Quais são os desafios do novo presidente da Embraer

Francisco Gomes Neto deve assumir a empresa no fim de abril e precisa reduzir custos e expandir os negócios

Letícia Toledo

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São Paulo – Um novo presidente para uma nova empresa. A Embraer anunciou nesta terça-feira o nome do engenheiro elétrico Francisco Gomes Neto, atual presidente da fabricante de ônibus Marcopolo, como o indicado para a presidência da Embraer. A indicação deve ser confirmada na Assembleia Geral Ordinária marcada para o dia 22 de abril.

O desafio de Gomes Neto será grande:  mostrar que a Embraer tem capacidade de crescer com sua nova estrutura, após o acordo fechado com a Boeing. No mercado, a Embraer enfrenta descrença. As ações acumulam uma perda de 11,6% no ano.

Para analistas e investidores, o trabalho de Gomes deve se concentrar em duas frentes: melhorar a eficiência das operações e organizar a entrada da Embraer em novos mercados.

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“Acreditamos que sua indicação faz muito sentido para a Embraer, que também deve se concentrar na abertura de novos mercados — em uma escala muito maior do que a Marcopolo–, reduzindo custos e maximizando a utilização de ativos”, afirmam os analistas do Itaú BBA em nota enviada a clientes.

Quem conhece Gomes Neto afirma que ele é um executivo “chão de fábrica”. “Ele está sempre preocupado em melhorar a eficiência de produção. Na Marcopolo ele focou em extrair o máximo da fabricação, em melhorar a produtividade, e é isso que deve fazer na Embraer”, afirma um executivo próximo de Gomes Neto.  

Até poucos anos desconhecido da maioria dos investidores brasileiros, Gomes Neto fez carreira na indústria automotiva no exterior. Ele foi presidente da fabricante alemã de filtros veiculares Mann+Hummel para as Américas e presidente da empresa de controle de sistemas de veículos Knorr Bremse.

Gomes Neto assumiu a Marcopolo em  junho de 2016. Em plena crise econômica, seu trabalho foi focado em adequar a produção à demanda interna e conduzir uma importante redução de custos — experiência que poderia ajudar a Embraer no momento atual da companhia.

Em 2018, a Embraer teve seu primeiro prejuízo em mais de 10 anos, no valor de R$ 669 milhões. O ano de 2019 não deve ter muitas melhoras nas linhas mais importantes do balanço. A Embraer já anunciou que sua margem operacional (Ebit) deve ficar próximo do zero enquanto a empresa foca em concluir o acordo com a Boeing, que deve ser aprovado pelos órgãos reguladores até o fim do ano.

Pelo acordo firmado serão criadas duas novas companhias, uma para a área comercial e outra em defesa. Na joint venture da área comercial, a Boeing será dona de 80% e a Embraer de 20%. Em defesa, a Embraer ficará com 51% das ações e a Boeing com os 49% restantes.

Nos negócios atuais, a área de jatos executivos da Embraer está com a demanda mais fraca do que a esperada. O temor de uma desaceleração da economia global faz com que muitos investidores duvidem do potencial desse mercado.

Na área militar, o objetivo é fazer com que o cargueiro KC-390 entre em novos mercados além do Brasil. Em teoria, o acordo com a Boeing facilita essa entrada em novos mercados, na prática, investidores ainda têm dúvidas do potencial da Boeing para isso.

“O mercado está precificando a companhia com base em seus resultados do curto prazo e no curto prazo as coisas não andam tão bem. No longo prazo nós estamos otimistas. Acreditamos que a Embraer está bem posicionada em seu mercado.”, afirma Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da casa de análise Eleven Financial.

Na Bolsa, as ações da companhia tinham dia perdas nesta terça, de 1,7%, seguindo o mau humor do mercado —e mostrando que vai ser necessário mais do que um anúncio de um novo nome para convencer investidores sobre o potencial da companhia.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.