Por que mulheres devem focar em liderar novas indústrias, para Randi Zuckerberg

Empresária e investidora aconselha empreendedoras e executivas a olharem para segmentos como criptoativos, inteligência artificial e aprendizado de máquina

Mariana Fonseca

(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

Publicidade

SÃO PAULO – Incentivar meninas a mexerem com tecnologia desde cedo é fundamental para que algumas delas resolvam se tornar não apenas empreendedoras e executivas na área, mas líderes que transformarão novas indústrias. Criptoativos, inteligência artificial e aprendizado de máquina são apenas alguns dos exemplos de áreas nas quais as mulheres podem ser protagonistas antes que o gap de gênero se instale.

A análise é de Randi Zuckerberg. Irmã mais velha de Mark Zuckerberg, Randi foi uma das primeiras funcionários da rede social Facebook. Hoje, seu currículo é bem mais extenso. Empresária e investidora, Randi fundou a Zuckerberg Media, uma produtora e consultoria de marketing. A empresária tem como missão promover o aumento da presença feminina nos negócios, especialmente no setor de tecnologia.

Randi falou sobre as transformação do mercado de mídia durante a pandemia e deu ainda mais conselhos para mulheres empreendedores e executivas durante o painel “Mulheres de negócio e a tecnologia sem segredos”, na 11ª edição da Expert XP.

Continua depois da publicidade

“Alguns de vocês talvez já trabalharam em negócios familiares e sabem que pode ser incrível, mas também desafiador. Depois de dez anos, decidi seguir meus sonhos, em boa parte pelo que vi no Vale do Silício”, conta Randi.

“Eu não gostava de ser a única mulher nas salas de reunião que frequentei durante dez anos. Como você consegue administrar uma empresa global se todos ao seu redor parecem com você? Então, me dediquei a encorajar mulheres informadas ou experientes a fundarem suas empresas e alcançarem altos cargos em empresas de tecnologia. Mas como eu poderia ser uma porta-voz confiável para o empreendedorismo se eu nunca havia criado meu negócio? Era hora de trilhar meu caminho, e inspirar mulheres a fazer o mesmo.”

Todos são criadores de conteúdo

No Facebook, um dos primeiros projetos de Randi surgiu a partir um hackaton – uma espécie de concurso intenso de programação de projetos. “As pessoas trabalhavam em um sonho durante toda a noite e o apresentavam algumas horas depois, na manhã do dia seguinte. Eu mesma participei e apresentei o Facebook Live, que tinha entrevistas transmitidas ao vivo. Infelizmente, apenas meu pai e minha mãe assistiram à primeira transmissão”, conta.

Continua depois da publicidade

“Achei que seria um fracasso de projeto. Mas nas próximas semanas, tivemos celebridades, políticos e atletas pelo mundo. Quatro meses depois do hackaton, o presidente dos EUA estava usando o Facebook Live. Então, pessoas de todo o mundo. Mesmo que tenha levado dez anos para isso acontecer, me fez pensar como cada um de nós é um criador de conteúdo. Não importa sua profissão, você também é uma companhia de mídia.”

Para a empresária e investidora, todos os profissionais devem pensar em como criar conteúdo, como colaborar com outros influenciadores e como testar novos formatos, como vídeos e podcasts. “Até as indústrias tradicionais estão acordando que mídia e tecnologia devem se unir para conteúdo sobreviver. Cinemas antes tinham o luxo de não ter nada a ver com tecnologia, porque o negócio ia bem. Hoje, a situação é diferente.”

Ensinar tecnologia, especialmente para mulheres

Randi também afirma que os tempos de pandemia trouxeram desafios para empresas, consumidores, educadores e até mesmo pais quanto à interação com a tecnologia.

Continua depois da publicidade

“As mídias sociais precisam trabalhar mais [contra as fake news], mas como consumidor também temos de nos perguntar qual a fonte da informação e se podemos verificar a informação antes de compartilhá-la e evitar que nos viremos parte do problema”, diz.

Nas escolas, a empresária e investidora afirma que professores terão de ensinar como encontrar fake news e como ser um consumidor mais bem informado. Já os pais tiveram de permitir que seus filhos usem telas, e com isso veio a reflexão sobre a inserção da tecnologia no dia a dia.

“O último ano mudou tudo para os pais. Na minha própria família, fui de permitir pouco tempo de tela até vê-los dez horas por dia tendo aulas pelo Zoom. Meu filho mais velho, com dez anos de idade, estava com acesso à internet sem supervisão. Eu nunca teria deixado isso acontecer, mas estava supervisionando também em casa outro filho de cinco anos e um bebê. Então os pais estão reavaliando o papel da tecnologia nas nossas vidas”, conta Randi.

Continua depois da publicidade

Pais e mães devem conectar as crianças com a tecnologia, na visão de empresária e investidora. “Os pais pensam logo em colocar a criança na frente de uma tela. Mas há diversas maneiras de conectar crianças com a tecnologia sem ser por uma tela: projetos maker e de robótica são alguns exemplos.”

O esforço deve ser ainda maior no caso das meninas. Randi fez um estudo sobre em qual idade mulheres começam a se desviar do setor de tecnologia e de áreas como ciências e matemáticas. Achava que o desvio acontecia perto da idade adulta – mas estava enganada.

“Eu descobri que isso acontece aos nove anos de idade. A pressão social começa a acontecer e elas acreditam que essas áreas são para homens, ou que elas não são boas o suficiente. Então, é importante incentivá-las desde cedo. Se não, vamos perdê-las antes mesmo que elas descubram que esse fantástico mundo também existe para elas”, diz.

Continua depois da publicidade

Mulheres na liderança de novas indústrias

E se essas mulheres já são profissionais? “O melhor momento para ter aprendido algo novo é há 20 anos. O segundo melhor momento é agora. (…) Enquanto você for curioso sobre o mundo, você pode aprender e se beneficiar dessas novas indústrias”, aconselha Randi.

A empresária e investidora também afirma que as novas interessadas por tecnologia devem parar de focar na recuperação de sua participação em indústrias dominadas por homens: existem diversas áreas na tecnologia que precisam ser construídas do zero.

“E se a gente olhasse para indústrias que os homens não dominam e levantá-las? Cripto, inteligência artificial e machine learning [aprendizado de máquina] são algumas indústrias muito animadoras, e as mulheres podem construí-las do zero. Caso contrário, depois de dez anos vamos continuar conversando sobre como as mulheres podem alcançar os homens.”

Nessa jornada, Randi aconselha juntar-se com iguais. “Quando homens dizem coisas boas sobre si mesmas, são percebidos como confiantes. Já as mulheres são vistas como arrogantes. Então, junte-se a mulheres que compartilham suas conquistam e que levantam umas às outras. Ter me cercado de mentoras incríveis foi uma das coisas mais importante para minha carreira.”

As melhores recomendações de investimentos por 30 dias grátis: conheça o Expert Pass.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.