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SÃO PAULO – O final de 2013 foi agitado para o setor de logística. Enquanto a ALL (ALLL3) sofria com críticas do governo e acidentes, uma empresa pouco comentada via suas ações registrarem fortes oscilações diárias: a Log-In (LOGN3). No dia 19 de dezembro, os papéis da empresa tiveram queda de 3,29%, um dia antes da Vale (VALE3; VALE5) anunciar que iria realizar um leilão para vender toda sua fatia de 31,3% na companhia – a maior participação individual no capital dela. No dia 20, com o anúncio, os ativos LOGN3 despencaram 9,09%, atingindo R$ 8,00 (preço que a Vale vendeu suas ações no leilão da Bovespa), seu menor patamar desde janeiro de 2013.
A saída do maior acionista do capital de uma empresa pode parecer um sinal negativo para os outros investidores, mas não foi essa a interpretação do Credit Suisse Hedging Griffo, gestora tocada por Luis Stuhlberger e que possui dentre seus instrumentos de investimento o Fundo Verde, o maior hedge fund do mundo fora dos Estados Unidos. Os fundos geridos por ele, que não tinham participação relevante no capital da Log-In, passaram a deter 11,15% após a conclusão do leilão, segundo dados publicados pela empresa no dia 10 de janeiro, com base em 31 de dezembro.
O InfoMoney bem que procurou o CSHG para tentar entender as motivações da gestora em aumentar sua participação na companhia, mas a assessoria deles informou que o gestor não comenta suas aquisições. Com isso, buscamos no mercado especialistas que pudessem nos ajudar a entender o porquê destas compras.
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Antes das explicações, uma consideração importante: apesar de se tornar um importante acionista dentro da Log-In, é válido ressaltar que a participação da empresa nos fundos do CSHG é significativamente pequena em relação ao patrimônio deles. Para efeito de comparação, se as 11.735.294 de ações da Log-In foram adquiridas ao preço do leilão feito pela Vale (R$ 8,11), o CSHG teria desembolsado cerca de R$ 95,2 milhões, o que representa apenas 2,7% do patrimônio total do Fundo Verde, que fechou 2013 em R$ 3,514 bilhões, segundo dados divulgados no site da gestora.
Cabotagem é o futuro
Segundo Fernando Araújo, gestor da FCL Capital, empresa criada em 2007 e focada em investimentos de longo prazo, o investimento na empresa se justifica pela sua exposição ao serviço de cabotagem – transporte entre portos de um mesmo país feito por navios – e que esse pode ser o futuro da logística no País, que atualmente vive sérias deficiências.
Concordando com esse ponto de vista, a equipe de análise da XP Investimentos lembra que realmente esse é o caminho certo a se investir na logística do Brasil, já que as rodovias e ferrovias estão saturadas. Contudo, ele explica que a deficiência dos portos pode ser um fator negativo para a companhia. “O porto de Santos adicionou capacidade recentemente com a inauguração do Brasil Terminal Portuário e a Embraport e com isto solucionou muitos de seus problemas, e já teve efeito positivo para a empresa que migrou parte de sua movimentação que antes estava toda nos problemáticos terminais da margem direita para a Embraport. Porém, outros portos do País como Manaus ainda são bastante deficientes, e uma demora em melhorias também significa uma demora para a companhia ver melhores resultados”, explicam os analistas.
Menor concorrência e maior visibilidade
Araújo, da FCL, também aponta para o fato da Maestra, uma das concorrentes da Log-In no serviço de cabotagem no Brasil, ter encerrado seus serviços no ano passado como bastante positivo para a Log-In. “Com a saída da empresa, melhora a concorrência para a Log-In, já que a Maestra pressionava demais os preços. O caminho para a Log-In fica mais livre”, diz.
A maior visibilidade e os maiores serviços que a companhia terá devido a eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 também podem favorecer a companhia na Bovespa. “O crescimento da empresa só vai aumentar nos próximos anos. 2013 foi um ano positivo e 2014 deve ser ainda melhor, com maiores investimentos por causa dos eventos esportivos, além da redução das tarifas portuárias, que também ajudam a reduzir despesas”, afirma o gestor da FCL Capital.
Além disso, Araújo acredita que a entrada do CSHG na companhia deve ser um fator bastante positivo para a Log-In, visto que ele sempre busca ser muito ativo em sua participação para extrair o máximo da companhia, além do “status” que a gestora tem dentro do mercado, o que traz uma certa credibilidade para a ação. “Essa entrada tem muito o que agregar para a companhia”, afirma.
Andando sobre as próprias pernas
Se a saída da Vale poderia indicar um pessimismo para a empresa, o gestor FCL explica que não é bem assim. Para ele, a saída da mineradora era um passo natural, tanto para a Vale quanto para a Log-In. A companhia de logística não tinha mais força para acompanhar toda a demanda que da mineradora; por outro lado, a Vale vem colocando em prática uma política agressiva de desinvestimentos, que resultou na venda de cerca de R$ 6 bilhões em ativos ao longo do ano.
O gestor lembra que a criação da Log-In se deu como uma parte da Vale: “a mineradora precisava de uma boa empresa de logística, fazia todo sentido ela ter praticamente uma empresa só dela para isso”, explica. A companhia realizou o seu IPO (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) em 2007, mesmo ano em que aprovou um plano de investimentos de R$ 1,4 bilhão até 2012.
Mas não é interessante apenas para a Vale sair da companhia, para Araújo, este é um momento positivo para a Log-In, que pode mostrar que é capaz de crescer sem a ajuda da mineradora. “Não tinha mais porque a Vale manter seu investimento ali, era desinteressante e já não agregava muito para ela. Enquanto isso, a Log-In já mostrava poder para caminhar com as próprias pernas”, diz o gestor.
Recuperação na Bovespa
Quando o leilão de ações da Vale foi anunciado, as ações da Log-In perderam quase R$ 1,00 de valor em apenas dois dias, atingindo os R$ 8,00 – onze centavos abaixo do valor oferecido pela mineradora para vender seus papéis. Porém, uma desvalorização dessas é normal devido a situação em que ocorreu.
A forte queda ocorreu pelo fato da grande oferta feita pela Vale. Com um grande número de ações sendo vendidas, a demanda de compra não foi suficiente, levando os papéis para os dois dias de queda. Vale destacar que um dos pontos que era negativo para os papéis no passado, a baixa liquidez, tem melhorado bastante desde a saída da Vale, indicando um bom cenário pra a empresa agora que está “sozinha”.
Antes do dia 26 de dezembro – dia do leilão de venda de ações -, o volume médio dos papéis era de R$ 1,6 milhão. Após esse período, a média movimentada pelas ações já atinge R$ 2,8 milhões, quase o dobro. Apesar das apostas positivas para a empresa, o gestor explica que a companhia pode sofrer com as pressões e o mau humor do mercado em alguns períodos, mas que com todos esses investimentos, a tendência segue de alta para a Log-In.
“Mesmo com as projeções positivas, uma alta mais expressiva das ações só deve ser vista no longo prazo”, conclui.