Renúncia de Mello, poços “secos” e ação na mínima histórica: veja o drama da HRT

Resultados decepcionantes na Namíbia confirmou um dos catalisadores negativos para os ativos da companhia, que caíram quase 40% em menos de um mês em meio ao noticiário movimentado

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O mês de maio está sendo bastante movimentado para as ações da HRT Participações em Petróleo (HRTP3). Desde a euforia com os ativos da companhia após a aquisição de participação no Campo de Polvo, por US$ 135 milhões no último dia 6, até a sessão desta terça-feira (21), quando o ativo chegou a cair 23,17% e fechou com queda de 13,11% (R$ 2,85), após os resultados ruins da Namíbia, muita coisa aconteceu no cenário corporativo da companhia. 

Com isso, em menos de um mês, as ações da HRT passaram de R$ 4,67 no último dia 25 de abril para R$ 2,85 na sessão desta terça-feira, 21 de maio, uma queda de 39%, atingindo assim as cotações mínimas para o papel desde que abriu capital, em 2010. Nos últimos 365 pregões, a queda acumulada é de cerca de 60%. Confira abaixo quais foram os principais vetores para o forte movimento volátil da companhia no mês. 

1. Renúncia de Marcio Mello. Na noite do último dia 10, uma surpresa para o mercado: fundador e diretor-presidente da petrolífera, Marcio Rocha Mello, renunciou ao cargo, mas seguindo como membro do Conselho de Administração da companhia. 

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“Deixo o comando da companhia que construí com grande orgulho nos últimos três anos, junto a um time comprometido com o objetivo de criar uma das maiores empresas independentes de óleo e gás do Brasil”, afirmou Mello em documento divulgado ao mercado.

Muito se especulava que mudanças na diretoria da HRT deveriam ser anunciadas nos próximos dias, conforme já havia adiantado o colunista da revista Veja, Lauro Jardim, em seu blog “radar on line”. Contudo, o próprio Jardim havia dito que não se cogitava troca no comando do grupo, com as alterações se atendo nas áreas financeira e de recursos humanos. Segundo o colunista, a permanência de Mello como CEO estava condicionada ao sucesso da campanha exploratório na Namíbia. 

Na véspera, os ativos da companhia chegaram a subir 10,84%, a R$ 4,60, registrando um volume histórico de R$ 122,6 milhões, até então o 9º maior volume diário em toda sua história na Bovespa, iniciada em outubro de 2010. De acordo com alguns gestores, a alta poderia ser impulsionada pelo fato de que Mello, apesar do seu currículo invejável, não tinha uma comunicação muito boa com o mercado. “Embora ele sendo um gênio no âmbito de exploração de petróleo, o mercado tinha dificuldades em entendê-lo”, explica.

2. Forte queda já sinalizava fracasso na perfuração. Contudo, após ter forte alta na sessão que antecedeu a divulgação da renúncia da companhia, os papéis HRTP3 passaram a registrar forte queda no dia 13, fechando em baixa de 17,39%, logo após a companhia anunciar a escolha de seu novo CEO (Chief Executive Officer), Milton Romeu Franke

Entretanto, conforme apontava parte do mercado, a saída de Mello poderia indicar um fracasso em um dos eventos-chave para a companhia, que teria catalisado a forte baixa dos papéis. 

Assim, mesmo com o novo CEO sendo considerado um sujeito mais ponderado e que entrasse em menos conflito com o mercado, conforme apontou o analista da Empiricus Research, Roberto Altenhofen, o movimento volátil dos papéis da companhia poderia indicar um resultado ruim para a companhia.

3. O evento em si: poços sem potencial comercial na Namíbia. Cerca de uma semana depois, os temores do mercado de um possível resultado ruim na Namíbia se converteram em realidade. A companhia divulgou, na noite da última segunda-feira (20), ter encontrado óleo em seu programa de perfuração offshore nas explorações do país, mas não em volume comercial.

Segundo a HRT, com as informações obtidas com os resultados de estudos preliminares dos dados do poço foram identificadas “duas rochas geradoras bem desenvolvidas, ricas em carbono orgânico e ambas na janela geradora de óleo. O poço também encontrou diversos reservatórios arenosos de pequena espessura saturados de óleo”, diz o documento. Além disso, não foram identificadas zonas portadoras de água na seção perfurada. O poço está sendo “tamponado e abandonado”.

Desta forma, apenas na sessão do dia 21, os ativos chegaram a ter forte queda de mais de 20%. As descobertas decepcionaram e fizeram diversas casas de análise revisarem os seus números para a companhia. O Itaú BBA reduziu o preço-alvo dos ativos HRTP3 de R$ 7,50 para R$ 3,80, além de reduzir a recomendação para underperform (desempenho abaixo da média do mercado). 

Para os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes,  a companhia deve usar os resultados para tentar obter sucesso no terceiro poço a ser furado: Murombe, sua única esperança antes de desaparecer, já que o poço é chave para definir a continuidade da companhia.

A geração de caixa da companhia é, assim como para o Itaú BBA, uma preocupação para o Bradesco BBI, que cortou o preço-alvo dos papéis em 50%, de R$ 6,00 para R$ 3,00, avaliando que a companhia segue “queimando caixa”, sem que haja nenhum retorno até agora. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.