Por que o maior hedge fund do mundo fora dos EUA comprou 11% da Log In?

Para especialistas do setor, CSHG deve tentar se aproveitar do enorme potencial que a companhia reserva em um longo horizonte de investimento

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O final de 2013 foi agitado para o setor de logística. Enquanto a ALL (ALLL3) sofria com críticas do governo e acidentes, uma empresa pouco comentada via suas ações registrarem fortes oscilações diárias: a Log-In (LOGN3). No dia 19 de dezembro, os papéis da empresa tiveram queda de 3,29%, um dia antes da Vale (VALE3; VALE5) anunciar que iria realizar um leilão para vender toda sua fatia de 31,3% na companhia – a maior participação individual no capital dela. No dia 20, com o anúncio, os ativos LOGN3 despencaram 9,09%, atingindo R$ 8,00 (preço que a Vale vendeu suas ações no leilão da Bovespa), seu menor patamar desde janeiro de 2013.

A saída do maior acionista do capital de uma empresa pode parecer um sinal negativo para os outros investidores, mas não foi essa a interpretação do Credit Suisse Hedging Griffo, gestora tocada por Luis Stuhlberger e que possui dentre seus instrumentos de investimento o Fundo Verde, o maior hedge fund do mundo fora dos Estados Unidos. Os fundos geridos por ele, que não tinham participação relevante no capital da Log-In, passaram a deter 11,15% após a conclusão do leilão, segundo dados publicados pela empresa no dia 10 de janeiro, com base em 31 de dezembro.

O InfoMoney bem que procurou o CSHG para tentar entender as motivações da gestora em aumentar sua participação na companhia, mas a assessoria deles informou que o gestor não comenta suas aquisições. Com isso, buscamos no mercado especialistas que pudessem nos ajudar a entender o porquê destas compras.

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Antes das explicações, uma consideração importante: apesar de se tornar um importante acionista dentro da Log-In, é válido ressaltar que a participação da empresa nos fundos do CSHG é significativamente pequena em relação ao patrimônio deles. Para efeito de comparação, se as 11.735.294 de ações da Log-In foram adquiridas ao preço do leilão feito pela Vale (R$ 8,11), o CSHG teria desembolsado cerca de R$ 95,2 milhões, o que representa apenas 2,7% do patrimônio total do Fundo Verde, que fechou 2013 em R$ 3,514 bilhões, segundo dados divulgados no site da gestora.

Cabotagem é o futuro
Segundo Fernando Araújo, gestor da FCL Capital, empresa criada em 2007 e focada em investimentos de longo prazo, o investimento na empresa se justifica pela sua exposição ao serviço de cabotagem – transporte entre portos de um mesmo país feito por navios – e que esse pode ser o futuro da logística no País, que atualmente vive sérias deficiências.

Concordando com esse ponto de vista, a equipe de análise da XP Investimentos lembra que realmente esse é o caminho certo a se investir na logística do Brasil, já que as rodovias e ferrovias estão saturadas. Contudo, ele explica que a deficiência dos portos pode ser um fator negativo para a companhia. “O porto de Santos adicionou capacidade recentemente com a inauguração do Brasil Terminal Portuário e a Embraport e com isto solucionou muitos de seus problemas, e já teve efeito positivo para a empresa que migrou parte de sua movimentação que antes estava toda nos problemáticos terminais da margem direita para a Embraport. Porém, outros portos do País como Manaus ainda são bastante deficientes, e uma demora em melhorias também significa uma demora para a companhia ver melhores resultados”, explicam os analistas. 

Menor concorrência e maior visibilidade
Araújo, da FCL, também aponta para o fato da Maestra, uma das concorrentes da Log-In no serviço de cabotagem no Brasil, ter encerrado seus serviços no ano passado como bastante positivo para a Log-In. “Com a saída da empresa, melhora a concorrência para a Log-In, já que a Maestra pressionava demais os preços. O caminho para a Log-In fica mais livre”, diz.

A maior visibilidade e os maiores serviços que a companhia terá devido a eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 também podem favorecer a companhia na Bovespa. “O crescimento da empresa só vai aumentar nos próximos anos. 2013 foi um ano positivo e 2014 deve ser ainda melhor, com maiores investimentos por causa dos eventos esportivos, além da redução das tarifas portuárias, que também ajudam a reduzir despesas”, afirma o gestor da FCL Capital.

Além disso, Araújo acredita que a entrada do CSHG na companhia deve ser um fator bastante positivo para a Log-In, visto que ele sempre busca ser muito ativo em sua participação para extrair o máximo da companhia, além do “status” que a gestora tem dentro do mercado, o que traz uma certa credibilidade para a ação. “Essa entrada tem muito o que agregar para a companhia”, afirma.

Andando sobre as próprias pernas
Se a saída da Vale poderia indicar um pessimismo para a empresa, o gestor FCL explica que não é bem assim. Para ele, a saída da mineradora era um passo natural, tanto para a Vale quanto para a Log-In. A companhia de logística não tinha mais força para acompanhar toda a demanda que da mineradora; por outro lado, a Vale vem colocando em prática uma política agressiva de desinvestimentos, que resultou na venda de cerca de R$ 6 bilhões em ativos ao longo do ano.

O gestor lembra que a criação da Log-In se deu como uma parte da Vale: “a mineradora precisava de uma boa empresa de logística, fazia todo sentido ela ter praticamente uma empresa só dela para isso”, explica. A companhia realizou o seu IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) em 2007, mesmo ano em que aprovou um plano de investimentos de R$ 1,4 bilhão até 2012.

Mas não é interessante apenas para a Vale sair da companhia, para Araújo, este é um momento positivo para a Log-In, que pode mostrar que é capaz de crescer sem a ajuda da mineradora. “Não tinha mais porque a Vale manter seu investimento ali, era desinteressante e já não agregava muito para ela. Enquanto isso, a Log-In já mostrava poder para caminhar com as próprias pernas”, diz o gestor.

Recuperação na Bovespa
Quando o leilão de ações da Vale foi anunciado, as ações da Log-In perderam quase R$ 1,00 de valor em apenas dois dias, atingindo os R$ 8,00 – onze centavos abaixo do valor oferecido pela mineradora para vender seus papéis. Porém, uma desvalorização dessas é normal devido a situação em que ocorreu.

A forte queda ocorreu pelo fato da grande oferta feita pela Vale. Com um grande número de ações sendo vendidas, a demanda de compra não foi suficiente, levando os papéis para os dois dias de queda. Vale destacar que um dos pontos que era negativo para os papéis no passado, a baixa liquidez, tem melhorado bastante desde a saída da Vale, indicando um bom cenário pra a empresa agora que está “sozinha”.

Antes do dia 26 de dezembro – dia do leilão de venda de ações -, o volume médio dos papéis era de R$ 1,6 milhão. Após esse período, a média movimentada pelas ações já atinge R$ 2,8 milhões, quase o dobro. Apesar das apostas positivas para a empresa, o gestor explica que a companhia pode sofrer com as pressões e o mau humor do mercado em alguns períodos, mas que com todos esses investimentos, a tendência segue de alta para a Log-In.

“Mesmo com as projeções positivas, uma alta mais expressiva das ações só deve ser vista no longo prazo”, conclui.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.