fator de 0,78. Isso significa que o limite do consumo que dá direito ao desconto será cortado em 22% e o consumidor terá que economizar mais para conseguir manter o desconto. O mesmo ocorre para as outras faixas de desconto, de 20% e 10%.

Em uma simulação exibida à imprensa, 5 de 15 consumidores atualmente conseguem o desconto de 30% na conta, reduzindo de 20% a 40% o consumo em relação aos valores de referência. Com as novas regras, apenas um consumidor dos 15 teria direito aos 30% de desconto na conta.

Apesar de chamar em vários momentos os consumidores que não economizam ou gastam muita água de “gastões”, Braga afirmou que o Conselho de Administração da Sabesp não chegou a considerar a possibilidade de alterar também as regras de sobretaxa que incidem sobre eles, que atualmente variam de 40% a 100% do valor da conta.

“Não haverá mudança nenhuma nas regras do ‘ônus'”, disse Braga, em referência à sobretaxa.

Prejuízos recentes
A companhia encerrou o terceiro trimestre com prejuízo líquido de R$ 580 milhões ante resultado positivo de R$ 91,5 milhões um ano antes. Segundo o balanço, a concessão do bônus no período gerou queda de 5,5% na receita operacional bruta, um impacto de cerca de R$ 249 milhões. Enquanto isso, a sobretaxa gerou R$ 144,8 milhões em receita no período.

Rumo à normalidade
Kelman afirmou que o Sistema Cantareira, principal conjunto de reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo está a 2% de atingir o chamado “volume útil”, quando não são necessárias bombas para retirada da água do fundo da reserva.

A expectativa da Sabesp é que o nível zero seja alcançado até o final deste ano e a partir daí o sistema passaria a acumular água sem a necessidade de utilização do “volume morto”.

Em termos de volume, Kelman observou que o Cantareira tem atualmente 266 milhões de metros cúbicos de água de um total de cerca de 1,3 bilhão de metros cúbicos, incluindo o volume morto.

O presidente da Sabesp afirmou que o nível dos sistemas de abastecimento de água da região metropolitana e de cidades próximas está em 36% do máximo.

“Tudo indica que estamos voltando para a normalidade hidrológica. Frentes que estão vindo do Sul estão chegando aqui (…) Estamos prorrogando o programa para mostrar à população que este esforço de economia (no consumo de água) não pode ser perdido”, disse Braga. Kelman complementou afirmando que não fosse a adesão da população ao programa de economia “a situação de abastecimento na região metropolitana teria sido aflitiva”.

(com Reuters)

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers